Escrita especialmente para o grupo, Havia um país aqui antes do Carnaval apresenta, em dez quadros, experiências vivenciadas por diferentes povos nesse Brasil de territórios vastos. A resistência dos territórios ameríndios, o caráter multifacetado dos cenários urbanos e as contradições dos espaços explorados pelo garimpo e destruídos pelas queimadas são alguns temas encenados na peça. O texto também homenageia alguns artistas reais como a performer amazônida Uýra Sodoma; o artista plástico do povo indígena Macuxi Jaider Esbell e a escultora de origem indígena Conceição de Freitas da Silva, conhecida como ‘’Conceição dos Bugres’’.
“A peça surge de uma “provocação” e uma “inquietação” do diretor Reginaldo Nascimento, entretanto, foi escrita com nuances totalmente autorais e inéditas, com um vocabulário de quem “abraça” os muitos brasis invisíveis. É uma obra do teatro narrativo, uma composição em 10 breviários em que a dor e a esperança se irmanam. Entre idas e vindas, pude adentrar realidades paradoxais que desvelam as mazelas da violência e da desigualdade social que alicerçam a vida no Brasil”, afirma o dramaturgo Rudinei Borges.
“É uma peça sobre a dor de ser brasileiro nas margens do país. Não é a história dos vencidos. É a história dos que resistem e querem vencer, apesar das intempéries. Vivi parte de minha vida no norte do Brasil, no sudoeste do Pará. A outra parte em vários bairros da imensa cidade de São Paulo. Viajei de ônibus por todas as regiões brasileiras. Assim, me fiz um observador de instantes e territórios imprecisos, mas conversar com as pessoas e ouvi-las me levou à tentativa de compreender a complexidade das existências e vivências”, conclui o autor.
“Após 14 anos dedicados a dramaturgia de língua hispânica, retomar o trabalho com a dramaturgia brasileira sempre foi um desejo. Queria trabalhar com uma obra inédita, escrita para o grupo por um dramaturgo brasileiro que pudesse narrar um Brasil distanciado da metrópole paulista, para além do conhecido eixo do Sudeste. Desejava olhar nossa própria história, o país que havia aqui, que foi sendo silenciado pelos apagamentos, pela destruição da fauna e da flora, pela ocupação desenfreada dos territórios indígenas e, sobretudo, por um estado de intolerância ao qual fomos lançados nos últimos anos”, afirma o diretor Reginaldo Nascimento.
“É um espetáculo épico narrativo que apresenta, em dez breviários de vidas, personagens e suas histórias espalhadas pelas beiradas do país. Gente de luta, de arte, indígenas, santeiros e religiosos, falsos crentes e benzedeiras, pessoas que vivem, matam e morrem, embrenhadas nos grotões do país. É uma investigação que caminhou por um Brasil afro-ameríndio de cantos, encantos e encantados, de luta e dor. Foram nove meses de trabalho para que pudéssemos compreender os tantos caminhos que iam surgindo ao longo da feitura da obra e contemplar, pelo menos um pouco, os tantos brasis que existem no Brasil”, finaliza o diretor.
O cenário, de Reginaldo Nascimento, traz a representação de um chão de terra batida, com alguns troncos de uma floresta que já não existe mais, contudo, o espaço cênico vai sendo transformado ao longo da peça. Os figurinos, de Telumi Helen, retratam as memórias do dia a dia dos personagens e ressaltam alguns seres míticos da natureza, da cura e da ancestralidade. A iluminação, de Denilson Marques, contribui com a ambientação dos espaços cênicos da peça.
A trilha sonora original foi composta pelos músicos Salloma Salomão e Gui Braz, que criaram músicas que permeiam as cenas, acentuando as passagens entre o lírico e popular. O espetáculo apresenta também cantos indígenas e de origem no candomblé, pesquisados por Reginaldo Nascimento e pela atriz Karol Piacentini, e conta ainda com alguns trechos da música Arreuni, do compositor e músico Chico Maranhão. A montagem tem orientação de movimento de Wellington Campos e orientação vocal de William Guedes.
