Roupas coloridas, gravata borboleta, cabelo desalinhado e idealizador do famoso bordão “Algodão doce para você!”. Quem foi criança entre o final da década de 1970 e o início da década de 1990 deve se lembrar do saudoso Daniel Azulay (1947-2020), artista homenageado na última exposição do ano do Museu Judaico de São Paulo. Aberta para o público a partir de 16 de dezembro, a mostra Algodão doce pra você! De férias com Daniel Azulay tem curadoria de Mariana Lorenzi e mergulha sobre a vida e a obra desse artista que coloriu a infância de muitos e deixou um impacto duradouro no panorama cultural brasileiro.
A partir de uma seleção em seu acervo pessoal, que hoje está sob a guarda de sua esposa Beth Azulay, a mostra do MUJ pretende não só resgatar a memória desse artista para seu antigo público, mas apresentar seu legado às novas gerações.
“Algumas pessoas marcam gerações e esse é o caso do Daniel Azulay. Versátil e com um carisma singular, ele se comunicava de forma transparente com seu público, não subestimando-o. Não é exagero dizer que muitos de seus seguidores começaram a desenhar assistindo aos seus programas”, diz a curadora Mariana Lorenzi.
Ao adentrar o espaço expositivo, o visitante – seja criança ou adulto – é convidado a mergulhar no universo múltiplo e estimulante de Daniel Azulay, pronto para sair de lá rabiscando e inventando personagens e histórias fantásticas.
Responsável pela criação da Turma do Lambe-Lambe, um grupo de personagens infantis que protagonizou programas de TV e quadrinhos, o artista também se provou pintor, músico, escritor, ilustrador de livros infantis, apresentador de TV e educador, dedicando grande parte de sua carreira a desenvolver arte e educação para crianças e jovens.
O fenômeno da TV
Filho caçula de uma família judia, Azulay já mostrava sua irreverência quando pedalava uma bicicleta-traquitana pelas ruas do Rio de Janeiro, em uma mistura de cientista maluco e artista tropicalista. De sua imaginação efervescente surgiu a Turma do Lambe-Lambe, seu maior sucesso.
Criada em 1975, o grupo de simpáticos personagens ganharam vida em tirinhas de jornais, gibis, programas de televisão, campanhas publicitárias e produtos. Naquele mesmo ano, iniciou sua carreira na televisão, quando a extinta TV Educativa, seguida pela TV Bandeirantes no ano seguinte, começaram a transmitir Daniel Azulay e a Turma do Lambe-Lambe.
O programa ganharia uma legião de espectadores, transformando o desenhista em ídolo do público infantil talvez maior do que os próprios personagens que criou. Nele, Azulay ensinava as crianças a desenharem e a construir brinquedos de sucata, além de apresentar diversas referências eruditas, desde Platão ao surrealismo, de um jeito leve e didático.
Sua forma de fazer televisão era quase artesanal, sem utilizar a parafernália que mais tarde marcariam os programas de auditório infantis. O sucesso resultava em centenas de cartas dos fãs que chegavam toda semana nos estúdios da TVE e da Band.
Na ponta do lápis
Apesar do estrondoso sucesso que a televisão trouxe, a trajetória de Daniel Azulay conta também com seu talento no desenho. Autodidata, começou a desenhar ainda criança com as pontas dos dedos, utilizando como superfície vidros empoeirados de carros; aos doze anos, fez um curso de desenho por correspondência e nunca mais parou de rabiscar.
Seu primeiro desenho foi publicado quando tinha apenas 15 anos na seção de palavras cruzadas do jornal O Globo. Apaixonado pelo cartoon estadunidense, inspirou-se nos traços de artistas como Bob Kane, Will Eisner e Saul Steinberg para criar seus primeiros personagens ainda para o público adulto. O primeiro foi o Capitão Sol, em 1967, e, no ano seguinte, o Capitão Cipó, um super-herói que estampou diariamente as páginas do Correio da Manhã.
Em 1969, durante uma viagem à Israel para os torneios Macabíadas, ficou fascinado pelas figuras religiosas que encontrou por lá. Desse mergulho surgiu Jerusalém, uma série de ilustrações em nanquim que talvez seja seu trabalho de desenho mais maduro graficamente.
Azulay faleceu aos 72 anos em 27 de março de 2020 no Rio de Janeiro, vítima da Covid-19 em um período em que enfrentava uma leucemia.
Sobre o Museu Judaico de São Paulo (MUJ)
O Museu Judaico de São Paulo é fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas. Para os projetos de 2023, o MUJ conta com o Banco Alfa e Itaú como patrocinadores e a CSN, Leal Equipamentos de Proteção, Banco Daycoval, Porto Seguro, Deutsche Bank, Cescon Barrieu, Drogasil, BMA Advogados, Credit Suisse e Verde Asset Management como apoiadores.
Serviço:
Algodão doce pra você! De férias com Daniel Azulay
A partir das 10h de 16 de dezembro (sábado)
Local: Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Funcionamento: Terça a domingo, das 10 horas às 19 horas (última entrada às 18h30). Excepcionalmente nas quintas-feiras, o horário é das 12h às 21h
Ingresso: R$ 20 inteira; R$10 meia. Entrada gratuita aos sábados
Classificação indicativa: Livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida