Em Noite de Brinquedo no Terreiro de Yayá, trabalho do grupo Clã do Jabuti, acompanhamos a história de Maria, uma menina prestes a viver um dos momentos mais desafiadores de sua vida: entregar sua coroa de reisado e conquistar outro lugar no tradicional folguedo, que acontece no interior do Ceará, na região do Cariri. O grupo faz nova temporada por teatros e centros culturais pela cidade de São Paulo a partir do dia 16 de abril, no Espaço Cultural Cita (veja programação completa abaixo) e o público vai se aproximar desse universo entre histórias, versos e adivinhas dos ‘cabinhas’, apelido dado às crianças na região, e também muita música. As apresentações são gratuitas.
O ponto de partida para este trabalho foi o livro Terra De Cabinha: Pequeno Inventário Da Vida De Meninos e Meninas Do Sertão e o documentário Reis e Meninos, ambos da jornalista e pesquisadora Gabriela Romeu, que assina a dramaturgia de Noite de Brinquedo, ao lado de Antonia Mattos. Esses trabalhos trouxeram um diálogo com a região e a cultura popular, com mestres e mestras do local.
A primeira versão da peça-filme foi apresentada de forma on-line no fim de 2021. Para gravar a história, a equipe viajou ao Cariri e encontrou mestres e mestras dos folguedos tradicionais com quem falaram durante a pesquisa. Essa viagem e os encontros foram decisivos para a nova peça. “Foi fundamental finalizar o trabalho da primeira versão no Cariri; feito o material lá, encontrar os mestres e mestras, os terreiros, as crianças de lá. Fomos alimentados com o que conhecemos e voltamos com muitas inquietações em relação ao trabalho até aquele momento”, diz a diretora Antonia Mattos.
O trabalho que estreia agora ganhou “novos personagens, como a Sereia, novas cenas, ganhou um novo corpo, com a música, a dança e a encenação interagindo diretamente com o público”, afirma a diretora. Noite de Brinquedo no Terreiro de Yayá narra a história da menina Maria, que, ao chegar próxima à adolescência, precisa entregar sua coroa de reisado e assumir outro lugar nesse tradicional folguedo. Ao mesmo tempo, no terreiro de Yayá, sua avó, estranhos acontecimentos lançam a menina em uma jornada pelo sertão. “O enredo e o processo da pesquisa giraram em torno dessa menina que resiste a passar a coroa”, diz Gabriela Romeu; menina essa que foi a protagonista do documentário Meninos e Reis chamada Maria Fabriyslene, herdeira direta do Reisado dos Irmãos.
Depois da visita ao Cariri, a diretora conta que a ideia de esquecimento também ganhou força. “Ver os Mestres mais velhos nos contando de ‘entre-meios’, personagens esquecidos, que já não se brinca nos dias de hoje, nos fez pensar ainda mais o quanto as gerações que estão por vir são fundamentais na preservação da memória e o quanto nossa menina Maria representa isso. Ela não pode esquecer o próprio brinquedo, e portanto precisa reinventar seu lugar nessa festa”, diz Antonia.
E foi justamente a memória que tocou a diretora e dramaturga ao encontrar o livro e o filme de Gabriela Romeu. “Quando começamos a pensar no projeto, queria fazer uma homenagem a minha avó, que havia acabado de fazer sua passagem. Então vivi um reencontro com a minha família, com histórias que minha mãe contava, tudo isso nos versos de Terra de Cabinha, lá também ouvi canções que minha avó cantava, foi um mergulho nas lembranças do Ceará, terra onde nasci. Sempre digo que a ancestralidade trabalha de um jeito invisível. De alguma forma, a história da Maria, seu rito de passagem, me reconectou com o lugar de onde eu vim”, afirma.
Em cena, a menina Maria segue acompanhada pelos brinquedos e encantados que encontra no caminho, Boi Mansinho, Jaraguá e uma trupe de artistas, que cruzam arraiais, roçados assombrados por injustiças, histórias de esquecimento e uma noite sem fim. Esse percurso é também guiado por algumas perguntas que fizeram parte do processo do grupo: O que significa perder a infância? E qual é o rito desta passagem? Tudo isso pode acontecer em meio a uma festa?
