Hoje, dia 23 de novembro, abre para visitação a mostra Saberes Naturais Brasileiros, que fica em cartaz no Centro Cultural Correios (Praça Pedro Lessa, s/n – Vale do Anhangabaú) até o dia 11 de dezembro. A exposição une 50 obras de sete artistas confeccionadas a partir de produtos naturais, como barro, fibras vegetais, madeira, sementes, entre outros.
A curadoria é de Ivor Carvalho, com cenografia de Renato Brancato e Tuca Ferreira e coordenação de produção de Felipe Cavalheiro. O Patrocínio Cultural é da Nutrify, marca da Integralmédica.
Saberes Naturais Brasileiros traz ao público uma estrutura pensada para explorar diversas relações sensoriais com a arte. Sons, cheiros e texturas conduzem o público a vivenciar experiências sinestésicas. A cenografia foi confeccionada com materiais que criam um ambiente lúdico de floresta e jardim, em instalações repletas de plantas e elementos característicos dos espaços em que foram geradas as matérias-primas dos trabalhos apresentados.
“Desenvolvemos um ambiente em que os trabalhos artísticos dos artesãos pudessem ser ampliados pela estrutura que os comporta e os completa, por meio da exuberância de plantas e elementos naturais, criando instalações orgânicas”, diz o curador Ivor Carvalho.
Os artistas que integram a exposição são Jaime Nicola-PE, Juão de Fibra-GO, Maria do Carmo (Mestre Neguinha)-PE, Monique (Central Veredas)-MG, Marcos Jesus-SP, Luiz Bernardes-SC e Zélia Damasceno (Poloprobio)-PR.
Ivor reforça que a mostra tem o objetivo de propor uma discussão sobre o limite entre arte e artesanato e, também, sobre como o paisagismo inserido num projeto cenográfico cria instalações que possam ser caracterizados como verdadeiras obras de arte.
“A mostra visa elucidar essas importantes questões e prover uma resposta retórica, visto que o artesanato é por definição uma manifestação artística (arte e técnica do trabalho manual não industrializado) e, quanto ao paisagismo natural, sabe-se que grandes jardins sempre foram uma inspiração, além de material para obras de grandes artistas e demonstração de riqueza, poder e status de seus proprietários”, complementa Ivor.
Sobre os artistas
João de Fibra
Conhecido como Juão de Fibra, João Gomes é reconhecido no estado de Goiás como Mestre Artesão de Referência Cultural por ser um verdadeiro artista capaz de tramar com maestria, delicadeza precisão e autenticidade as fibras brasileiras. O seu trabalho ganha cada dia mais destaque nacionalmente pelo caráter autoral, inventivo e de alta qualidade que produzido por ele em parceria com um grupo familiar. Mais do que isso, Juão de Fibra é mestre compartilhar seus saberes e suas técnicas com diversos grupos de Goiás e outros estados em seu trabalho como instrutor do SENAR AR/DF. Nascido na década de 70 no interior do Ceará, filho de pai pescador e mãe artesã, aos 13 anos de idade João Gomes já se arriscava no trançar de suas primeiras peças que retratavam a natureza da caatinga. Já em Brasília, teve como inspiração as criações de outra artesã, Dona Antônia Lopes de Oliveira, que foi a precursora do trabalho com as fibras do cerrado. Hoje, em seus cursos, o mestre atua com as mais diversas fibras aquáticas, terrestres ou aéreas, utilizando-se sempre da matéria-prima com maior disponibilidade nas comunidades onde atua se valendo do manejo sustentável e da busca pela resiliência.
Maria do Carmo (Neguinha)
Mestre Neguinha é Maria do Carmo dos Santos, nascida no barro, em 1961, em Belo Jardim, Pernambuco. Filha, neta e bisneta de louceiras, seu trabalho de tradição familiar transforma o barro nas mais variadas peças. Primeiro eram as panelas tradicionais, depois suas mãos brincando de criar formas chegaram nos tamanduás. Mais tarde, Neguinha começou a fazer Santos católicos, como São Francisco e Frei Damião, além de peças utilitárias e de decoração como travessas, galinhas, entre outros animais.
