São Paulo, mais especificamente o CASSASP, Clube Associativo dos Suboficiais e Sargentos da Aeronáutica de São Paulo, no bairro de Santana, recebe, em 21 de maio, comemorando o Dia Nacional dos Ciganos – que ocorre em 24 de maio, data instituída no Brasil em 2006 pelo presidente Lula, em reconhecimento à contribuição que a cultura cigana trouxe à formação cultural do País –, a festa Ciganos Cidadãos do Mundo, uma celebração de sua cultura através da dança, da música, da gastronomia e dos tradicionais oráculos.
A festa pretende trazer a alegria de volta, após este triste período de isolamento social causado pela pandemia. “Este retorno, com gente, para rever os amigos e matar a sede e a vontade de dançar, cantar, de festejar, é um momento de celebração e agradecimento à Santa Sara por estarmos vivos”, afirma a produtora cultural Luciana Carvalho de Mattos, carinhosamente chamada de Luciana Dara, que descobriu suas raízes ciganas muito tempo depois por causa do medo do preconceito. Seus bisavós, o alemão Otto e sua esposa, de origem francesa, chegaram ao Brasil em 1914, fugidos da perseguição que já acontecia antes mesmo da primeira guerra. Otto se estabeleceu no Brasil como serralheiro, fazendo portões artesanais para as famílias mais abastadas, e aqui formou uma grande família. “Eu sou de origem alemã, minha avó casou-se com um português cigano. Minha mãe não é cigana, meu pai, já falecido, foi quem viveu nossa cultura comigo. Após a separação dos meus pais, fui criada pela minha avó paterna que me transmitiu os ensinamentos e simpatias ciganas. Sou cartomante, quiromante, além de ser produtora cultural, e desde 2006 faço festas ligadas à minha cultura, até em quadras de escolas de samba”, conta.
Previsto para ser um evento com 25 atrações, por causa do grande número de inscrições, trará mais de 40, entre apresentações de danças, de música, atrações circenses, além de expositores de artesanato, a tradição dos oráculos, com cartomancia, quiromancia, leitura de borra de café – e o lançamento do livro Oráculo da Borra de Café – A Antiga Arte da Cafeomancia, de Maicon Oliver –, baralho cigano, ampliando também para os búzios e a mesa quântica, palestras, workshops, e praça de alimentação, culminado com uma grande baile, bem ao estilo cigano. Uma festa inclusiva que reúne todas as culturas e clãs ciganos e aberta a todos, especialmente, aos “ciganos de alma e coração”, os simpatizantes da cultura. “Quando está triste, o povo cigano não chora, mas canta e dança para espantar a tristeza. É essa alegria que levamos. Temos relatos de casos de gente que alcança a cura através da dança cigana. Tudo isso faz parte da festa!”, diz Luciana.
Como sempre em festas ciganas, apresentações musicais são destaques, especialmente o baile que fecha o evento, com quatro atrações: Roberto Petrovich, cantor de família tradicional cigana, com repertório de sucessos ciganos; Franco Rossignoli, conhecido como El Floritto, com músicas latinas, rumba, cumbia, salsa, flamenco – estilos preferidos dos ciganos; Banda Zapaderin, fundada no ano de 2018 com repertório de músicas em homenagem a cultura cigana, covers e também músicas autorais; e, para finalizar, Dino Guterres e Trupe – os ciganos da novela Além da Ilusão, em cartaz na TV Globo – com canções tradicionais e músicas conhecidas, como as composições de Gipsy King e Chico & the Gypsies. O baile promete!
Saphyra Wilson, profissional com uma vida inteira dedicada às danças étnicas, cigana, oriental e indiana, é destaque na programação de dança, que traz ainda a Cia Aysla Martins, a Caravana do Sol, liderada por Esmeralda Morais, também escola de importância e presente em vários eventos. A festa continua com a dançarina Sonia Aliha e Asmarany Hasnah, professora de danças diversas com destaque para a dança árabe.
Os workshops serão ministrados por Saphyra Wilson, referência mundial da dança cigana; Lu Ynaiah Peicev, ativista pelos direitos dos ciganos, coordenadora do movimento Roda Cigana – iniciativa que atendeu e ajudou ciganos de acampamento de todo o Brasil durante a pandemia e será homenageada no evento –, que falará sobre direitos humanos e ciganos; Sonia Aliha, dançarina e professora de dança do ventre e cigana artística; a dançarina e professora e coreógrafa Aysla Martins, que acredita na dança como uma caminho de cura; Esmeralda Morais, jornalista, coreografa e professora de dança cigana; e a dançarina Sandra Rosa Ruiz.
Festeiros, e alegres por natureza, os ciganos gostam muito de carnes assadas, assados em geral, e o púbico poderá experimentar delícias de sua variada culinária típica, acompanhadas por um bom chopp de vinho.
O local escolhido já recebe festas ciganas temáticas e tradicionais, como casamentos e eventos como a Festa Cigana, e ganha ainda um altar onde será celebrada uma Slava, homenagem à padroeira cigana Santa Sara Kali, em agradecimento por nossas conquistas, cujo dia é comemorado também em 24 de maio.
