por Maria Gravina Ogata (*)
As crianças desempenham um importante papel na vida das famílias de emigrantes. Elas assimilam rapidamente os aspectos culturais que gravitam a seu redor e acabam influenciando na decisão dos pais que, muitas vezes, pretendem retornar ao país de origem.
Essa volta acaba se tornando algo muito difícil para os filhos de emigrantes, pois não pretendem se afastar dos amigos, da escola e não veem motivos para viver em outro lugar.
Além disso, as questões emocionais envolvidas na questão do retorno à terra de origem, na maioria das vezes, apresentam maior complexidade do que aquelas que surgem no momento de emigrar. Mesmo que as condições de retorno possam ser previstas, acabam sendo desmotivadoras, pois traduzem uma sensação de derrota quando o imigrante não conseguiu fazer o “pé de meia” no prazo que havia planejado. Sendo assim, as crianças são poderosas, pois desde pequenas acabam influenciando e traçando seus destinos e o dos pais, que acabam desistindo de retornar.
Diante dessa situação, a família decide valorizar a língua falada no país que os recebeu, pois o seu domínio é essencial para as ações cotidianas. Ao final, os filhos de emigrados acabam se distanciando da língua portuguesa e dos costumes do Brasil.
É de se lamentar as crianças sejam criadas longe dos avós, tios, primos e amigos. Esse distanciamento faz com que toda a responsabilidade da educação das crianças recaia sobre os pais, que têm de lutar pela sobrevivência, em terra estrangeira. No entanto, mesmo que esses brasileiros morem distante da família, é importante que mantenham suas raízes e a principal forma de se fazer isto é o cultivo da língua portuguesa. Dá para imaginar o valor do diálogo de uma criança emigrante com seus avós que ficaram distantes? Essa conversa se reveste de uma verdadeira explosão de emoções, pois mostra, de forma inequívoca, o acesso à própria origem. Além disso, o conhecimento da língua é um diferencial que abre as portas para melhores oportunidades de trabalho. Na verdade, os pais empobrecem a vida de seus filhos quando deixam de ensinar a língua portuguesa, pois, dessa forma, os distancia do tesouro cultural a que teriam acesso.
Esse assunto é tratado no livro “As bambinas e os samurais brasileiros: uma saga migratória”, publicado em novembro de 2022 pela Literare Books, que mostra como os imigrantes italianos e japoneses fizeram do Brasil a sua terra e como vem aumentando a diáspora dos brasileiros no exterior.
(*) Maria Gravina Ogata – Escritora; Geógrafa com Mestrado em Geografia Física, pela Universidade São Paulo; Bacharel em Direito, pela Universidade Federal da Bahia; e Doutora em Ciência Política, pela Universidade Complutense de Madrid. Escreve ensaios histórico-sociais e livros infantis. É consultora jurídica sobre Meio Ambiente e Recursos Hídricos.