O Museu de Arte Moderna de São Paulo inaugura neste sábado, 26 de agosto , cinco obras em seu Jardim de Esculturas. As novidades celebram os 30 anos do espaço e marcam uma proposta curatorial que busca trazer mais dinamismo à programação do Jardim.
“Essas novas ativações fazem parte de pensamento curatorial que busca ampliar a compreensão do Jardim de Esculturas como uma área de convívio e descobertas. O objetivo é manter o jardim como um espaço vivo, sempre em movimento, com a presença de obras temporárias e em diálogo com as do acervo. O deslocamento e o reposicionamento de algumas esculturas que estão em exibição há mais tempo busca dar mais visibilidade para o conjunto”, afirma o curador-chefe do MAM, Cauê Alves.
Ativações no Jardim
Recém integrada ao acervo do MAM, a instalação Ambiente penetrável, da série Horizontes (2010), de Amelia Toledo, se junta às outras 26 obras expostas em caráter permanente e a céu aberto no Jardim de Esculturas.
O projeto de comissionamentos, uma proposta em que a curadoria convida artistas a criarem obras efêmeras para o Jardim, traz, em sua segunda edição, obras inéditas dos artistas Alexandre Brandão, DetanicoLain e Raphael Escobar.
Alexandre Brandão apresenta Penca (2023), trabalho em que reúne seis esculturas com aspecto de grandes cachos de palmeiras caídos no chão e que remetem, também, à anatomia de animais. A obra propõe uma zona intermediária entre o natural e o artificial, o vegetal e o animal. “Ao abordar os limites entre natureza e cultura, ideias presentes em minha pesquisa a partir de materiais minerais e vegetais, Penca articula e recombina dois elementos existentes na paisagem do Parque Ibirapuera e nas redondezas do Museu de Arte Moderna de São Paulo: a argila expandida, que recobre parte do terreno que circunda o edifício e os cachos das palmeiras que compõem a vegetação local”, diz Brandão.
Desenvolvida a partir do pesquisa de Raphael Escobar a respeito das regras morais e legais vigentes na sociedade brasileira, a obra Os bodes adoram brincar (2023) consiste na instalação de um jardim formado por plantas usadas como matérias-primas para a fabricação de insumos legalizados no Brasil – e parte importante na economia nacional – , como o café, açúcar, cevada e tabaco.
“A obra faz parte de uma pesquisa que venho desenvolvendo desde 2015 sobre a relação de legalidade e ilegalidade de substâncias e alimentos consumidos no mundo, mas principalmente no Brasil. Para a OMS, qualquer substância que entra no corpo e o modifica é vista com a mesma relevância, por isso me interessei em pesquisar um pouco sobre esse tema e propor uma reflexão coletiva”, conta o artista. “Ao caminhar por entre as plantas da obra, o visitante encontra um banco redondo que sugere um ponto de encontro em roda que acaba se tornando um pouco a cultura do compartilhamento, de sentar junto, da coletividade”, ele conclui.
“A circunstância social que as plantas revelam está na anedota do título, aludindo aos bodes que comiam grãos de café e ficavam agitados pulando, e foi a partir daí que se resolveu extrair a cafeína. O consumo de café, açúcar, cerveja e cigarro já foram proibidos e aceitos em momentos diferentes”, reflete Pedro Nery, museólogo do MAM, em texto sobre o trabalho. “O que se mantém perene, segundo Escobar, é o seu consumo. A obra vale-se, assim, das plantas como conceito histórico e representação atual, enquanto o seu centro é emulador do convívio numa comunidade cercada. De fora vemos as plantas, mas seu simulacro é onde a brincadeira se torna viva”, ele completa.
A dupla de artistas DetanicoLain, formada por Angela Detanico e Rafael Lain, ocupam partes da fachada do MAM, na divisa entre a marquise do Parque Ibirapuera e o Jardim de Esculturas, com a obra Marquise (2023). Trata-se de um trabalho que se aproxima de uma reinvenção da escrita e traz como resultado um mapa tipográfico dividido em 26 partes, associado às 26 letras do alfabeto brasileiro. Cada fragmento do conjunto arquitetônico em que o MAM está situado representa uma letra.
“Detanico e Lain realizaram um trabalho comissionado para o MAM, uma nova identidade visual que parte de uma planta simplificada da marquise do Ibirapuera, projetada por Oscar Niemeyer, e dos prédios ao redor”, conta Cauê Alves.
Em BBB (1993), obra de Frida Baranek exposta em caráter temporário, a artista trata do tempo, do espaço e revela o mistério da flutuação, da resistência e do comportamento dos materiais. Frida se apropria de materiais diretamente ligados à indústria para nos fazer refletir sobre o que é leve e pesado. Mesmo que os elementos que ela explora em seus trabalhos sejam pesados, a obra final tende a ser percebida como leve, já que é como se os objetos colocados em meio aos arames flutuassem”, reflete o curador-chefe do MAM em texto sobre a obra.
O Museu de Arte Moderna de São Paulo inaugurou o Jardim de Esculturas em 1993 com um projeto de paisagismo assinado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono. Destinado para exibição de longa duração de obras do acervo do Museu, o local tem livre acesso, é gratuito e de enorme circulação.
“O modo espontâneo dos visitantes se relacionarem com o Jardim e com o espaço público, embora tenha um caráter lúdico, pode danificar obras e impedir que as próximas gerações as conheçam”, conta o curador-chefe do MAM, Cauê Alves. Esses desafios também norteiam a nova proposta curatorial que privilegia a preservação e a conservação das obras.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.
O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.
Serviço:
Jardim de Esculturas do MAM – Novas obras
Acervo: Amelia Toledo, Ambiente penetrável, da série Horizontes (2010)
Ativações no Jardim:
Alexandre Brandão, Penca, 2023
DetanicoLain, Marquise, 2023
Frida Baranek, BBB, 1997
Raphael Escobar, Os Bodes adoram brincar, 2023
Abertura: sábado, 26 de agosto, das 11h às 14h
Local: Jardim de Esculturas do Museu de Arte Moderna de São Paulo
Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Gratuito
MAM São Paulo
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