Uma família isolada no meio de uma floresta, em um clima claustrofóbico, recebe a visita inesperada de uma mulher e de um homem desconhecidos. Essa é a trama principal de Floresta, com texto e direção de Alexandre Dal Farra, que volta a São Paulo, em curta temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363, Bom Retiro), Sala 7, de 12 a 29 de julho de 2023, de quarta à sexta-feira às 19h30, sábado às 18h. Os ingressos são gratuitos (retirada uma hora antes de cada sessão).
Um pai, uma mãe e uma filha encontram-se refugiados em uma casa isolada no meio da mata, por razão não muito clara a princípio. A família recebe dois visitantes inesperados, mas não sabe lidar com essa presença estranha. À medida que as relações se estabelecem, a tensão aumenta e o acerto de contas mostra-se algo mais complexo do que parecia. Enquanto eles são obrigados a rever as próprias convicções, o mundo lá fora parece entrar em colapso.
“Como lidar com o inimigo?” foi a provocação inicial de Dal Farra para compor a dramaturgia da peça. Quando estava escrevendo o texto de Floresta, Dal Farra entrevistou diversas pessoas, entre elas lideranças indígenas, como Ailton Krenak, para ampliar o olhar sobre o comportamento diante do medo e da chegada de um outro ao seu território. Segundo o dramaturgo, foi um processo de pesquisa amplo, longo e individual.
Apesar desse olhar voltado para os indígenas, a questão dos povos originários não surge diretamente em Floresta, mas guia os modos diversos de tratar como a família age diante do estranho. “Desde a peça anterior, Refúgio, de 2018, eu vinha pesquisando a questão da paranóia e do medo trabalhados cenicamente. Em Floresta, já era mais consciente a tentativa de pensar sobre o medo. Desdobrando isso, eu cheguei numa formulação que tem a ver com a questão do medo que é como lidar com o inimigo. Estamos em um ambiente dominado pela paranóia, pelo medo do outro. Pela fantasia de um outro perigoso”, conta Dal Farra.
Na direção de Dal Farra, é interessante observar as reações das personagens que estão fora do centro da ação. Como se nelas estivesse boa parte do discurso da encenação — os conflitos se dão em sua maioria entre um membro da família e um dos que veio de fora; qual a diferença entre estes dois Outros? Não são muitos os momentos em que um dos familiares intercede pelos seus; parecem todos receosos do que pode vir a acontecer. Cria-se, assim, o tensionamento de uma relação complexa que transita entre a brutalidade da violência testemunhada e a passividade do medo. Como se o que estivesse em questão fosse precisamente este viver com medo de um inimigo — e a compreensão de que este ‘inimigo’ é tudo que não sou eu. Amilton de Azevedo no site Ruína Acesa
Outra referência importante para a encenação é o trabalho do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que estuda as sociedades ameríndias e propõe que elas não se fundam na conservação de suas estruturas (como a sociedade ocidental), mas na busca por capturar relações exteriores (mutáveis e inconstantes), em troca constante com o que vem de fora, mesmo que esse interesse seja fruto de uma vontade de vingança ou guerra.
O medo, a desconfiança e os ódios conduzem os comportamentos dos personagens, colocados em um lugar desconhecido (floresta), com estranhos, o que gera ao mesmo tempo medo, curiosidade e disputas. A floresta é o território onde se instagram as relações entre os personagens por representar o “fazer parte” para sobreviver ao mesmo tempo que tem que prosseguir na luta (e na eventual eliminação).
A cenografia recria essa sensação de confinamento da floresta, com objetos comumente encontrados em um lar, mas ligeiramente estranhos, e fora de lugar. A luz, com as varas do teatro todas baixas, enfatiza esse espaço pressionado. Já a música sustenta o aspecto contraditório que a violência da peça engendra: ao mesmo tempo que é explosiva, envolve – proporcionando algo da sensação de imersão de uma floresta.
Estreado em 2020, o espetáculo volta à temporada na capital paulista, com o mesmo elenco: Gilda Nomacce, Nilcéia Vicente, Sofia Botelho, André Capuano e Clayton Mariano.
Porém, em se tratando da dramaturgia de Dal Farra, nada é explícito, e a melhor abordagem talvez não seja decifrar o que se mostra, e sim atentar para o que nubla o olhar. (…) Floresta é o retrato de uma gente que caminha entre a covardia amesquinhada e a barbárie mais brutal. Mas não se reduz à imagem que esse quadro emoldura. Há algo de fugidio apontado nessa encenação de perturbadora violência que escapa à nomeação. Beth Néspoli no site Teatrojornal
SINOPSE
Um pai, uma mãe e uma filha encontram-se refugiados em uma casa isolada no meio da mata, por razão não muito clara a princípio. A família recebe dois visitantes inesperados, mas não sabe lidar com essa presença estranha. À medida que as relações se estabelecem, a tensão aumenta e o acerto de contas mostra-se algo mais complexo do que parecia. Enquanto eles são obrigados a rever as próprias convicções, o mundo lá fora parece entrar em colapso.
FICHA TÉCNICA
Texto e Direção: Alexandre Dal Farra
Elenco: Gilda Nomacce, Nilcéia Vicente, Sofia Botelho, André Capuano e Clayton Mariano
Composição Original: Miguel Caldas
Operação de Som: Tomé de Souza
Desenho de Luz: Wagner Antônio
Assistente de Iluminação: Dimitri Luppi Slavov
Cenografia e Figurinos: Alexandre Dal Farra e Clayton Mariano
Vídeo: Flávio Barollo
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Caroline Zeferino e Daniele Valério
Fotos: Otávio Dantas
Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto
SERVIÇO
Floresta, de Alexandre Dal Farra
12 a 29 de julho de 2023, de quarta a sexta, 19h30; sábados, às 18h
Local: Oficina Oswald de Andrade – Sala 7
Endereço: Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro
Ingressos: gratuitos, retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
Duração: 80 minutos | Classificação: 16 anos