Aquela sensação de pernas inchadas, que parecem estar carregando um peso amarrado em cada calcanhar, pode estar escondendo mais do que um corpo cansado. Muito prevalente em toda população brasileira, a insuficiência venosa crônica é uma doença que atinge a capacidade do sistema vascular de fazer o retorno venoso adequadamente.
O que acontece é que as válvulas presentes dentro das veias, que são responsáveis por fazer o sangue circular em uma só direção, sem retornar ou acumular, não funcionam corretamente. Isso faz com o que o sangue acumule e a pressão nas paredes das veias aumente, gerando consequências para o organismo como o surgimento de varizes.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde as varizes são tão comuns que estão presentes na vida de 30% da população mundial. Para o Dr. Márcio Steinbruch, cirurgião vascular e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, as varizes já são bem conhecidas por todos e, por isso, acabam não sendo consideradas um sinal de risco para à saúde.
“O que os pacientes precisam entender é que as varizes são apenas uma fase da insuficiência venosa crônica, uma doença complexa e com graves consequências. Isso porque quando não é tratada, a pressão no interior das veias faz com que elas se dilatem e suas paredes fiquem mais finas. Podem gerar manchas e fibroses na pele e no tecido subcutâneo por conta das hemácias que extravasam das veias, o que aumenta o risco de úlceras varicosas. Além de possíveis complicações como trombose venosa profunda, embolia pulmonar e infecções”, explicou.
Entre os sintomas mais mencionados, é comum que a pessoa com insuficiência venosa crônica sinta dor frequente e a sensação de peso e cansaço nas pernas. Mesmo aquelas que não ficam por longas horas sentadas ou em pé. Geralmente, quando a pessoa começa a perceber que surgiram varizes, isso significa um agravamento da doença que começou nos primeiros sinais de dor e desconforto.
Outro sintoma relacionado à insuficiência venosa e facilmente perceptível é o edema ou inchaço, como popularmente é chamado. Pela manhã as pernas permanecem normais, mas quando o fim do dia chega elas incham e começam a incomodar. Isso ocorre por conta da ação da gravidade, que aliada à doença dificulta o retorno do sangue. Durante a noite de sono, enquanto a pessoa fica na posição horizontal, o sangue consegue circular normalmente e o edema desaparece.
“É importante mencionar alguns outros sintomas, que dificilmente o paciente associa a algum problema vascular, mas que fazem parte dos sinais de insuficiência venosa. A congestão das veias por acúmulo de sangue, por exemplo, potencializa o surgimento de câimbras, sensação de formigamento e, até, coceira nas pernas”, alertou.
Os sintomas aliados ao histórico e ao estilo de vida da pessoa, vão orientar o médico no diagnóstico. Isso porque alguns fatores aumentam o risco de incidência e de agravamento da doença como: obesidade, sedentarismo, tabagismo, herança genética, profissões que precisam ficar muitas horas em pé e o uso frequente do salto alto. A prevalência é maior em mulheres devido à ação dos hormônios femininos no organismo, principalmente durante a gestação ou uso da pílula anticoncepcional. A proporção é de 3 mulheres com varizes para cada homem com a doença.
O tratamento é simples na maioria dos casos, mas exige disciplina do paciente que precisa fazer uso das meias compressivas para evitar o avanço da doença e dos medicamentos para aliviar os sintomas, rigorosamente. Em casos mais sérios a cirurgia é indicada. Para o Dr. Márcio Steinbruch a prevenção ainda continua sendo a melhor alternativa.
“Eu sempre oriento que o paciente deve fazer tudo o que está ao seu alcance para retardar o surgimento e o avanço da doença. O que significa manter hábitos saudáveis como uma boa alimentação, evitando excesso de sal, gordura e bebidas alcoólicas, além de ter uma rotina ativa de exercícios físicos. O sedentarismo e a má alimentação influenciam diretamente a saúde vascular, e são pontos que podem ser controlados pelo paciente”, finalizou o especialista.