A adoção da Inteligência Artificial (IA) na medicina está revolucionando diversas áreas, proporcionando mais precisão nos diagnósticos, tratamentos personalizados e aumentando a eficiência dos processos clínicos. Para analisar a evolução da IA, o Medscape fez uma pesquisa exclusiva com 1.279 médicos de diversas especialidades que exercem a profissão no Brasil, entre 12 de janeiro e 3 de março de 2024. Entre as especialidades que mais se beneficiam com essas inovações, a radiologia e o diagnóstico por imagem lideram, com 39% dos médicos destacando o uso da IA para facilitar a análise de exames e reduzir erros. Em segundo e terceiro lugar estão a clínica médica (8%) e a oncologia (6%), que também estão incorporando a IA em suas práticas, especialmente no desenvolvimento de tratamentos específicos e diagnósticos mais precisos.
“A tecnologia veio para ajudar no diagnóstico, na conduta e no tratamento dos pacientes. Especialmente na minha área, por meio de algoritmos específicos a IA pode ajudar no diagnóstico e reduzir erros”, afirmou um radiologista que participou da pesquisa.
Entre os profissionais que atuam em consultório, 54% disseram ter um baixo nível de conhecimento sobre Inteligência Artificial, enquanto 52% dos médicos que trabalham em hospital, também reconheceram um entendimento limitado do tema. Apesar disso, 59% dos entrevistados afirmaram que consideram muito relevante aprender sobre IA, com uma leve preferência dos homens (9%) em relação às mulheres (4%).
Embora a IA seja vista como uma ferramenta poderosa, o levantamento revelou preocupações quanto ao uso da tecnologia para autodiagnóstico. Cerca de 83% dos médicos acreditam que há uma alta probabilidade de que os pacientes recebam informações incorretas ao usarem a Inteligência Artificial com essa finalidade. Desses, 53% acham “provável” e 30% consideram “muito provável” que esses equívocos ocorram.
“Essa percepção reflete um receio de que a inteligência artificial, sem a devida supervisão humana, possa induzir pacientes ao erro e comprometer a qualidade dos cuidados.”, comenta Leoleli Schwartz, editora sênior do Medscape em português. A inquietação se estende, ainda, à confiança excessiva nas respostas geradas pela IA, com 45% dos médicos “muito preocupados”, temendo que os pacientes possam dar mais valor às recomendações da tecnologia do que à experiência médica tradicional (35% se declararam “um pouco preocupados”). Outra questão relevante levantada pela pesquisa é o potencial da IA em reduzir ou aumentar o risco de negligência médica. A maioria dos médicos (52%) acredita que a IA pode, de fato, diminuir o risco de erros clínicos, graças à sua capacidade de processar grandes volumes de dados e fornecer análises rápidas e precisas. No entanto, 34% dos participantes expressaram a preocupação de que o uso inadequado da IA possa aumentar o risco de negligência, especialmente em mãos de profissionais mal preparados.
“O bom médico vai continuar sendo bom e, mesmo com IA, não vai desassociar seus pacientes. Mas realmente me preocupa essa ferramenta em mãos de médicos ruins. Pode abrir espaço para negligência de fato,” comentou um cardiologista participante da pesquisa.
O levantamento também destaca um otimismo cauteloso entre os médicos brasileiros quanto ao futuro da IA na medicina. Entre os entrevistados, 65% afirmaram estar “entusiasmados” ou “muito entusiasmados” com o potencial da IA para transformar a prática médica. Contudo, 35% disseram sentir apreensão, com uma leve diferença entre as gerações: 67% dos médicos mais jovens expressaram entusiasmo em comparação a 65% dos médicos mais velhos. Além disso, a maioria reconhece o valor da IA em áreas administrativas e diagnósticas, mas há uma resistência considerável quando se trata de interação direta com os pacientes. Para garantir que a IA seja uma aliada na prática médica, 80% dos médicos com menos de 45 anos apoiam a supervisão por agências públicas e associações médicas, enquanto 67% dos médicos mais velhos compartilham dessa visão.
Dados da pesquisa
A pesquisa foi realizada com um total de 1.279 médicos residentes no Medscape em português, entre 12 de janeiro e 3 de março de 2024, com 64% homens e 35% mulheres. O estudo completo pode ser encontrado no link https://portugues.medscape.