Um homem solitário que não sai de seu apartamento. Um rato a espreitá-lo. Melancolia. O Desmonte, um texto estreado ainda na pré-pandemia, parecia anunciar os novos e tristes tempos de coronavírus. Em setembro, a peça volta a se apresentar, mas agora em uma versão ao vivo a partir do apartamento de Vitor Placca, intérprete do espetáculo escrito e dirigido por Amarildo Felix. Veiculada pelo Youtube e Facebook, a temporada se estende de 17 de setembro a 30 de outubro de 2020, de quinta a sábado, 20h. Os ingressos são gratuitos. A peça teve grande repercussão entre 2018 e 2019 após temporadas em espaços como Sesc Consolação, Teatro Pequeno Ato, Oficina Cultural Oswald de Andrade e em diversas cidades e festivais pelo país. Essa temporada acontece por meio da 10ª Edição do Prêmio Zé Renato de Apoio à Produção Artística e Desenvolvimento da Atividade Teatral para a Cidade de São Paulo.
Também serão exibidos ao público debates semanais da série nomeada como Diálogos Urgentes, através do Instagram do ator Vitor Placca, que consiste em conversas entre o ator e o diretor e dramaturgo Amarildo Felix e personalidades de diferentes áreas para discutir algum tema presente na peça. Os assuntos abordados ao longo da temporada são Psicanálise e homoafetividade (com Aline Sousa Martins), participação de pessoas LGBTQ+ nas artes (com Ronaldo Serruya, André Fischer e Marina Ganzarolli), as novas formas que as artes cênicas tem assumido durante a pandemia (com Ivam Cabral, da Cia. Os Satyros e José Cetra Filho, crítico da APCA), a solidão e mundo digital (com Marcelo Tas), entre outros.
A Montagem
A peça está ambientada em um apartamento, onde um homem vive sozinho avesso a amigos e visitas após o término de uma relação que anuncia a chegada de tempos tristes. No entanto, na madrugada de mais uma noite solitária, ele recebe a visita inesperada de um rato que aparece para destruir tudo e dar novo sentido à sua vida.
A adaptação da peça para o formato online precisou de ajustes mínimos no texto. “Há um trecho específico sobre como a personagem está armando uma ratoeira e, na versão online, que irá trazer para a concretude as referências de cinema e teatro, não fazia mais sentido anunciar essa ação. O que está mantido integralmente é o fluxo de consciência da personagem”, conta Amarildo.
O apartamento do ator Vitor Placca será o cenário de uma gravação em plano-sequência de 40 minutos operada por Amarildo. A adaptação para a linguagem das lives busca um híbrido do teatro com o cinema, reconfigurando as projeções do espetáculo e mesmo parte da própria atuação. A luz é assinada por Thiago Capella e a criação visual é Flávio Barollo.
Assim como na temporada presencial, a versão online contará com as projeções criadas por Barollo. “As edições de vídeo ao vivo contribuem para a criação de uma atmosfera mais densa. Ajudam a contar a história desse homem isolado em casa sobrepondo outras camadas de percepção e outros pontos de vista, como o do próprio rato procurado”, conta o ator Vitor Placca.
Nos palcos, as imagens eram projetadas na parede do teatro – agora entrecortam o plano-sequência, como forma de aproximar o máximo possível do público a experiência visual que o espetáculo oferece. As imagens se alternam entre uma animação antiga do personagem Mickey Mouse; um rato espreitando uma ratoeira e também uma duplicação deste homem no apartamento, representando o delírio da sua solidão.
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A ideia para a construção do texto veio de uma visita do dramaturgo ao apartamento de Vitor em que ele se deparou com móveis fora do lugar, produtos de limpeza espalhados pelos cantos e cheiro forte enquanto o ator, com a vassoura nas mãos, dizia estar procurando por um rato que vinha assaltando a casa nas madrugadas. Dessa fagulha, surgiu o texto-base do espetáculo, que foi acrescido de novas ideias, imagens, possibilidades dramatúrgicas e camadas de interpretação. A versão final é carregada intencionalmente de lirismo – o autor destaca que a poesia seja talvez a manifestação artística que mais bordeja os fenômenos para além da linguagem, dentre eles o amor.
