A pandemia da Covid-19 trouxe mudanças significativas para a sociedade, não apenas em relação aos cuidados com a saúde, mas também novas formas de se relacionar e trabalhar. Em webinar, a EMIS, do Grupo ISI Emerging Markets, apresentou os desafios do mercado imobiliário brasileiro, um dos setores mais impactados pela pandemia.
Com a consolidação do trabalho remoto, as empresas já estão definindo como será este regime após a pandemia, ao menos parcialmente, com o objetivo de reduzir custos.
Adriano Morais, Research Economist para o Brasil na ISI Emerging Markets Group, explica que “muitas empresas perceberam que o trabalho remoto traz ganhos de produtividade e pode reduzir custos com aluguel, energia, transporte, limpeza, internet, entre outros. Essas empresas se mostraram dispostas a, após a pandemia, adotar o home office de modo ampliado ou até mesmo, definitivo. Por outro lado, houve também uma grande aceitação por muitos trabalhadores”.
Outro ponto que pode ter contribuído para esse cenário, de acordo com o economista, foi a queda das taxas de juros, seguido da ampliação de empréstimos imobiliários ao longo de 2020, em meio a uma expansão monetária do Banco Central. Consequentemente, o Brasil tem visto um aumento na demanda por imóveis maiores, muitos deles afastados das grandes cidades, e um cenário desafiador para escritórios e prédios comerciais.
De acordo com o relatório da EMIS sobre o setor imobiliário 2021/2022, é possível observar que ao longo de 2020, cerca de 200 mil novas residências foram vendidas nas 16 regiões metropolitanas, em 37 grandes cidades pesquisadas pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o que representa um aumento de 13,7% ano a ano.
Já o economista-chefe da DataZap+, Sergio Castelani, destacou que “os efeitos foram muito diferentes entre os diversos segmentos do mercado imobiliário. O segmento que mais sentiu, foi o de imóveis comerciais, principalmente o aluguel de imóveis comerciais porque a pandemia trouxe uma vacância muito maior nos escritórios”. Segundo ele, o home office trouxe um novo paradigma para a economia urbana como um todo.
Destaque para a moradia popular
O programa habitacional do governo Casa Verde e Amarela (CVA), que substituiu o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) em agosto de 2020, promete facilitar a aquisição da casa própria para famílias de baixa renda. Isso porque o ambiente de taxas de juros baixas também abre oportunidades para famílias e investidores adquirirem novas propriedades.
Segundo o relatório, o programa CVA deve impulsionar ainda mais o crescimento do segmento, adicionando mais flexibilidade e tratamento diferenciado para famílias em regiões mais pobres e rurais do país.
No entanto, segundo José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o corte drástico dos recursos federais do CVA para apenas R$ 27 mi em 2021, abaixo dos R$ 1,5 bi inicialmente propostos, se traduz na suspensão da construção de 250 mil moradias populares para o grupo 1 do CVA.
“Sem um maior compromisso do governo com o programa, a falta de moradias continuará sendo um dos maiores desafios do Brasil. Enquanto isso, as moradias populares representam uma oportunidade para as incorporadoras imobiliárias fazerem o bem, além de se saírem bem, uma vez que elas podem fornecer um serviço importante, e que ao mesmo tempo gere rentabilidade”, acredita Lian Lin, Research Analyst da EMIS.
O economista ressalta ainda que para atingir esse objetivo, é necessário um compromisso financeiro ainda maior por parte do setor público. “Embora essas medidas emergenciais sejam bem-vindas no meio da crise, elas não atendem ao déficit crônico de moradias no Brasil”.