A aproximação do Grupo Sobrevento com a cultura persa aconteceu em 2010, quando foram convidados para um dos maiores Festivais de Teatro do mundo, o Fajr Festival (Festival Liberdade). Sandra Vargas e Luiz André Cherubini, fundadores e diretores, se surpreenderam com a potência da cultura local e as conexões com a cultura brasileira. Pérsia, trabalho que faz temporada no mês de julho no Espaço Sobrevento, traz para a cena esse olhar para aproximar as duas culturas, especialmente nos campos do Teatro e da Música. Os ingressos são gratuitos e podem ser reservados pelo email: info@sobrevento.com.br ou pelo WhatsApp: (11) 966258215.
“Nessa viagem conhecemos a vitalidade do teatro naquele país, com uma cultura milenar de origem persa, que brilha em cada canto da cidade: no hotel que tem nome de poeta, na poesia que está na boca das pessoas, nos milhares de jovens na praça diante do centro cultural, nas longas filas para os teatros, na produção de conhecimento histórico e artístico dos já antigos cursos de Teatro e de Teatro de Bonecos (e de Música internacional e de Música tradicional iraniana) da Universidade de Teerã, na alma artística, culta, esperançosa e ansiosa por liberdade de todo um povo”, dizem os diretores.
“De maneira delicada e respeitosa, três atrizes e três atores narram fatos vividos pelos imigrantes iranianos tanto na sua terra distante e saudosa como na sua vivência como estrangeiros numa terra “aparentemente” amistosa e livre como o Brasil.” (Palco Paulistano, José Cetra)
Para criar esse elo possível entre os dois países, a longa pesquisa do grupo ouviu imigrantes iranianos que chegaram ao Brasil em diferentes épocas. “A dramaturgia surgiu a partir desses depoimentos e também de depoimentos do elenco”, diz Sandra, que assina a dramaturgia.
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A poesia resultante de relatos muitas vezes dolorosos é um dos grandes méritos da presente encenação do Sobrevento. Só mais um porque o espetáculo tem muitos: desde os deslumbrantes figurinos do estilista João Pimenta, passando pelo significativo cenário já citado de autoria de Luiz André Cherubini e Mandy, pelos poucos, mas importantíssimos, objetos utilizados em cena (casinhas com significados fundamentais para a trama), pelos sons criados pelos originais instrumentos musicais (direção musical de William Guedes) e pelo harmonioso e talentoso elenco. (Palco Paulistano, José Cetra)
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O texto revela anseios comuns de liberdade, de comunhão e de alegria. A música está presente ao longo do espetáculo e a pesquisa também apontou diversas aproximações entre as manifestações dos dois países. “Nós buscamos orientação de músicos iranianos em várias áreas, usamos instrumentos persas e brasileiros. E o espetáculo busca conexões por meio dessas pontes, tanto fazendo música brasileira tocada com esses instrumentos persas, quanto fazendo música persa tocada com instrumentos brasileiros”, diz Luiz André Cherubini. “Às vezes, temos a impressão de que a música persa é muito exótica, mas temos a mesma relação com ela, com a poesia”, completa.
Para os diretores, o Irã, mesmo sob um regime autoritário, preserva uma bagagem cultural enorme que o país tem, ao culto da poesia, da arte. Apesar da tensão, a violência não entrou dentro de casa. “O mote do espetáculo é esse, nós percebemos que a direita avançou muito no Brasil nos últimos anos, amparada pelo fundamentalismo, mas nós também temos a arte, a cultura forte dentro de nós”, diz Sandra.
Sobre Pérsia
Em uma atmosfera mais íntima, o espaço teatral está configurado em uma arena, com um cenário mais árido apenas uma árvore seca – representa um deserto, um sertão. Os figurinos de João Pimenta – premiado estilista que é parceiro do grupo há quase dez anos – carregam elementos de ambas as culturas.
A dramaturgia conta as histórias de iranianos que precisaram deixar seu país, por diferentes motivos, e encontraram no Brasil um novo lar: são personagens que, como aves migratórias, atravessam continentes em busca de novas paisagens, confessam seus medos, seus sonhos, suas aflições, em palavras ditas e cantadas.
