No ano passado, o número de sinistros nas rodovias federais brasileiras aumentou 5%, o que resultou também no aumento do número de mortos (3%) e feridos (7%). Uma análise cuidadosa sobre os dados fornecidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) revela que a letalidade dos acidentes vem aumentando ano a ano, desde 2007, quando o Brasil registrava 1 morte a cada 19 sinistros (127.671 sinistros e 6.742 mortes). No ano passado, essa proporção caiu para um óbito a cada 12 acidentes (67.658 sinistros e 5.621 mortes), um aumento preocupante.
Na avaliação de especialistas em Psicologia do Trânsito e Segurança Viária, esses números reforçam a urgência de abordar a saúde mental dos motoristas como um componente vital para reduzir a incidência de mortes e sinistros. Carlos Luiz Souza, psicólogo especializado em Psicologia do Trânsito e vice-presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG), explica que a violência no trânsito está diretamente ligada à impaciência e aos conflitos internos que cada um de nós enfrenta. “O excesso de tarefas e atribuições, a falta de tempo, o excesso de informações e os longos períodos que as pessoas passam no trânsito em deslocamentos diários contribuem para deixar os motoristas mais impacientes e irritados. Essa deterioração da saúde mental impacta o trânsito de uma maneira contundente”, comenta.
Motoristas brasileiros estão mais imprudentes / Freepik
Segundo Souza, a irritação leva à imprudência e ao cometimento de infrações como o avanço de semáforo e excesso de velocidade. “Esses comportamentos estão diretamente relacionados ao aumento de sinistros e de mortes. A maior ocorrência de infrações por excesso de velocidade, conforme já noticiado na imprensa, está ligada à letalidade dessas ocorrências. A ciência já mostrou que as chances de sobrevivência de uma pessoa diminuem à medida em que se aumenta a velocidade dos veículos envolvidos em um acidente”, comenta o psicólogo.
Atenção e cuidado
A psicóloga especialista em Trânsito e presidente da ACTRANS-MG, Adalgisa Aparecida Guimarães Pereira, ressalta que o estigma e o descaso com a saúde mental no Brasil são fatores que contribuem para o aumento gradativo das mortes no trânsito.
Essa conclusão fica evidente quando se analisa o ranking feito pela Polícia Rodoviária Federal com as principais causas de sinistros no primeiro trimestre de 2024. As cinco principais causas são a reação tardia ou ineficiente do condutor; a ausência de reação; acessar a via sem observar a presença dos outros veículos; velocidade incompatível e deixar de manter distância do veículo da frente. “O comprometimento da saúde mental afeta diretamente a capacidade de tomar decisões, manter a atenção e o controle emocional. Isso pode levar a comportamentos de risco, como agressividade e desobediência às regras”, completa Adalgisa.
Maio Amarelo
Na avaliação dos especialistas, a segurança no trânsito só melhorará se encararmos o problema de forma multidisciplinar, conjunta e abrangente, com o envolvimento de toda sociedade. “A Educação para o Trânsito deve começar na pré-escola e é indispensável cuidar da saúde dos condutores de forma adequada. Sem cuidar da educação e saúde de todos os envolvidos no sistema nacional de trânsito, estaremos fadados ao fracasso nas políticas públicas para um trânsito seguro”, resume Souza.