Ciganos Cidadãos do Mundo é uma realização da Santuarium Cultural de Luciana Dara que desde 2006, organiza eventos da cultura cigana e de povos tradicionais através de festas, encontros culturais, workshops, feiras e eventos culturais em todo Estado de São Paulo. Entre eles, destacam-se o Encontro da Cultura Cigana de Itanhaém e Festival da Diversidade Cultural, com 11 e 8 edições, respectivamente, luais à beira mar, Rancho Cigano no Memorial da América Latina e participação desde 2011 no festival Revelando São Paulo e em outros na Baixada Santista, ligados ao setor cultural de gêneros e etnias.
Sobre o povo cigano
O que é ser cigano? Você nasce cigano, mas no Brasil é diferente. A etnia cigana, após a novela Explode Coração, tomou um vulto muito grande e muitas pessoas se apaixonaram pela cultura cigana, os chamados “ciganos de alma e coração”.
Hoje, apenas no estado de São Paulo, são 600 mil ciganos, de etnias diferentes. Os Calon são os mais conhecidos, são nômades, moram em barracas e tem sua origem nos países ibéricos, Portugal, Espanha e parte da França, onde são chamados de gitanos. Os Rom, originários principalmente dos países Bálcãs e do Leste Europeu, são mais conhecidos pela língua, o romanês. No Brasil, as duas principais etnias ciganas convivem em harmonia.
Um povo pacífico, o cigano não gosta de briga, por isso não tem uma pátria, mas sim uma bandeira, em todo lugar onde não era bem-vindo ia embora – de onde vem o nomadismo. Atualmente, a grande parte dos ciganos moram em casas, sítios, estudam, mas mantém suas tradições, da música, da dança, do casamento – eles se casam jovens, com parceiros ainda “arranjados”, o que vem sofrendo mudanças com a internet. Antigamente a noiva cigana não conhecia o noivo, hoje se aproximam através dos aplicativos e mantém um relacionamento virtual até o casamento.
Algumas comunidades ainda hoje continuam restritas, mas outras estão se abrindo. Entre eles, falam romanês e shibi (calon), mas a mistura com os simpatizantes de alma e coração criou uma linguagem diferenciada, as pessoas querem saber mais sobre a cultura, falar um pouco das duas línguas e, embora línguas faladas e não escritas, algumas pessoas se abriram a ensinar. Recentemente foi aprovado no congresso nacional o Estatuto Cigano que dá e fala dos direitos dos ciganos no Brasil
Na questão de organização, existem os Calons de acampamento, comunidade mais necessitada, pobre – em SP existem grandes acampamentos, entre eles um em Itaquaquecetuba e outro no Itaim Paulista – e na pandemia essas famílias ficaram desprovidas de trabalho – as mulheres que faziam leitura de mãos nas ruas, os homens que saiam para fazer seus bicos, como venda de carros, não podiam sair. Para apoiar esses acampamentos foi criada a Roda Cigana, que iniciou um processo de arrecadação de alimentos, roupas, produtos de higiene e alguns grupos de dança cigana artística, que são os simpatizantes, se organizaram tornando-se uma grande família, com o apoio de ONGs, como a CUFA e a Ação Solidária. Mesmo sem poder sair de seus acampamentos, e apesar das muitas mortes pela covid, continuaram com suas vidas normais, com as festas, os casamentos de até três dias, todos sem máscara.
Na Capadócia, São Jorge é considerado o padroeiro dos ciganos, na Rússia, São Nicolau, e no Brasil, onde a adoração à Santa Sara Kali ganhou força durante a exibição da novela Explode Coração, de 1996 – que trazia uma comunidade cigana como centro de seu enredo –, se tornou a padroeira dos ciganos no Brasil, junto com um santo brasileiro, São Zeferino, que era cigano.
Mesmo sofrendo o preconceito, alguns ciganos conquistaram o sucesso, mesmo que ninguém soubesse de suas origens. O presidente Juscelino Kubitschek, Elvis Presley e o ator russo-americano Yul Brynner – também idealizador do Dia Internacional do Cigano, 8 de abril, instituído pela ONU em 1971 – estão entre eles.
CIGANOS CIDADÃOS DO MUNDO
Data: 21 de maio, sábado, das 12h às 2h
Local: CASSASP – Clube Associativo dos Suboficiais e Sargentos da Aeronáutica de São Paulo
End.: R. Ten. Rocha, 387 – Santana – SP
Atrações: Apresentações de danças ciganas e árabes, música, atrações circenses, oráculos (quiromancia, leitura de borra de café, cartomancia, baralho cigano, búzios e mesa quântica), palestras, workshops, barracas de artesanato e de alimentação
Ingressos: R$ 30 (antecipados, até 15 de maio) e R$ 35 (no dia)
www.sympla.com.br/evento/ciganos-cidadaos-do-mundo/1528899
Ou nas lojas credenciadas: @casashiva @boutiquecigana @casadocigano – pagamento através de PIX: santuariumcultural@gmail.com
Caso o pagamento do ingresso seja feito por PIX, levar o comprovante.
Obs.: Como a festa tem a duração de 12 h, o público poderá sair e voltar ao evento, se necessário.
O evento segue os protocolos de segurança, como a apresentação do passaporte vacinal e uso de máscaras.