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PARCERIA
O espetáculo surgiu da parceria que o autor e diretor Amarildo Felix firmou com o ator Vitor Placca na Escola de Arte Dramática – EAD/ECA/USP, que ambos estudaram frequentaram, e se formaram com a montagem Danton.5, adaptação de A Morte de Danton, de Georg Büchner. Desde essa época, a dupla discutia muito – o meio teatral também – sobre um teatro cada vez mais autoral, em que atores também assumissem dramaturgia e direção.
Outra experiência de Amarildo acabou contribuindo para a criação de O Desmonte foi sua participação no Núcleo de Dramaturgia Sesi British Council em 2014, quando escreveu Solilóquios, peça que também acabou sendo publicada (o seu primeiro livro, seguido de um outro título – SOTAQUE/SINTOMA – poesias, pela Patuá).
Enquanto isso, Vitor foi para o Centro de Pesquisa Teatral – CPT. Lá, pode experimentar parte dos procedimentos criativos do ator desenvolvidos por Antunes Filho, tomando contato com seu método no ano de 2015. O desenvolvimento de uma dramaturgia do ator revelou-se o ponto central dessa experiência.
Foi juntando a experiência adquirida nesses dois espaços que a dupla se aprofundou nos conceitos experimentados para criar O Desmonte. A parceria se efetiva pelo desejo de experimentação de novas formas dramatúrgicas em diálogo com o processo criativo do ator, delimitando um jogo solo com o espectador.
A principal base de pesquisa para a construção da dramaturgia de O Desmonte é a concepção de sujeito pela psicanálise, mais especificamente a Psicanálise Francesa Lacaniana. Lacan (1901 – 1981) ao afirmar que “o inconsciente é estruturado como linguagem”, acabou por tirar de vez a psicanálise do campo da biologia e das ciências naturais, colocando-a no âmbito das ciências humanas, mais especificamente no campo da linguagem.
Premiações
O espetáculo foi premiado no 9º Festival de Teatro de Mogi Guaçu nas categorias de melhor ator, direção e espetáculo; no 1º Festival Nacional de Teatro de Bolso de Brasília na categoria de melhor ator e também foi vencedor no 7ª Prêmio Aplauso Brasil nas categorias dramaturgia, atuação, iluminação e produção independente.
LIVES
20 de setembro, domingo, 19h
Vozes LGBTQ+, com o ator e dramaturgo Ronaldo Serruya
27 de setembro, domingo, 19h
Vozes LGBTQ+, com o jornalista e idealizador do portal MixBrasil, André Fischer
4 de outubro, domingo, 19h
Vozes LGBTQ+, com a advogada Marina Ganzarolli
11 de outubro, domingo, 19h
Teatro e Pandemia, com o crítico José Cetra
18 de outubro, domingo, 19h
Solidão e Mundo Digital, com o jornalista e apresentador Marcelo Tas
25 de outubro, domingo, 19h
Solidão e Mundo Digital, com o médico psiquiatra Jairo Bouer
1º de novembro, domingo, 19h
Psicanalise e Homoafetividade, com a psicóloga Aline Sousa Martins
5 de novembro, quinta-feira, 19h
Teatro Digital e Pandemia, com o ator e dramaturgo Ivam Cabral
SINOPSE
O Desmonte trata do término de uma relação que anuncia a chegada de tempos tristes. A melancolia paira sobre um apartamento na cidade, onde um homem vive sozinho avesso a amigos e a visitas. No entanto, na madrugada de mais uma noite solitária, ele recebe uma visita inesperada: um rato aparece para destruir tudo e dar novo sentido à sua vida.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia e direção: Amarildo Felix
Atuação: Vitor Placca
Direção de arte: Antonio Vanfill
Iluminação: Thiago Capella
Videoarte e Plataforma Ao Vivo: Flávio Barollo
Produção: Gabrielle Araújo
Fotos: Letícia Godoy
Realização: Caboclas Produções
SERVIÇO
O DESMONTE
De 17 de setembro a 30 de outubro de 2020 | Quinta a sábado, às 20h*
* As sessões serão exibidas ao vivo e não ficarão registradas no canal
Acesso gratuito | Onde: YouTube.com/caboclas e Facebook.com/odesmonte | Duração: 40 min. | Classificação: 14 anos
Diálogos Urgentes
De 20 de setembro a Novembro de 2020
Acesso gratuito | Onde: Instagram @vplacca