Este projeto nasceu a partir de uma viagem a Cabo Verde feita por Felipe Oládélè em 2019, antes da pandemia. No país africano, constituído por dez ilhas e cinco ilhotas, situado a 650 quilômetros da costa senegalesa, o ator, dramaturgo e dançarino participou de uma residência artística sobre as danças locais. Esse encontro do artista com a cultura e a população local teceu a dramaturgia de Travessia.
Essa versão apresentada na capital paulista teve inúmeras alterações desde sua estreia em Belo Horizonte, em 2021. “A corporalidade, a música, a dramaturgia continuam, mas nesta mudança trago mais a palavra. Quero estabelecer um diálogo mais reto e penso para quem eu quero falar de forma mais objetiva sobre a relação do negro com seu lugar e seu espaço”, revela Oládélè.
Como o nome sugere, Travessia partiu de uma viagem, um deslocamento para um país africano, mas também trata de sua volta e reencontro com o Brasil com outra perspectiva. Oládélè diz que, nesse sentido, o espetáculo também trata de uma travessia interna, por lançar questionamentos ao que observa aqui.
“Eu coloco o dedo nas minhas próprias questões. Sempre falamos que desejamos mais o coletivo, mas o dia a dia nos coloca em situações muito individualistas. Isso tem vazado no fazer artístico, com desejos criados pelo capital. O espetáculo quer criar possibilidades de diálogo com o outro a partir dessas perguntas que ressoam em mim”, coloca o ator.
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“Eu não quero ser um super preto, quero ser um preto comum, só isso. Mas você tem que fazer networking, conhecer pessoas, você é preto e sempre vai ter outro preto disputando uma vaga contigo onde só cabe um preto. Você tem que ser multi dez vezes melhor. Super preto!! Excepcional. Ter opinião. Responder sobre as questões pretas para os brancos quando perguntarem, mas sem ofendê-los. Você tem que referenciar os intelectuais pretos aprovados pelos brancos.“ Trecho de Travessia.
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Em Travessia, Felipe Oládélè recebe o público na porta do teatro, com conversa e quitutes mineiros que são oferecidos a quem chega. É dessa maneira próxima que a dramaturgia entra em seus principais pontos: a leitura do passado, da estrutura social que se repete certos padrões. Misturados a essa fala, há ainda as sensações trazidas de Cabo Verde e sua ancestralidade de Serra Leoa.
Nesse percurso, Oládélè mostra como é urgente entender o passado, compreender o agora e projetar uma possibilidade de futuro. Produzir novas memórias, novas imagens e novas pontes para a subjetividade.
Felipe Oládélè é ator, dramaturgo, rapper e dançarino. Fundou a Companhia Negra de Teatro, em 2015, em Belo Horizonte, e circula com o espetáculo Chão de pequenos, direção de Zé Walter Albinati e Tiago Gambogi. Também criou para o grupo a performance Invisibilidade social. Atuou, dirigiu, escreveu e produziu a trilogia REVIDE com três obras digitais: A partir daqui, Aquilombamento Digital e EVOCO. É criador do Project Atlantics, que tem como primeiro trabalho o filme PAPIAMENTO uma produção Brasil – Cabo Verde. Desde 2017, atua também no espetáculo PRETO da companhia brasileira de teatro, com direção de Marcio Abreu. No cinema, atuou em filmes como Apto 420 (Dellani Lima), Velhoeste (Thiago Taves Sobreiro) e Coiote (Sérgio Borges). Dirigiu e atuou no curta Wanderlust, assinado pela Companhia Negra de Teatro. Em 2022, atuou na série Rota 66, da Globoplay. Em 2021, lançou seu primeiro single como rapper Chamado para Aquilombar.
Ficha Técnica:
Direção, dramaturgia e atuação: Felipe Oládélè
Assistente de direção: Diego Roberto
Músico em Cena: Fernando Alabê
Trilha sonora: Felipe Storino
Interlocutor na criação: Rodrigo Mercadante
Vídeo Jockey: Guilherme Bretas
Captação de imagem: Dellani Lima
Preparação corporal: Ricardo Januário
Direção de Produção: Gabrielle Araujo
Produção executiva: Monica Vasconcellos
Iluminação: Cris Diniz
Operadora de luz: Dara Duarte e Felipe Tchaça
Voz off crianças: Miguel Lucca Britto, Negra Rosa, Rosa Valentina Fidelis do Santos e Maria Flor Fidelis do Santos
Apoio: 4P – Poder Para o Povo Preto
Cenografia, figurino e adereços: Felipe Oládélè
Fotografia: Allan Calisto
Produção: Caboclas Produções
Travessia
Espaço Cênico – Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93 – telefone: 11-3871-7700)
40 lugares | 50 minutos | Indicação: 14 anos
De 26 a 28 de outubro, de quarta a sexta, às 20h30;
De 1 a 18 de novembro, terça a sexta, às 20h30*
*Nos dias 2 e 15, a sessão acontece às 17h30.
Ingressos: R$ 9,00 (credencial plena); R$ 15,00 (estudante); R$ 30,00 (inteira)
Ingressos à venda em sescsp.org.br/pompeia e nas bilheterias das unidades do Sesc no Estado de São Paulo.