Sinopse
Maria é uma menina rainha e guerreira do reino de Entremundos que está prestes a viver um dos momentos mais desafiadores de sua vida: entregar sua coroa de reisado e conquistar outro lugar nesse tradicional folguedo. Não bastasse o desafio de crescer, coisas estranhas acontecem no terreiro de Yayá, sua Avó, o que convoca a menina a uma jornada pelo sertão. Na travessia, ela segue com uma trupe de artistas dos confins. Juntos, cruzam arraiais cheios de encantarias, roçados assombrados por injustiças, histórias de dar medo e uma noite sem fim. Nesse rito de passagem inspirado nas tradições dos folguedos e saberes dos terreiros, num diálogo com os reisados e as congadas brasileiras, a luta é contra o esquecimento e os muitos apagamentos. A heroína descobre como guerrear e festejar, contar com a ajuda de seres encantados e desvendar a sabedoria ancestral das encruzilhadas, lugar de encontro e aprendizagem.
Dramaturgia
Escritora, jornalista e crítica de teatro, uma das idealizadoras do Projeto Infâncias, que registra modos de viver e brincar das crianças pelo Brasil, esta é a primeira vez que Gabriela Romeu está do outro lado da cena e assina a dramaturgia do espetáculo ao lado da diretora Antonia Mattos.
Em seus dois trabalhos que serviram de inspiração para esta peça, durante dois anos, Gabriela percorreu o interior do Cariri para contar um pouco de como vivem esses meninos e meninas do sertão. Agora retoma esse olhar em parceria com as observações da diretora. “Para mim, voltar ao Cariri foi um revisitar”, revela a dramaturga. “A Antonia leu o livro e, de alguma forma, ele a tocou com sua história pessoal, que trouxe também a força de sua avó para a cena”, conta Gabriela.
“É uma travessia de crescer sempre com evocações da ancestralidade”, diz Gabriela Romeu.
Clã do Jabuti
O grupo Clã do Jabuti nasceu em 2011 com o desejo de investigar histórias relacionadas à ancestralidade, à tradição oral, e sua união com a música, o canto e as danças afro-brasileiras e afro-caribenhas. Seu nome veio do primeiro processo de investigação com a obra de Mário de Andrade presente nos livros de poemas “Clã do Jabuti”, “Carro da Miséria” e “Macunaíma”, que deram origem ao espetáculo de rua “Não vim no mundo pra ser pedra” (2011) Em 2015, estreou o espetáculo infanto juvenil “Eleguá, menino e malandro”. Em 2018, recebeu o Prêmio de incentivo ao Teatro infantil e jovem como Melhor Trilha Original 2017. Em 2019, foi contemplado pela 34ª Edição da lei de fomento ao teatro com o projeto Yayás: Reinados de Festa e Encantamento – em Busca de um Teatro Brincante com diversas ações ligadas ao teatro infantil, entre elas a estreia da peça-filme “No Terreiro de Yayá”, seu terceiro trabalho. Em 2023 é contemplado pela 40ª edição de Fomento ao Teatro com a circulação da peça Noite de Brinquedo no Terreiro de Yayá, com ações que aprofundam a pesquisa do grupo.
Ficha Técnica
DIREÇÃO GERAL, CONCEPÇÃO E DRAMATURGIA: Antonia Mattos
DRAMATURGIA: Gabriela Romeu
DIREÇÃO MUSICAL: Jonathan Silva e Lincoln Antonio
INTÉRPRETES: Antonia Mattos, Cibele Mateus, Fagundes Emanuel, Lilyan Teles, Odilia Nunes e Rubens Alexandre
PROVOCADORA DA CENA: Juliana Jardim
FIGURINOS: Silvana Marcondes
CENÁRIO: Katiana Aleixo
DIREÇÃO TÉCNICA: Edson Luna
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Antonia Mattos
PRODUÇÃO: Roberta Marangoni e Clã do Jabuti
Serviço
Noite de brinquedo no terreiro de Yayá
Classificação Livre | Duração: 70 minutos
Apresentações ABRIL E MAIO
Espaço Cultural CITA
R. Aroldo de Azevedo, 20 – Jardim Bom Refúgio
16/04 – 16h e 19h
17/04 – 10h
18/04 – 20h
01/05 – 11h e 15h
Ocupação Artística Canhoba – Cine Teatro Pandora
Rua Canhoba, 299 – (próximo a caixa d’água) – Vila Fanton, São Paulo – SP
23/04 – 15h e 19h
Comunidade Cultural Quilombaque
Tv. Cambaratiba, 05 – Perus, São Paulo – SP
24/04 – 15h
25/04 – 19h30
Fábrica de Cultura Brasilândia
Av. General Penha Brasil, 2508 – Brasilândia – São Paulo – SP
02/05 – 10h e 14h