Jaime Nicola
A trajetória percorrida por Mestre Nicola confirmou seu chamado para a Arte Sacra. O escultor autodidata, conhecido como “fazedor de anjos” considera-se, modestamente, um operário da arte. Influenciado pelo estilo barroco pernambucano, transformando matéria prima bruta em obra de arte, Nicola é autor de uma obra escultórica sacra singular, preenchida predominantemente por anjos, santos e cabeças – em referência criativa aos ex-votos (objetos ofertados aos santos pelos fiéis pelas graças alcançadas). Imprime em seu trabalho marcas de apuro estético e domínio técnico nas mais diversas matérias-primas: madeira, pedra calcária, granito, pedra sabão, concreto e marfim.
Monique (Central Veredas)
A Central Veredas acredita que a vida deva ser rodeada de afeto, que o que nos circunda no dia-a-dia devem ser histórias e boas memórias para contar. As peças produzidas pela Central são elementos que contam sua trajetória, modo de vida e o que acreditam. Uma vida, sobretudo com um consumo mais consciente, é a sua proposta, assim como um novo olhar para o artesanato, para seus fazeres e saberes.
Zélia Damasceno (Poloprobio)
O Poloprobio é uma instituição que trabalha com produtores de látex nativo em toda a Amazônia e com a produção de encauchados de vegetais, uma técnica que permite aos seringueiros vulcanizar o látex à campo e produzir artefatos de borracha vulcanizada. Atua na área de desenvolvimento sustentado, pois conjuga ações transversais entre desenvolvimento econômico, meio-ambiente, desenvolvimento comunitário e arte e cultura. O foco sempre foi o empoderamento dos produtores daquilo que resultou da desconstrução das tecnologias industriais. Isso representa dizer que o conhecimento técnico foi adaptado para ser utilizado pelas comunidades tradicionais e indígenas em suas formas convencionais de atuação. Assim, os encauchados de vegetais são apenas a vulcanização do látex de forma a ser usado diretamente pelos seringueiros para obter um produto acabado em suas comunidades. Este pensamento tem como foco a eliminação de etapas de processamento e da industrialização propriamente dita. Para se chegar ao formato em que se encontra na presente data, a tecnologia social dos encauchados passou por várias etapas, desde a simples aplicação do látex em mantas de tecidos até a produção do composto látex/micro fibra vegetal.
Marcos Jesus
Marcos Jesus, desde sua infância, morando no bairro de Itaquera na cidade São Paulo, construía brinquedos com resto de madeira das construções, como carrinhos de rolimã, patinetes e carrinhos de feira, que eram muito utilizados nas décadas de 70 e 80. Com passar dos anos, passou a fazer pequenas peças em madeira como fruteira de mesa, potes e pratos, sempre utilizando madeira de construção e aproveitado troncos de árvores caídas após os temporais, sempre preservado suas cores naturais e realçando com resinas como cera de carnaúba e cera real. Após casar-se em 1993 e mudar-se para Guarulhos, passou a confeccionar artefatos em madeira como um hobby, em estilo fragmentado e maciço, sendo peças únicas de personalidades próprias, pois toda madeira tem uma personalidade única e uma peça nem sempre é igual a outra.
Luiz Bernardes
Luiz Bernardes – 66 anos, é de Blumenau (Santa Catarina). Artista plástico e designer, já participou de exposições individuais e coletivas regionais, nacionais e internacionais. Foi escolhido pela revista Casa e Jardim como um dos 20 nomes do Brasil na arte de decoração em edições especiais comemorativas aos seus 43 e 45 anos de edição. Suas peças já foram expostas tanto no Brasil quanto no exterior.
Serviço
Exposição Saberes Naturais Brasileiros
Local: Centro Cultural Correios
Endereço: Praça Pedro Lessa, s/n – Vale do Anhangabaú)
Abertura: 23 de novembro de 2020, segunda feira, 10h
Período: Até 11 de dezembro de 2020. Segunda à sexta-feira, das 10h às 17h
Ingresso: gratuito. Classificação livre.