Muito antes de ser normal o uso de máscaras por causa da pandemia, a cabelereira Amanda Reis de Souza, de 42 anos, já usava uma para esconder o rosto. “Não me sentia bonita e tinha vergonha de dizer que tinha sido agredida por um homem”, conta. Ela teve parte do nariz arrancado pelo ex-companheiro durante uma discussão. “Ele sempre gostava de machucar meu rosto e um dia ele me mordeu e arrancou um pedaço do meu nariz”, conta. Desde então, sua vida desmoronou. Passou a ter problemas psicológicos, pesadelos e não conseguia trabalhar. “Sempre atuei no ramo de estética, da beleza. Então, era muito difícil para mim mostrar meu rosto e a deformação no nariz. Eu não me sentia bonita”, narra.
Casos como o de Amanda são, infelizmente, mais comuns do que a maioria de nós pode imaginar. “Quando eu criei a Em Boas Mãos, jamais imaginei que seria procurada por tantas vítimas de violência doméstica que buscam apagar cicatrizes profundas no corpo e na alma, muitas foram mutiladas pelos companheiros e enfrentam graves problemas para retomar a vida”, narra Beatriz Guedes, fundadora da ONG que atende pessoas que não têm condições financeiras de passar por cirurgias estéticas reparadoras.
Hoje, 30% das consultas feitas à entidade são de mulheres que foram agredidas física e moralmente pelos companheiros. A procura tem sido tão grande que a ONG criou um canal específico para atender essas vítimas. “Um link no nosso site (no canal Inscreva-se) coloca essas mulheres em contato direto com a entidade. Elas têm prioridade na fila de atendimento porque a situação costuma ser tão grave que não podem esperar”, comenta Beatriz.
A gerente Bruna Souza Santos Tonim, de 34 anos, é outra paciente atendida pela ONG. Ela teve que reaprender a comer, falar e a viver depois de ser esfaqueada 10 vezes pelo ex-marido, pai de seus dois filhos. Apesar de estar fisicamente recuperada, a tentativa de feminicídio deixou marcas visíveis que a fazem reviver o horror que sofreu em 5 de abril, quando o ex invadiu o seu local de trabalho e a esfaqueou. “Além das cicatrizes que tenho no rosto e na barriga, ficaram os traumas. Não sou mais produtiva como antes, sinto muito medo, insegurança e me sinto perdida. Quando vi a reportagem sobre a ONG, voltei a sentir esperança”, narra.
Uma das primeiras mulheres atendidas pela entidade foi Victória Francisca da Silva. Ela levou 15 facadas do ex-namorado enquanto dormia. Ela quase morreu, mas as marcas da violência a assombravam dia e noite. Ela passou por um procedimento para suavizar as cicatrizes e recuperou a autoestima.
Sobre a ONG
Além de atender vítimas da violência doméstica, a Em Boas Mãos combate a discriminação estética e o bullying, oferecendo cirurgias reparadoras e tratamentos estéticos. Em outra frente, a ONG oferece atendimento psicológico aos pacientes, contribuindo para a recuperação da autoestima.
Para custear os tratamentos, a entidade depende de doações, que podem ser feitas no site https://emboasmaos.org/.