Por Caroline Gaudio, diretora do Aruanã Acampamentos e Eventos
A pandemia da Covid-19 trouxe inúmeros desafios para a educação com o modelo de ensino remoto. Nesse meio tempo, nossos jovens se acostumaram a uma rotina reclusa do mundo lá fora, sempre atentos às telas brilhantes do celular. No entanto, à medida que o mundo começa a se recuperar e a vida volta ao normal, é necessário entender quais consequências restaram desse período para criar novas abordagens para o ensino.
Nesse sentido, um modelo que merece destaque é a educação ao ar livre, que aproveita momentos distantes das telas digitais para incentivar um vínculo significativo e duradouro com a aprendizagem.
O conceito de educação ao ar livre não é novo. Desde o início do século XX, pedagogos como Maria Montessori já defendiam a conexão do desenvolvimento infantil aos conceitos da ecologia. No entanto, a crescente dependência da tecnologia têm afastado cada vez mais as crianças do meio ambiente, levando a um fenômeno chamado Transtorno do Déficit de Natureza (TDN).
O TDN, cunhado pelo jornalista Richard Louv em seu livro “A última criança na natureza”, descreve os efeitos negativos da falta de contato com o mundo natural na saúde física, emocional e cognitiva de crianças e jovens. Louv argumenta que essa desconexão é uma das principais causas do aumento de problemas emocionais e comportamentais, ressaltando que o simples ato de passar tempo ao ar livre pode restaurar a saúde mental dos jovens, promovendo uma sensação de bem-estar e equilíbrio.
Uma pesquisa realizada pela Rede Conhecimento Social, em parceria com o programa Criança e Natureza, a Fundação Bernard Van Leer e o WWF-Brasil, reforça essa preocupação. O estudo aponta que 24% das famílias perceberam que a falta de contato com a natureza durante a pandemia estimulou problemas físicos nas crianças, como obesidade e falta de vitaminas. Além disso, 60% das famílias relataram um aumento no uso de aparelhos eletrônicos nesse período.
Felizmente, a educação ao ar livre oferece uma solução para esse problema, responsável por trazer benefícios vastos e variados. Além de combater o sedentarismo infantil, por meio de atividades físicas que incentivam o movimento e a exploração de ambientes, ela possui um efeito calmante e terapêutico, contribuindo para a redução do estresse e da ansiedade.
O ensino atrelado à ecologia também tem o poder de enriquecer a aprendizagem, pois estimula as crianças a vivenciar conceitos abstratos em um contexto mais prático, como aprender sobre a fotossíntese ao observar, na prática, uma planta crescer. Essa experiência desperta a curiosidade e, ao mesmo tempo, incentiva a concentração e a criatividade.
Além disso, a educação ao ar livre é fundamental para cultivar uma consciência ambiental de forma lúdica e divertida. O plantio de hortas escolares ou a criação de áreas de preservação, por exemplo, podem despertar o senso de sustentabilidade e proteção ao ecossistema desde cedo.
No mesmo estudo da Rede Conhecimento Social, que entrevistou mil famílias brasileiras, 93% afirmaram que suas crianças ficam mais felizes e ativas física e mentalmente quando estão ao ar livre. Portanto, seja em uma área verde dentro da escola, durante uma viagem ou na oportunidade de acampamentos educativos, é fundamental que as crianças tenham momentos “off”, longe das paredes de casa ou da sala de aula, para abraçar a natureza como um espaço de aprendizado vital.