Matheus Ferreira Coelho Pinho, de 25 anos, era voluntário de Iniciação Científica no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2 setembro de 2018, quando um incêndio destruiu cerca de 20 milhões de itens que faziam parte do acervo que contava com peças como o mais antigo fóssil humano já encontrado no Brasil. “Além de presenciar a perda histórica que esse incêndio causou, eu também perdi o material de estudo da pesquisa que estava conduzindo para minha graduação em Arqueologia”, relembra Matheus.
Funcionário do museu durante três anos, ele também participou do processo de resgate do acervo após o incêndio e, com isso, teve as primeiras ideias para o que hoje se tornou sua pesquisa de mestrado. “O contato direto com a perda de materiais arqueológicos e paleontológicos, que não podem ser recuperados, me fez pensar na importância de preservarmos esse tipo de acervo de maneira definitiva. E uma forma de fazer isso é gerar dados virtuais”, explica.
Do estágio para o mestrado
Mestrando do Programa de Pós-Graduação de Ciências Computacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Matheus iniciou, em fevereiro de 2021, uma pesquisa que pretende estudar formas de escanear peças arqueológicas e aplicar inteligência artificial para viabilizar sua preservação virtual. “Já existiam meios de aplicar a tecnologia em peças históricas, mas não no nível de detalhe e precisão que estamos buscando com esse estudo, por isso tivemos que buscar a solução na parceria com empresas com tecnologia inovadora”, ressalta o pesquisador, que utiliza o espaço do Laboratório de Arqueologia Brasileira (LAB) para seus testes com o aparelho.
O scanner utilizado para gerar as imagens virtuais dentro da pesquisa é o Virtuo Vivo, aparelho desenvolvido e comercializado pelo Grupo Straumann, líder global em soluções odontológicas, e utilizado por dentistas para gerar imagens em 3D da arcada dentária de pacientes. De acordo com o EVP do Grupo Straumann América Latina, Matthias Schupp, o aparelho já tem destaque no setor odontológico e agora ganha ainda mais notoriedade. “É muito gratificante vermos a diferença que um produto, antes pensado somente para dentistas, pode fazer para toda a sociedade e comunidade científica. O Virtuo Vivo é portátil, de fácil manuseio e com uma precisão para cores, texturas e linhas que, com certeza, foram importantes diferenciais para estar presente nesse projeto”, salienta.
Os primeiros resultados causaram otimismo no pesquisador. “Fizemos o escaneamento de peças parecidas com as que devem ser utilizadas na pesquisa e a precisão nos impressionou. Em um caco de cerâmica, por exemplo, o material foi capaz de gerar uma imagem virtual com todas as texturas, cores e muito fiel ao real. Isso é um ganho muito grande para a arqueologia, que ainda não conta com algo tão preciso”, celebra.
A pesquisa tem seguido com avanços e conta com duas linhas: a principal, que consiste no desenvolvimento de um modelo de inteligência artificial que faça a reconstrução automática de uma cerâmica virtual, a partir dos fragmentos; e a outra que consiste na preservação de acervo arqueológico por meio de escaneamento 3D.
Próximos passos
“Esse é um estudo que pretendo levar adiante, não só no mestrado, mas também, quem sabe, em um doutorado ou até além disso. A minha ideia é mostrar para os arqueólogos que essa tecnologia é muito bem-vinda na nossa área e que pode nos ajudar muito a desenvolver esse setor no Brasil”, ressalta.
Além disso, Matheus não descarta a possibilidade de aplicar o projeto no acervo que restou após o incêndio no Museu Nacional. “É um desejo utilizar esse estudo e pesquisa no local que deu início ao projeto. Como arqueólogo, tenho certeza de que a facilitação no acesso aos acervos dos principais museus do mundo com imagens fiéis e riqueza de detalhes seria um passo decisivo para o avanço de pesquisas e novas descobertas na área”, finaliza.