Em 22 de dezembro de 1808, no emblemático Theater an der Wien, em Viena, a música do compositor alemão Ludwig van Beethoven [1770-1827] foi ouvida ao longo de quase quatro horas seguidas. Na primeira parte deste concerto estrearam mundialmente a Sinfonia nº 6 – Pastoral e o Concerto nº 4, com o próprio Beethoven como solista, e foram interpretadas a ária Ah! Perfido, para soprano e orquestra, e o “Glória” de sua Missa em Dó Maior. Na segunda parte do evento, o público escutou pela primeira vez a Sinfonia nº 5 e a Fantasia Coral, para piano e solistas, além do “Sanctus”, também da Missa em Dó Maior, e um improviso pianístico.
Sob a regência de seu Diretor Musical e Regente Titular, Thierry Fischer, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp recria nesta semana, na Beethoven-Fest, esse marco da história da música: na quinta (14/dez) e na sexta-feira (15/dez), às 20h30, serão ouvidas as duas partes do programa original, uma em cada noite; já no sábado (16/dez), às 17h e às 20h30, duas formações orquestrais distintas vão reconstruir integralmente a lendária performance de 215 anos atrás, considerada por muitos “o maior concerto de todos os tempos”.
Vale lembrar que os ingressos para todos os dias já estão esgotados, mas as duas apresentações de sábado (16), às 17h e às 20h30, serão transmitidas ao vivo pelo canal oficial da Osesp no YouTube.
O longo concerto daquela fria quinta-feira de 22 de dezembro ficou célebre por uma série de razões: a importância histórica das obras ali apresentadas (Beethoven anunciou todas elas como inéditas, embora algumas, como o Quarto Concerto para Piano, já tivessem sido ouvidas em reuniões privadas); a reação dividida dos ouvintes, muitos deles amigos de Beethoven (o compositor Johann Reichardt [1752-1814] chegou a dizer que o concerto teria demonstrado ser possível “sofrer pelo excesso de coisas boas, ainda mais se elas são tão poderosas”); as críticas publicadas na imprensa (o histórico jornal Allgemeine musikalische Zeitung chegou à conclusão de que “julgar todas essas peças após uma única audição, especialmente considerando a linguagem das obras de Beethoven, sendo a maioria delas tão grandes e longas, é absolutamente impossível”); e, finalmente, a controvérsia sobre o sentido de eventuais mensagens de cunho político (os ideais revolucionários se espalhavam pela Europa e as Guerras Napoleônicas [1803-15] estavam na ordem do dia) reconhecidas pelo público nas obras compostas para a ocasião.
Para o filósofo – também alemão – Theodor Adorno [1903-69], a relação de Beethoven com o seu tempo deveria ser interpretada, mais do que à luz de sua biografia ou dos relatos de seus contemporâneos, a partir dos conflitos e tensões presentes na configuração original de suas composições: a própria forma das obras seria capaz de revelar, para ouvidos atentos, o substrato histórico ali sedimentado. Dialogando a cada compasso com os problemas de sua época, Beethoven responderia musicalmente aos desafios históricos daquela época, já presentes no “trabalho de composição” necessário para a criação de suas obras, que seriam “revolucionárias” em um duplo sentido: artístico e político. Por isso, quando Adorno discute o “caráter revolucionário burguês” intrínseco à música de Beethoven, ele insiste: “Vamos refletir sobre Beethoven. Se ele já é o protótipo da burguesia revolucionária, é ao mesmo tempo o protótipo de uma música inteiramente autônoma do ponto de vista estético, uma música que escapou da tutela social, que não é mais servil.
O programa Beethoven-Fest tem o copatrocínio do Bradesco, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Realização: Fundação Osesp, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Ministério da Cultura e Governo Federal – União e Reconstrução.
