*Por Luana Wandecy – é Innovators Under 35, eleita pela MIT Business Review, e CEO da Blindog, startup revelação do Case Startups 2023. É formada em engenharia de computação e mestrado em Inovação
De acordo com o relatório Pet Economy da Bloomberg Intelligence, até 2030 o faturamento do mercado pet mundial saltará de US$320 bi para US$500 bi por ano. Na liderança do setor estão os Estados Unidos, um dos mais avançados e lucrativos do mundo, sendo detentor de 44% da receita global. Essa performance, fruto de um compromisso contínuo em oferecer soluções inovadoras na forma como os tutores cuidam de seus animais de estimação, traz uma uma série de aprendizados para empreendedores de pet techs ao redor do mundo.
Para nós, olhar para o top 1 é muito interessante pois somos o terceiro maior mercado global, atrás apenas da China. Por isso, acompanhar essa visão de negócios focada no cliente ‘pet e tutor’ nos ajudará a pensar em práticas para impulsionar o setor em nosso país que só em 2023 faturou R$ 70 bi – segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – o que equivale a 4,95% de toda receita mundial.
No quesito hardware, uma das principais tendências nos Estados Unidos é o uso de dispositivos wearables para pets. A coleira inteligente FitBark, por exemplo, permite que os donos monitorem a atividade física e os padrões de sono de seus animais, fornecendo dados valiosos para decisões informadas sobre a saúde e o bem-estar dos pets, promovendo um cuidado preventivo com o acompanhamento em tempo real da saúde deles.
Esse é um tipo de produto que segue as novas dinâmicas de relacionamento entre tutores e pets, no qual o bem-estar e a longevidade do animal são de extrema importância. Com isso, a startup usa a tecnologia como meio para transformar o cuidado com os pets, algo que o mercado brasileiro precisa explorar mais profundamente.
Já nas soluções de software, trago os aplicativos como Rover e Wag! que facilitam o acesso a serviços sob demanda, conectando donos de pets a cuidadores, passeadores e hospedagens. Este modelo de negócio, centrado na conveniência e flexibilidade, possui grande potencial para ser adaptado ao mercado brasileiro, onde a demanda por serviços personalizados está em ascensão.
Outra solução estadunidense digital é a BarkBox, um modelo de negócio baseado em assinaturas, que entrega mensalmente brinquedos e guloseimas personalizadas, oferecendo comodidade para os tutores e personalização para os animais de estimação, o que aumenta a fidelidade dos clientes.
No pet food a bola da vez é a alimentação personalizada como a NomNomNow que oferece assinaturas de refeições preparadas com base nas necessidades nutricionais específicas de cada pet, garantindo uma dieta mais saudável e fidelizando os clientes com um serviço contínuo e adaptado.
Este enfoque na personalização e saúde pode inspirar empresas brasileiras a desenvolverem soluções semelhantes, atendendo a uma demanda crescente por produtos de alta qualidade e customizados.
Agora, mergulhando no universo de tecnologia de ponta, a estadunidense Embark une ferramentas de inteligência artificial e análise de DNA, para identificar predisposições genéticas e criar planos de saúde personalizados. O que gera uma relação mais justa entre operadoras de saúde pet e seus usuários de quatro patas.
O que todas essas soluções têm em comum é que, além de transformar a forma como se cuida da saúde e bem-estar dos nossos animais, também mostram como a inovação pode ser uma poderosa aliada para melhorar a qualidade de vida dos pets e a satisfação dos donos.
Como empreendedora de uma pet tech, sei que um ecossistema forte se faz para além de benchmarking e modelo de negócios, e que nossa comunidade enfrenta desafios significativos, como uma infraestrutura tecnológica menos desenvolvida, dificuldades de financiamento para startups, regulamentações rígidas e um ambiente empresarial complexo, marcado por alta carga tributária e burocracia, que contrastam com o ambiente mais favorável dos Estados Unidos, onde há maior acesso a capital de risco e um ecossistema de inovação mais robusto.
Para fomentar a inovação no Brasil, é essencial promover políticas que incentivem investimentos em pesquisa e desenvolvimento, além de facilitar o acesso a capital de risco. Um ambiente empresarial colaborativo entre startups e empresas estabelecidas pode criar um ecossistema mais dinâmico e inovador. Com isso, nosso país poderá se beneficiar significativamente da integração de tecnologias no cuidado diário dos pets, melhorando a qualidade de vida dos animais e atendendo às expectativas dos consumidores.
Ao aprender com as estratégias de sucesso no mercado estadunidense, nosso país vai tanto melhorar a qualidade dos produtos e serviços oferecidos quanto fortalecer o vínculo entre humanos e seus animais de estimação, promovendo um mercado pet mais próspero e inovador.