*Por Alexandre Annibale*
Os cuidados com a região bucal são elementos essenciais na vida, afinal, todo mundo sabe que a saúde começa pela boca. O que muitas pessoas não imaginam, porém, é que toda essa atenção deve estar presente em todos os períodos da vida humana. Ainda que os bebês nasçam sem nenhuma dentição exposta, os cuidados bucais devem ser adotados desde cedo; o acompanhamento preventivo é sempre o melhor caminho para corrigir problemas desde o início e evitar interferências maiores mais tarde.
Os números mostram, entretanto, que o cenário não é muito animador quando o assunto é levar os pequenos para um acompanhamento profissional. Uma pesquisa publicada no Journal Pediatrics evidenciou que menos de 1% do total de 2.505 crianças do estudo consultou um dentista pela primeira vez quando tinha até um ano de idade. E menos de 2% delas foram ao dentista quando tinham menos de dois anos. Das que foram à consulta logo cedo, 24% já apresentaram ao menos uma cárie.
A falta de bons hábitos bucais desde a primeira infância muitas vezes resulta em jovens e adultos com prejuízos na saúde. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 11% da população brasileira nunca foi ao dentista, com cerca de 2,5 milhões de adolescentes na conta. A pesquisa ainda mostra que milhões de compatriotas com mais de 30 anos já usam prótese e boa parte dos idosos não têm nenhum dente na boca.
Os danos podem — e devem — ser antecipados logo cedo: quanto antes a pessoa for ao dentista, melhor. É recomendável levar a criança a um profissional de odontopediatria desde a primeira infância; muitas vezes, o acompanhamento já pode ser feito desde que o bebê está na barriga da mãe, afinal, a saúde bucal da genitora é importante para que a criança tenha um bom desenvolvimento. Caso o neném seja levado logo ao dentista, o profissional pode passar orientações à mãe sobre a higienização da boca e língua, além de verificar o desenvolvimento do freio lingual. Caso necessário, ele é removido de antemão, para evitar prejuízos à alimentação e amamentação do pequeno — vale lembrar, a amamentação é fundamental também para o desenvolvimento craniofacial, já que o ato realiza um movimento de mandíbula e língua que dá estímulo para o bebê ser um respirador nasal e não bucal.
O trabalho da ortodontia e a ortopedia facial na criança é importante também para verificar se existe espaço para os dentes nascerem, se há espaço para troca dos dentes de leite pelos permanentes e como é a mordida da criança. A forma da mordida é fundamental, pois ela cumpre função essencial na respiração e na postura, tudo está interligado. Uma mordida correta e um céu da boca bem desenvolvido permitem ao indivíduo uma boa respiração nasal, além de boa postura e bom sono. Também é importante que os pais removam a chupeta e a mamadeira na hora certa para evitar hábitos como a sucção de dedo e elementos que podem prejudicar a mordida. Crianças que usam chupeta comumente têm mordida aberta, o que atrapalha a fala, a deglutição, a mastigação, e, claro, a estética.
Os problemas oclusais, como céu da boca estreito e mordida cruzada podem levar a males no sono. Dormir bem tem uma função extremamente importante de produção hormonal; caso o sono seja prejudicado, a criança provavelmente sofrerá danos consideráveis, na memória e no aprendizado.
Construir uma boa educação para a criança sobre o tema logo cedo também é um importante fator para preservar a saúde bucal dela. É importante mostrar de início, com visitas periódicas, que a ida ao consultório odontológico é uma rotina comum e nada assustadora, bem como incentivar bons hábitos alimentares e boa higienização. Regra básica: a prevenção é a melhor semente para colher saúde, o bem-estar que deve sempre ser celebrado com um belo sorriso no rosto.
*Alexandre Annibale é cirurgião dentista, especialista em ortodontia e capacitado em odontologia do sono.