“Mahmooni me disse que o Irã tem uma história
antiga maravilhosa e que gostaria de estar morando lá, mas com liberdade.
Ela saiu de lá para cantar exercer a sua arte. Preferia estar junto com seu povo, cantar
junto e para o seu povo.
Ela me disse. Eu nasci lá, Eu vivi lá, cresci lá, fui criada lá. Sinto falta da neve do Irã,
das ruas onde eu andava, das ruas onde eu brincava… das montanhas…”
(Trecho de dramaturgia de Pérsia)
Ao longo do espetáculo, os atores e as atrizes preenchem o deserto de suas memórias com pequenas casas, que lembram casas de passarinhos, e criam pequenos mundos: podem ser um bairro, uma cidade ou um país. É o único objeto em cena e evoca as tantas moradas que deixaram para trás e ainda carregam consigo.
“Eu estive no Irã em 2010. Na casa de um poeta. A sua filha , uma amiga atriz
nos convidou para ir jantar na casa dela. Fomos de ônibus, lá as mulheres viajam na
parte de trás e os homens na frente. Quando chegamos na casa dela. Quando entramos
na casa , a primeira coisa fez foi tirar o véu. A mãe estava sentada num sofá. Foi o pai
e as filhas que preparam o jantar. Colocaram a toalha de mesa no chão e serviram a
comida.”
(Trecho dramaturgia de Pérsia)
GRUPO SOBREVENTO
O Grupo Sobrevento nasceu em 1985 e tem mais de 25 peças montadas e apresentadas no Brasil e em diversos países. Nessas décadas de atuação, consolidou-se, nacional e internacionalmente, como um dos mais destacados especialistas em Teatro de Animação e de Objetos.
Inquieto, arrisca-se constantemente em pesquisas insuspeitas e pioneiras, que ajudam a criar diversidade no fazer teatral, a valorizar o Teatro de Animação sob diferentes formas, a difundir um Teatro de Bonecos e Objetos para adultos e um Teatro para a primeira Infância e a descentralizar a produção artística no Brasil e no mundo.
FICHA TÉCNICA
Criação: Grupo Sobrevento
Direção: Sandra Vargas e Luiz André Cherubini
Dramaturgia: Sandra Vargas (a partir de depoimentos recolhidos junto a imigrantes iranianos e aos atores)
Canção “Fez-se Água”: Daniel Viana
Elenco: Sandra Vargas, Luiz André Cherubini, Maurício Santana, Thais Pimpão, Liana Yuri e Daniel Viana
Iluminação: Renato Machado
Figurino: João Pimenta (estilista) | Danielle Kina (assistente) | Neide Brito, Noel Alves e Magna Almeida Neto (piloteiros) | Marcia Almeida (contra mestre)
Cenografia: Luiz André Cherubini e Mandy
Cenotecnia: Agnaldo Souza e Mandy
Pintura Foyer: Luiz André Cherubini, Leandro Triviño e Agnaldo Souza
Adereços: Sueli Andrade e Liana Yuri
Letras e Adaptação das canções: Luiz André Cherubini
Direção Musical: William Guedes
Supervisão Música Persa: Arash Azadeh
Orientação Tambur: Elnaz Mafakheri
Orientação de sorna e dozaleh: Ehsan Abdipour e Kaveh Savarian
Orientação Viola: Márcio de Camillo
Estagiários: Leandro Triviño e Rafael Carmo
Técnico de Som: Agnaldo Souza
Técnico de Iluminação: Marcelo Amaral
Registro em vídeo dos ensaios: Milena Moura
Assessoria de Imprensa: Márcia Marques – Canal Aberto
Serviço
Até 30 de julho de 2023
Sextas, 20h30; Sábados e domingos, 18h e 20h30
Espaço Sobrevento – Rua Coronel Albino Bairão, 42 – Metrô Bresser, São Paulo, SP.
Gratuito | Reservas de ingressos pelo e-mail: info@sobrevento.com.br e no WhatsApp: 11 966258215 – a bilheteria abre com 1h de antecedência
Recomendação: 14 anos | Duração: 60min