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp
Fundada em 1954, desde 2005 é administrada pela Fundação Osesp. Thierry Fischer tornou-se Diretor Musical e Regente Titular em 2020, tendo sido precedido, de 2012 a 2019, por Marin Alsop, que agora é Regente de Honra. Seus antecessores foram Yan Pascal Tortelier, John Neschling, Eleazar de Carvalho, Bruno Roccella e Souza Lima. Em 2016, a Orquestra esteve nos principais festivais da Europa e, em 2019, realizou turnê na China. Em 2018, a gravação das Sinfonias de Villa-Lobos, regidas por Isaac Karabtchevsky, recebeu o Grande Prêmio da Revista Concerto e o Prêmio da Música Brasileira. Em outubro de 2022, a Osesp — Orquestra e Coro — estreou no Carnegie Hall, em Nova York, realizando dois programas — o primeiro como convidada da série oficial de assinaturas da casa, o segundo com o elogiado projeto “Floresta Villa-Lobos”. Na Temporada 2024, a orquestra celebrará 70 anos de história com programação especial e a realização de uma turnê internacional.
Thierry Fischer
Desde 2020, Thierry Fischer é diretor musical da Osesp, cargo que também assumiu em setembro de 2022 na Orquestra Sinfônica de Castilla y León, na Espanha. De 2009 a junho de 2023, atuou como diretor artístico da Sinfônica de Utah, da qual se tornou diretor artístico emérito. Foi principal regente convidado da Filarmônica de Seul [2017-20] e regente titular (agora convidado honorário) da Filarmônica de Nagoya [2008-11]. Já regeu orquestras como a Royal Philharmonic, a Filarmônica de Londres, as Sinfônicas da BBC, de Boston e Cincinnatti e a Orchestre de la Suisse Romande. Também esteve à frente de grupos como a Orquestra de Câmara da Europa, a London Sinfonietta e o Ensemble Intercontemporain. Thierry Fischer iniciou a carreira como Primeira Flauta em Hamburgo e na Ópera de Zurique. Gravou com a Sinfônica de Utah, pelo selo Hyperion, Des Canyons aux Étoiles [Dos Cânions às Estrelas], de Olivier Messiaen, selecionado pelo prêmio Gramophone 2023, na categoria orquestral. Na Temporada 2024, embarca junto à Osesp para uma turnê internacional em comemoração aos 70 anos da Orquestra.
Coro da Osesp
Criado em 1994, o grupo aborda diferentes períodos e estilos, com ênfase nos séculos XX e XXI e nas criações de compositores brasileiros. Gravou álbuns pelo Selo Digital Osesp, Biscoito Fino e Naxos. Entre 1995 e 2015, teve Naomi Munakata como Coordenadora e Regente. De 2017 a 2019, a italiana Valentina Peleggi assumiu a regência, tendo William Coelho como Maestro Preparador — posição que ele mantém desde então. Em 2020, o Coro se apresentou no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, sob regência de Marin Alsop, repetindo o feito em 2021, em filme virtual com Yo-Yo Ma e artistas de outros sete países. Em 2022, fez turnê com a Osesp nos Estados Unidos, apresentando-se, novamente liderados por Alsop, no Music Center at Strathmore, em North Bethesda, e em dois concertos no Carnegie Hall, em Nova York.
Coro Acadêmico da Osesp
Criado em 2013 com o objetivo de formar profissionalmente jovens cantores, o Coro Acadêmico da Osesp é composto pelos alunos da Classe de Canto da Academia de Música da Osesp, sob direção do maestro Marcos Thadeu. Oferece experiência de prática coral, conhecimento de repertório sinfônico para coro e orientação em técnica vocal, prosódia e dicção, além da vivência no cotidiano de um coro profissional, fazendo apresentações regulares junto ao Coro da Osesp. Em 2021, a Classe foi reconhecida pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo como Curso Técnico Profissionalizante em Canto. Os alunos que concluem a formação passam então a receber um Certificado Técnico Profissionalizante, válido em todo o território nacional.