Evandro Netto, Gabriel Aldeida e Karol Piacentini
Para Roteiro
HAVIA UM PAÍS AQUI ANTES DO CARNAVAL – Estreia dia 3 de novembro de 2022, quinta-feira, às 21h. Texto: Rudinei Borges. Direção: Reginaldo Nascimento. Com o Teatro Kaus Cia Experimental. Elenco: Alessandra Rabelo, Aline Baracho, Amália Pereira, Evandro Netto, Gabriel Almeida, Karol Piacentini, Joel Rodrigues, Ricardo Marques, Rodrigo Ladeira e Tatiana Teodoro. Duração: 1h30 minutos. Gênero: Drama narrativo. Recomendação: 12 anos. Ingressos: Gratuitos. Quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 19h.
De 3 a 13 de novembro, no Teatro Paulo Eiró
TEATRO PAULO EIRÓ – Av. Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro, São Paulo, SP. Telefone: (11) 5686-8440. Capacidade 468 lugares. Ingressos gratuitos na bilheteria, que abre uma hora antes do início do espetáculo. Venda de ingressos antecipados através da plataforma Sympla. Ar-condicionado. Acesso para pessoas com deficiência.
https://www.sympla.com.br/havia-um-pais-aqui-antes-do-carnaval__1763272
De 24 a 27 de novembro, no Teatro Cacilda Becker
TEATRO CACILDA BECKER – Rua Tito, 295 – Vila Romana, São Paulo, SP. Telefone: (11) 3864-4513. Capacidade 198 lugares. Bilheteria abre uma hora antes do início do espetáculo. Venda de ingressos antecipados através da plataforma Sympla. Ar-condicionado. Acesso para pessoas com deficiência.
Sinopse: Havia um país aqui antes do Carnaval apresenta, em dez breviários, um recorte das diversas faces do Brasil e atravessa questões sociais, políticas e ambientais da atualidade. A resistência dos territórios ameríndios, o caráter multifacetado dos cenários urbanos e as contradições dos espaços explorados pelo garimpo e destruídos pelas queimadas são alguns temas encenados na peça. O texto também homenageia alguns artistas reais como a performer amazônida Uýra Sodoma; o artista plástico do povo indígena Macuxi Jaider Esbell e a escultora de origem indígena Conceição de Freitas da Silva, conhecida como ‘’Conceição dos Bugres’’.
Ficha Técnica:
Texto: Rudinei Borges. Direção: Reginaldo Nascimento. Assistentes de direção: Amália Pereira e Amanda Medeiros. Com o Teatro Kaus Cia Experimental. Elenco: Alessandra Rabelo, Aline Baracho, Amália Pereira, Evandro Netto, Gabriel Almeida, Karol Piacentini, Joel Rodrigues, Ricardo Marques, Rodrigo Ladeira e Tatiana Teodoro. Cenário: Reginaldo Nascimento. Cenotécnico: Fábio Jerônimo. Costureira cenário: Adriana Hitomi. Trilha sonora original: Salloma Salomão e Gui Braz. Pesquisa dos cantos: Reginaldo Nascimento e Karol Piacentini. Música Arreuni: Chico Maranhão. Figurinos e plasticidade estética: Telumi Hellen. Assistente de figurinos/modelista e costureira: Mariana Moraes. Costureira figurinos: Stylo Lia – Galeria do Rocky. Escultura Frei Damião: HD Dimantas. Esculturas bugres: Reginaldo Nascimento. Lighting Designer: Denilson Marques. Orientação de movimento: Wellington Campos. Orientação vocal: William Guedes. Fotos: Fabíola Galvão. Assessoria de imprensa: Amália Pereira. Produção: Kaus Produções Artísticas. Realização: Teatro Kaus Cia Experimental.
