Expressões populares no Brasil e que se utilizam de partes do corpo humano em metáforas como “nó na garganta”, “cara de pau”, “olho do furacão”, “das tripas coração”, “de braços cruzados”, “empurrar com a barriga”, entre dezenas de outras, são a inspiração da instalação inédita Com o coração saindo pela boca, do artista brasileiro Jonathas de Andrade (1982, Maceió, AL) para o Pavilhão do Brasil na 59ª Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia, que abre no sábado 23 de abril e segue até 27 de novembro. “Esta mostra comissionada a Jonathas de Andrade parte de peculiaridades da linguagem brasileira para abordar questões universais, criando imagens com as quais a diversidade de visitantes deste evento internacional poderão se identificar. Com esta exposição, reforçamos nossa missão de fomentar a arte brasileira e levar o que há de mais pulsante da produção artística de nosso país para os diversos cantos do mundo”, explica José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Considerado um dos artistas brasileiros mais representativos de sua geração, Jonathas de Andrade concebeu o projeto a partir do convite de Jacopo Crivelli Visconti (curador também da 34ª Bienal – Faz escuro mas eu canto, realizada em 2020/2021), apontado pela Fundação Bienal como curador da representação brasileira na bienal mais antiga do mundo. A proposta para o Pavilhão do Brasil parte do profundo interesse do artista por refletir sobre a formação e as idiossincrasias do povo brasileiro, considerando episódios e processos históricos. “Existem centenas de expressões populares com partes do corpo para descrever sentimentos e situações. Elas envolvem literalidade e absurdo para dar conta da subjetividade, o que para o momento do Brasil, é muito revelador. Usar essas expressões para falar da perplexidade do corpo brasileiro diante do presente em tantas instâncias – política, social, ecológica – me parece muito potente. As expressões desta coleção compõem bem este panorama emocional nacional, por exemplo ‘entrar por um ouvido e sair pelo outro’ e ‘de partir o coração’”, explica o artista.
A exposição é composta por impressões fotográficas, esculturas (algumas delas interativas) e um vídeo, e tem entre suas referências as feiras de ciência que o artista conheceu quando criança, em particular a experiência de visitar a boneca Eva (uma gigantesca boneca de 45 metros de fibra e espuma que rodou o país nos anos 1980, na qual o público podia entrar para conhecer o funcionamento do corpo humano). “O caminho para representar o Brasil, ou talvez apenas aludir a ele, hoje, passa inevitavelmente pelo corpo de quem vive na pele e na carne, cotidianamente, as dificuldades, as violências e as injustiças que se repetem, ano após ano, década após década, século após século. Um corpo literal e repetidamente fragmentado, silenciado, ignorado, despedaçado. Mas essas partes isoladas e objetificadas de corpo também o transcendem, ao introduzir o outro elemento estruturante da exposição: a linguagem”, afirma Crivelli Visconti.
Com curadoria de Cecilia Alemani, a Biennale Arte 2022 retira seu título do livro The Milk of Dreams [O leite dos sonhos] da artista surrealista Leonora Carrington (1917, Reino Unido – 2011, México). Para Alemani, “a artista descreve um mundo mágico em que a vida é constantemente repensada através do prisma da imaginação, e onde todos podem mudar, ser transformados, tornar-se outra coisa e outra pessoa. A exposição nos leva a uma jornada imaginária pelas metamorfoses do corpo e das definições de humanidade.”
Participação brasileira
A prerrogativa da Fundação Bienal de São Paulo na realização da representação oficial do Brasil na 59ª Mostra Internacional de Arte da Bienal de Veneza é fruto de uma parceria com a Secretaria Especial da Cultura, responsável pelo desenvolvimento da política de intercâmbio cultural do país. As participações brasileiras nas Bienais de Arte e Arquitetura de Veneza ocorrem no Pavilhão do Brasil, construído em 1964 a partir de um projeto de Henrique Mindlin e mantido pelo Ministério das Relações Exteriores.
Livro de ensaios Bienal de São Paulo desde 1951
A Bienal de São Paulo, a segunda mais antiga do mundo (atrás apenas da Bienal de Veneza), está em fase comemorativa: ano passado, completaram-se 70 anos de realização da exposição (em 2023 será realizada a 35ª Bienal de São Paulo, conheça abaixo os curadores da próxima edição) e, neste ano, são celebrados 60 anos da Fundação Bienal.
Como parte das comemorações, a Fundação Bienal de São Paulo lançou em março o livro de ensaios Bienal de São Paulo desde 1951, organizado por Paulo Miyada, que foi curador-adjunto da 34ª Bienal – Faz escuro mas eu canto. Colaboraram com a obra pesquisadores, críticos e artistas de formação diversa. Cada autor abordou um momento da história das bienais de modo ensaístico e crítico. Além dos textos, o livro conta ainda com uma pesquisa elaborada de imagens, muitas delas inéditas, colhidas do Arquivo Wanda Svevo, da própria Fundação Bienal e de outras fontes. O livro será lançado em inglês durante a 59ª Biennale.
SERVIÇO
Pavilhão do Brasil na 59ª Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia
Comissário: José Olympio da Veiga Pereira, Presidente da Fundação Bienal de São Paulo
Curadoria: Jacopo Crivelli Visconti
Participante: Jonathas de Andrade
Local: Pavilhão do Brasil
Endereço: Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália
Data: 23 de abril a 27 de novembro de 2022
Lançamento do livro de ensaios Bienal de São Paulo desde 1951 : a confirmar