Louis Schwizgebel
Schwizgebel nasceu em 1987, em Genebra. Aos dezessete anos, venceu o Concurso Internacional de Música de sua cidade natal e, dois anos depois, a Young Concert Artists International Auditions, em Nova York. Em 2012, conquistou o segundo lugar no Leeds International Piano Competition, e em 2013 tornou-se um Artista da Nova Geração da BBC. Já se apresentou junto a importantes orquestras como a Philharmonia, a Orquestra Nacional da França, as Sinfônicas de Richmond, Singapura, Utah, Lucerna e da Cidade de Birmingham, as Filarmônicas de Oslo e de Sacramento, a Orquestra Nacional de Metz, a Orquestra Nacional Real Escocesa, a Bournemouth Symphony e a BBC Concert Orchestra (ambas na UK). Participou dos principais festivais da Suíça, como Verbier, Lucerna e Gstaad, e da série Meisterinterpreten na Tonhalle de Zurique. Em 2014, ele fez sua estreia no BBC Proms com uma eletrizante performance televisionada do Concerto para Piano nº 1 de Prokofiev.
PROGRAMAS
TEMPORADA OSESP: BEETHOVEN-FEST
ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
CORO DA OSESP
CORO ACADÊMICO DA OSESP
THIERRY FISCHER regente
LOUIS SCHWIZGEBEL piano
CAMILA PROVENZALE soprano
ANA LUCIA BENEDETTI mezzo soprano
LUIZ GUIMARÃES tenor
JOÃO VITOR LADEIRA barítono
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia nº 6 em Fá Maior, Op. 68 – Pastoral
Ah, Perfido!, Op. 65
Missa em Dó Maior, Op. 86: Gloria
Concerto nº 4 para Piano em Sol Maior, Op. 58
TEMPORADA OSESP: BEETHOVEN-FEST
ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
CORO DA OSESP
CORO ACADÊMICO DA OSESP
THIERRY FISCHER regente
LOUIS SCHWIZGEBEL piano
CAMILA PROVENZALE soprano
ERIKA MUNIZ soprano
ANA LUCIA BENEDETTI mezzo soprano
LUIZ GUIMARÃES tenor
MIKAEL COUTINHO tenor
JOÃO VITOR LADEIRA barítono
PEDRO GADELHA contrabaixo
SÉRGIO BURGANI clarinete
ALEXANDRE SILVÉRIO fagote
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia nº 5 em Dó Menor, Op. 67
Missa em Dó Maior, Op. 86: Sanctus
Pour Elise, WoO 59
Fantasia Coral, Op. 80
SERVIÇO
14 de dezembro, quinta-feira, às 20h30
15 de dezembro, sexta-feira, às 20h30
16 de dezembro, sábado, às 17h00 e às 20h30 – Concerto Digital
Endereço: Sala São Paulo | Praça Júlio Prestes, 16
Taxa de ocupação limite: 1.484 lugares
Recomendação etária: 7 anos
Ingressos: Entre R$ 39,60 e R$ 258,00 (valores inteiros) – Esgotados
Bilheteria (INTI): neste link
(11) 3777-9721, de segunda a sexta, das 12h às 18h.
Cartões de crédito: Visa, Mastercard, American Express e Diners.
Estacionamento: R$ 28,00 (noturno e sábado à tarde) e R$ 16,00 (sábado e domingo de manhã) | 600 vagas; 20 para pessoas com deficiência; 33 para idosos.
*Estudantes, pessoas acima dos 60 anos, jovens pertencentes a famílias de baixa renda com idade de 15 a 29 anos, pessoas com deficiências e um acompanhante e servidores da educação (servidores do quadro de apoio – funcionários da secretaria e operacionais – e especialistas da Educação – coordenadores pedagógicos, diretores e supervisores – da rede pública, estadual e municipal) têm desconto de 50% nos ingressos para os concertos da Temporada Osesp na Sala São Paulo, mediante comprovação.
A Osesp e a Sala São Paulo são equipamentos do Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerenciadas pela Fundação Osesp, Organização Social da Cultura.