Rudinei Borges: Dramaturgo, poeta e ficcionista, nascido em Itaituba, município localizado no sudoeste do Pará. Sua escrita brota ao rés do chão da ancestralidade amazônica. É autor de obra dedicada, em grande parte, à expressão de certa humanidade do Norte brasileiro, principalmente daquela situada ao longo da rodovia Transamazônica e de rios como o Tapajós, marcada pela pobreza, mas também pelo sonho de vida digna, forjada na luta. É doutorando e mestre em Educação pela Universidade de São Paulo, graduado em licenciatura em filosofia pelo Centro Universitário Assunção. Os livros O grão e a palha na eira (poemas), Oratório no deserto de sal (dramaturgia) e Campo do Oleiro (prosa), também traduzidos para o espanhol, reúnem mais de duas décadas de dedicação de Rudinei à literatura e ao teatro. Dramaturgo prolífico, com mais de 15 peças encenadas em Angola e no Brasil, é de sua autoria, dentre outros trabalhos, as peças Medea Mina Jeje e Dezuó: breviário das águas, pelo qual foi indicado ao Prêmio Shell na categoria Dramaturgia, em 2016. Atualmente reside na cidade de São Paulo (SP), onde é diretor artístico e encenador do Núcleo Macabéa, da Cooperativa Paulista de Teatro.
Reginaldo Nascimento: Ator e diretor teatral. Fundou o Teatro Kaus Cia Experimental em 1998. Mestrando em Artes Cênicas na Unesp-SP (Linha de Pesquisa Poéticas e estéticas Cênicas). Desde 1993 se dedica especificamente a direção teatral e a pesquisa do teatro de grupo, tendo assinado a direção de mais de 20 espetáculos. Além das peças do Teatro Kaus, dirigiu também os espetáculos: A Palavra Progresso na Boca de Minha Mãe Soava Terrivelmente Falsa, de Matéi Visniec; Marat – Sade (A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat), de Peter Weiss; Pigmaleoa, de Millôr Fernandes; Cala a Boca Já Morreu, de Luís Alberto de Abreu; e A Boa, de Aimar Labaki. Dentro do Teatro Kaus organizou e editou três publicações sobre dramaturgia de língua hispânica. A primeira foi o livro Cadernos do Kaus – O Teatro na América Latina, publicado no projeto Fronteiras, em 2007, contemplado pelo Programa de Fomento, em 2006. A segunda foi a revista Hysterica Passio, publicado no projeto de mesmo nome em 2016, contemplado com o Prêmio Zé Renato de Teatro, em 2015. A terceira foi o Cadernos do Kaus – Teatro Kaus, Da América Latina à Espanha, 10 anos de dramaturgia hispânica, publicado no projeto de mesmo nome em 2018, contemplado pela 30ª Edição do Programa de Fomento, em 2017. Em agosto de 2009, idealizou e executou juntamente com o Grupo Kaus e em parceria com o Instituto Cervantes a Mesa de Debates Um Certo Arrabal, evento que trouxe a São Paulo o Dramaturgo Fernando Arrabal.
Teatro Kaus Cia Experimental: Radicado em São Paulo desde outubro de 2001, o Teatro Kaus Cia Experimental foi criado em dezembro de 1998, em São José dos Campos, pelo ator e diretor Reginaldo Nascimento e pela atriz e jornalista Amália Pereira. Na capital paulista, a Cia. encenou as peças Chuva de Anjos (2022), de Santiago Serrano; Contrarrevolução (2018), de Esteve Soler; Hysterica Passio (2015/2017) e O Casal Palavrakis (2012/2014), ambas de Angélica Liddell; O Grande Cerimonial, de Fernando Arrabal (2010/2011); A Revolta, de Santiago Serrano (2007); El Chingo, de Edilio Peña (2007); Infiéis, de Marco Antonio de la Parra (2006/2009); Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (2005/2004) e Oração para um pé de chinelo, de Plínio Marcos (2002). Com a peça A Revolta participou em julho de 2007 do XVIII Temporales Internacionales de Teatro, em Puerto Montt e da Lluvia de Teatro de Valdivia, ambas no Chile. Em 2017 e 2018, realizou o Projeto Teatro Kaus – Da América Latina à Espanha – Dez anos de dramaturgia hispânica, beneficiado pela 30ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. No final de 2015 foi contemplado pela 3ª edição do Prêmio Zé Renato para circulação da peça Hysterica Passio. Em 2016 e 2017, realizou o Projeto Fronteiras – O Teatro na América Latina, beneficiado pela 9ª edição do programa de Fomento ao Teatro.