A partir do dia 30 de julho, o Museu Judaico de São Paulo apresenta Descer da Nuvem, exposição de Leila Danziger no espaço do Mezanino, local dedicado às mostras que se relacionam com o acervo do museu. A exposição conta com curadoria de Felipe Chaimovich, diretor de Curadoria e Participação do museu. Em Descer da Nuvem, a artista, poeta, professora e pesquisadora Leila Danziger explora a coleção de livros, fotografias e antigos documentos do Centro de Memória da instituição, o maior acervo existente sobre a imigração e presença judaica no Brasil. A artista agrupou lembranças de pessoas desconhecidas com objetos de sua própria família, combinando figuras políticas com alguns personagens de ficção. A intenção de seu trabalho é fazer com que o público reflita sobre sua própria história por meio de retratos, recordações e identidades.
A artista selecionou imagens de jovens, crianças e idosos com diversas vivências judaicas e tomou esse material como matéria-prima para sua criação, que se desenvolve em camadas com a superposição de elementos e matérias.
Em outra criação, elaborou uma série de obras a partir de fotografias com importantes nomes de lideranças religiosas que lutaram nos movimentos por direitos civis de pessoas negras, como o Reverendo Martin Luther King e o Rabino Abraham J. Heschel, que, neste contexto de luta, proferiu a famosa frase: “senti que minhas pernas rezavam”.
A artista lembra também o encontro entre Clarice Lispector (1920-1977), nascida na Ucrânia e imigrada para o Brasil, e Carolina Maria de Jesus (1914-1977), mineira que vivia em São Paulo, registrando a admiração mútua de duas escritoras que marcaram a literatura do país na segunda metade do século vinte.
“O que eu busco em cada documento é o que ele guarda ainda de futuro, é o que nele não foi realizado, o que ele pede a ser realizado, o que nele aguarda, como se cada documento estivesse esperando um gesto que ativasse nele algum potencial emancipatório”, comenta a artista Leila Danziger.
Entre o conjunto de obras está a tela “Andréa”, de 1909, pertencente à coleção do Museu, de autoria de Bertha Worms, pioneira no ensino e profissionalização de pintoras mulheres em São Paulo. E também está exposta uma pulseira que pertenceu à avó paterna de Leila Danziger, objeto trabalhado pela artista na obra intitulada Balangandãs, em que a jóia é associada a uma aquarela brasileira do século dezenove.
Leila Danziger propõe uma reflexão sobre o “nome”, uma das primeiras ferramentas da linguagem humana. Para a sociedade judaica, a questão da linguagem é um dos temas do livro de Gênesis, pois nele o primeiro humano é capaz de nomear as criaturas no jardim do Éden. Para expressar essa pesquisa, a artista trouxe livros da biblioteca do Museu cujos títulos contêm a palavra “nome” . Todos estão disponíveis nas estantes da Biblioteca do Mezanino e o público pode consultar livremente.
O curador Felipe Chaimovich reforça: “Ao atribuirmos nomes a antigas memórias, somos capazes de enxergar diversos futuros possíveis. Assim, a artista costura velhas agendas vazias, uma sobre a outra, somando o calendário judaico ao gregoriano: se o tempo é uma dimensão humana, somos responsáveis pela nossa história.”
O Museu Judaico de São Paulo foi inaugurado em dezembro de 2021, e o seu Centro de Memória, hoje situado no bairro de Pinheiros, em breve será transferido para o museu. A nova mostra Descer da Nuvem, de Leila Danziger desperta reflexões acerca da identidade judaica, nomeação e memória, além de proporcionar ao público acesso à parte do acervo.
Sobre o Museu Judaico de São Paulo (MUJ)
Espaço que foi inaugurado após vinte anos de planejamento, é fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas. Para os projetos de 2022, o MUJ conta com doação do Instituto Cultural Vale, Instituto CCR, Família Minev, Sotreq, Fundação Arymax, Dexco e Alfa Seguros.
Serviço
Descer da Nuvem, Leila Danziger
Museu Judaico de São Paulo (MUJ)
Curadoria: Felipe Chaimovich
Período expositivo: de 30 de julho a 6 de novembro
Abertura: 30 de julho, das 11h às 14h
Local: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Funcionamento: Terça a domingo, das 10 horas às 18 horas
Ingresso: R$ 20
Classificação indicativa: Livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida