Quando o lixo se transforma e cria oportunidades. Essa é a premissa do trabalho que começou dentro de uma reserva florestal, emTrês Córregos, região rural de Teresópolis, no Rio de Janeiro.
Para a realização deste trabalho social e com atenção total à coleta seletiva, toda a mão de obra é feita com os moradores do local e tudo capitaneado pela Pirilampos do Planeta. “Trabalhamos num centro de triagem de coleta seletiva, além de lideranças de catadores das regiões de Caju e Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro”, explica Lula Duffrayer, um dos criativos da dupla.
“Os Pirilampos do Planeta representam renda extra e mais visibilidade para os profissionais que atuam no desenvolvimento do trabalho executado com a coleta seletiva e que recebem pela venda do material e pelo beneficiamento da matéria-prima, como higienização e acabamentos, por exemplo. Este tipo de ação promove um convite à reflexão e a recuperação da autoestima, onde os profissionais da coleta são conscientizados a respeito da importância que o trabalho de cada um deles representa para o bem-estar do planeta”, completa Flávio Carvalho, a outra mente por trás do trabalho da Pirilampos do Planeta.
COMO É A PESQUISAS E O PROCESSO:
A pesquisa é toda voltada para conscientizar e diminuir o impacto negativo que o plástico promove no Meio Ambiente. De acordo com a dupla, Pirilampos do Planeta, quando se tem consciência é possível perceber que a geração atual é a única, ainda capaz de fazer algo para salvar o planeta. Eles explicam que é assustador imaginar que 50% do plástico existente nos dias de hoje, foram fabricados durante anos às gerações futuras, e que, nos últimos 15 anos, os chamados descartáveis, aqueles de uso único, são muitas vezes utilizados por apenas alguns segundos e representam uma maioria esmagadora dos descartes nos oceanos e no meio ambiente, demorando mais de 400 anos para a sua total decomposi ção. “É preciso chamar a atenção para os excessos de uma sociedade de consumo que não quer nem saber para onde vai o lixo que ela mesma produz. Através do lixo, é até possível perceber características diferentes da sociedade de acordo com cada região que ele é coletado e isso torna nosso trabalho ainda mais rico”, ressalta Lula Duffraye.
“Foi com esse olhar, que nos apropriamos do visual criativo já existente no design das embalagens, para promover nas pessoas uma relação afetiva e emocional com os Pirilampos do Planeta. Percebemos que quem trabalha na coleta de lixo tem muito orgulho do que faz e total consciência da importância do seu papel para a preservação do meio ambiente”, explica Flávio Carvalho.
Segundo estudos da Pirilampos do Planeta, a cada 4 catadores, 3 são mulheres, 90% são negros e apenas 10% estão organizados em cooperativas (dados 2021). Quando se fala de catadores de materiais recicláveis, já se pensa numa categoria de profissionais que realizam uma atividade que é essencial para a vida humana, que é essencial para o meio ambiente e que, lamentavelmente, ainda é pouco valorizado pela sociedade brasileira.
Com o trabalho desenvolvido cerca de 30 mil resíduos plásticos são retirados do meio ambiente por mês, e transformado pelas mãos dos Pirilampos do Planeta. A proposta é aumentar cada vez mais a coleta, que conta com a participação de aproximadamente 60 pessoas, promovendo uma redução do impacto que é provocado na natureza. As obras são esculturas de luz, em formato de correntes, com a criação de peças únicas e exclusivas. É a ressignificação das embalagens que desperta a curiosidade e o encantamento através da memória afetiva de cada um, com intuito de oferecer uma experiência emocional e artística.
ARTE E ECONOMIA CIRCULAR
Através da técnica de “assemblage”, que são obras criadas com resíduos plásticos descartados no meio ambiente, a Pirilampos do Planeta provoca a sociedade e devolve em forma de Arte Contemporânea o lixo que ela mesma produz. É a ressignificação do lixo, que assume o papel de protagonismo para despertar um novo olhar de desenvolvimento mais conectado com a promoção social. Para eles, “luxo”, é cuidar de quem cuida do Planeta.
Vale explicar que Pirilampos são pequenos insetos admirados por sua intensa capacidade de emitir luz própria. Toda energia produzida na reação dos seus gestos é convertida em luz e, dessa forma, eles se comunicam com todos da sua espécie. Em um “piscar de olhos”, eles conseguem transformar todo o entorno de onde vivem de maneira fantástica e multiplicadora. As esculturas criadas com o material reciclado chamam a atenção e, lembram, de certa forma as divertidas brincadeiras criadas pela Zolo Play Sculpture, posta para jogo em 1986, pelo casal de designers nova-iorquinos Byron Glaser e Sandra Higashi, que se encantaram com a estética Memphis, contemporânea ao movimento New Wave.
SOBRE LULA DUFFRAYER E FLÁVIO CARVALHO :
São profissionais da área de comunicação, casados, e que durante a pandemia da Covid-19 resolveram mudar o rumo de suas vidas e partiram para uma vida rural, construíram um ateliê-residência todo com material de reuso e demolição dentro de uma reserva florestal. Criaram um apiário e desenvolveram um projeto de educação ambiental: os Pirilampos do Planeta, na região de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Segundo eles, uma forma de retribuir ao planeta o privilégio que é viver em perfeita sintonia com a natureza. “O planeta está precisando da gente. O mundo passou por uma chacoalhada que nos fez repensar. Nossa percepção de tempo mudou. O agora é urgente e nós resolv emos fazer a nossa parte transformando o plástico reciclado em objetos de design, capazes de despertar a curiosidade, seduzir o olhar e encantar com o inusitado das formas orgânicas”, explica Lula Duffraye.
A série Miçangas do Atlântico, esta em exposição na SP Haus, espaço multidisciplinar, em São Paulo, que tem arquitetura de Paulo Mendes da Rocha. “Conhecendo os Pirilampos do Planeta, um projeto tão atual e tão potente, que nos aponta novos caminhos na escuridão, é possível acreditar que tem jeito sim de salvar nosso planeta. Esses artistas nos fazem acreditar que vamos conseguir nos salvar de nós mesmos, quando temos atitudes equivocadas. Vida longa aos Pirilampos do Planeta, ressalta Tânia Sciacco, curadora da exposição.
SERVIÇO:
Exposição: Miçangas do Atlântico
Artistas: Pirilampos do Planeta
Curadoria: Tânia Sciacco
Local: SP Haus – Av. Cidade Jardim, 924 – Jardim Europa
Data: Até 10 de maio de 24