Após uma interrupção em respeito às restrições sanitárias impostas pelo plano São Paulo, a Mostra Brasileires terá seus trabalhos retomados nos próximos dias. Trata-se de um conjunto de seis laterais de edifícios na região do Minhocão, que vêm recebendo obras de artistas e pensadores, numa iniciativa da produtora cultural Axé no Corre – comandada pelos ativistas Kleber Pagú e Fernanda Bueno.
Desta vez, um edifício localizado na Praça Marechal Deodoro (sentido centro) receberá a obra “O Vórtice”, um painel de 630 m² assinado pelas artistas e ativistas Márcia Tiburi (filósofa, artista plástica, professora universitária e escritora), Catarina Gushiken (ilustradora) e Fernanda Bueno (bailarina, coreógrafa, produtora e gestora cultural, e cocuradora da Mostra Brasileires).
O Vórtice – Para Márcia Tiburi, a criação da obra “foi um verdadeiro desafio da alteridade”. Segundo a filósofa e artista plástica “O Vórtice é o que nos abisma, o que nos traga, mas também o que nos expulsa e nos faz voar. Creio que estamos falando de formas de falar do abismo, de olhar para ele, de sermos olhados por ele. E de como a gente se recria no encontro com o todo”.
A bailarina e coreógrafa Fernanda Bueno – cocuradora da Mostra Brasileires ao lado do produtor cultural e ativista Kleber Pagú – sintetiza sua contribuição para O Vórtice com frase: “o corpo é a nossa maior arma”.
Já a ilustradora Catarina Gushiken, que ficou com a missão de traduzir para a linguagem visual as três cabeças envolvidas no trabalho, destaca que “na obra, sinto que criamos um portal quando entrelaçamos nossas dores e memórias”. Ela acrescenta ainda que “um vórtice que pode ser lido como uma fissura, uma ferida e uma saída. A mulher coruja que surgiu pelas mãos de Marcia em observação do corpo de Fernanda em movimento, após a sessão das Caligrafias Sensitivas sobre a pele, surge como uma chave para este labirinto, como uma possibilidade de escorregar por essa ferida e fazer a transmutação. A carta é entregue como um convite de reflexão para os olhos do coração”.
Brasileires – Além de O Vórtice, a mostra Brasileires já entregou à cidade de São Paulo painéis assinados por importantes nomes como o cantor, compositor, artista plástico e percussionista Carlinhos Brown, que divide o trabalho com o Estúdio RoLu; o artista M.I.A junto com a ativista Vismoart e a artista visual e ilustradora Linoca com a homenageada da mostra, Lélia Gonzalez.
Após a entrega de O Vótice, a mostra Brasileires dará início ao penúltimo painel do projeto, intitulado “Nós” e assinado pelo jornalista, ativista, ex-deputado federal e professor universitário Jean Wyllys. O trabalho que encerra a exposição será da cartunista e chargista brasileira Laerte.
“A Mostra Brasileires faz um convite à população para refletir sobre o tempo em que vivemos e a maneira como nos relacionamos com a cidade, propondo fissuras nas estruturas das artes”, explica o produtor cultural Kleber Pagú. Já Fernanda Bueno completa, ressaltando que “o projeto convida cidadãos atuantes a se conectarem e repensarem o direito à cidade, a natureza e a sociedade de forma mais consciente e participativa”.
Plataforma Arte no meu Prédio – Outra iniciativa importante criada pela Axé no Corre é a plataforma digital “Arte no meu Prédio”. Os interessados em fazer o seu próprio edifício integrar a galeria de arte a céu aberto na capital paulista podem se inscrever no site artenomeupredio.com.br. Dentre outras vantagens para os edifícios que aderirem via plataforma, está o ganho de relevância arquitetônica e cultural para, desta maneira, ser ainda mais valorizado.
“O objetivo da plataforma é fazer o processo inverso, de dentro para fora, com os prédios procurando os artistas. Queremos unir os produtores culturais com os moradores que desejem arte em seus edifícios”, explica a dupla Kleber Pagú e Fernanda Bueno.
PERFIS
Márcia Tiburi – Professora de filosofia, escritora e artista plástica, Márcia Tiburi escreveu diversos livros dedicados a uma teoria crítica da cultura brasileira, da cultura autoritária e das formas de subjetivação em nossa época. A luta feminista e a luta contra o fascismo são o lado prático das suas teorias.
Além dos ensaios, Marcia Tiburi se dedica a escrever romances, que foram indicados a prêmios. Há alguns anos ela vem desenhando e pintando alguns de seus livros e recebeu uma bolsa (Artist Protecion Fund) para se dedicar a um projeto que envolve um trabalho em artes visuais, filosofia e literatura. Ela trabalha atualmente em Paris.
Catarina Gushiken – Artista plástica nascida em São Paulo. A presença de sua ancestralidade asiática, Uchinanchu, povo indígena de Ryukyu (hoje Okinawa/Japão), conduz seu caminho nos processos de investigação por meio da arte. Iniciou sua pesquisa a partir de arquivos de família, realizando a tradução de cartas e diários escritos em uchinaguchi antiga língua de Okinawa) deixados por seu avô, que datam desde 1936, ano que ele chegou ao Brasil. Nesta imersão surgiu o trabalho Caligrafias Sensitivas em parceria com o artista e fotógrafo Gal Oppido.
Catarina também vem experimentando conexões entre as escrituras abstratas, corpo e dança, tendo participado com suas caligrafias corporais no espetáculo “Jardim Oriental dos Primeiros Desejos”, ao lado da bailarina Fernanda Bueno, coreografado por Ismael Ivo, junto ao Balé da Cidade de São Paulo, realizado em 2019 no Instituto Tomie Ohtake.
Fernanda Bueno – Teve a dança como porta de entrada para o mundo das artes. Iniciou seus estudos aos 10 anos na Escola Municipal de Bailados – atual Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo – formando-se em 2002. Integrou o Corpo de Baile Jovem da Escola, onde foi incentivada a praticar outras funções artísticas.
Ao longo da sua carreira profissional como bailarina, atuou em cias como o Corpo de Dança do Amazonas, Cia de Danças de Diadema – também como arte-educadora – entre outras cias. Desde 2008 integra o Balé da Cidade de São Paulo. Junto a essas cias de dança trabalhou com diversos coreógrafos nacionais e internacionais.
Com uma carreira construída ao longo de mais 25 anos, sendo 22 dentro do Theatro Municipal de São Paulo, desenvolveu-se como artista do corpo, em paralelo à sua atuação como bailarina em cias de dança. É bailarina intérprete-criadora, performer, coreógrafa, professora, preparadora corporal, diretora de movimento, ensaiadora, assistente de criação, dramaturga corporal, além de terapeuta corporal, produtora cultural e jornalista.
Como produtora cultural, vem co-realizando projetos históricos de Arte Urbana na cidade de São Paulo, como Aquário Urbano, Galeria Parque Minhocão, Galeria Consolação, Galeria Augusta e Corpo Cidade. É idealizadora, curadora e provocadora da Mostra Brasileires e do Brasileires em Diálogo, iniciativa da plataforma de arte urbana SP Aberta.
MOSTRA BRASILEIRES – SP ABERTA
FERNANDA BUENO, MÁRCIA TIBURI E CATARINA GUSHIKEN
Título: O Vórtice
Empena: Praça Marechal Deodoro – Sentido Centro
Área: 630 m²