Domingo, 17 de novembro, é celebrado o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trânsito. A data, criada pela ONU em 1995, serve para lembrar não apenas as vítimas diretas de acidentes de trânsito, mas também seus familiares e amigos. Na avaliação de Adalgisa Lopes e Carlos Luiz Souza, psicólogos especializados em Trânsito e especialistas em segurança viária, falar sobre a reação de dor e sofrimento que os acidentes provocam tem o potencial de gerar reflexões, causar indignação e impulsionar a mudança de comportamento, além de reforçar a urgência em adotar políticas públicas mais eficazes para salvar vidas no trânsito.
Segundo Adalgisa, presidente da Associação de Clínicas de Trânsito de Minas Gerais (ACTRANS-MG), apesar de o Brasil ocupar o terceiro colocado no ranking mundial de mortes no trânsito, enfrenta o desafio da banalização da violência nas ruas, onde tragédias diárias se tornam parte da rotina, sem gerar a indignação e mobilização necessárias para a mudança. Segundo ela, essa apatia social é um dos principais obstáculos na luta contra a violência no trânsito. “A sociedade não se indigna ou se revolta com notícias de acidentes de trânsito. Isso já faz parte do cotidiano. Sem mobilização, não há mudança”, detalha.
Carlos Luiz Souza, vice-presidente da ACTRANS-MG, reforça o impacto devastador dos acidentes de trânsito, que se estende para além das vítimas diretas. “Os desdobramentos de um acidente com vítimas fatais alcançam familiares e amigos, causando traumas, dificuldades financeiras e impactos psicológicos duradouros. Os reflexos são sentidos em vários aspectos das vidas dessas pessoas, inclusive no profissional e financeiro”, explica.
Vulnerabilidade amplificada
Mesmo nos casos sem óbitos, os longos períodos de recuperação, sequelas e processos burocráticos impõem um pesado fardo, especialmente para pessoas de baixa renda. “Elas são as maiores vítimas e as mais afetadas pelas consequências avassaladoras dos acidentes de trânsito”, pondera o especialista.
Souza cita dados do Ministério da Saúde analisados pelo IPEA que revelam um aumento de 13,5% no número absoluto de mortes no trânsito entre 2010 e 2019, totalizando 392 mil vítimas. O estudo demonstra a vulnerabilidade da população de baixa renda, que concentra 60% das mortes, frequentemente associadas a fatores como manutenção precária de veículos, falta de habilitação e equipamentos de segurança, além da maior utilização de motocicletas, veículos mais vulneráveis no trânsito.
Tragédias diárias não geram a mobilização necessária para a mudança
Sem surtir efeito
O psicólogo aponta a efemeridade do impacto de campanhas de conscientização e reforça a necessidade de uma discussão ampla e contínua sobre as políticas de prevenção. “A implementação do novo Código de Trânsito em 1997 e da Lei Seca em 2008, por exemplo, gerou reduções significativas nos acidentes, mas o efeito foi temporário. Após a efervescência de cada momento, houve uma retomada gradual nos registros em função de certo relaxamento natural, tanto por parte da população, quanto por parte das instituições”, analisa Souza.
Na avaliação dos especialistas, o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trânsito deve servir como um apelo à sociedade e ao poder público para que a violência no trânsito não seja normalizada. “É preciso ir além das campanhas pontuais e investir em educação, fiscalização e políticas públicas permanentes que promovam uma mudança real de comportamento e protejam vidas nas ruas e estradas do país”, completa Adalgisa.