O dramaturgo Abílio Pereira de Almeida destacou-se pela qualidade de sua obra e pela relevância que teve para o teatro e o cinema brasileiro, especialmente em São Paulo, entre as décadas de 1940 e 1960. Foi o autor nacional mais encenado pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Suas peças eram vistas pelo público como “espelhos dos descaminhos éticos da sociedade”, repletas de realidade e atualidade.
Em projeto que revisita a dramaturgia brasileira, o Grupo Carriola traz aos palcos a obra Paiol Velho, que estrou em 1951 no TBC, com direção de Ziembinski e com atuação aclamada da atriz Cacilda Becker.
Além de criticar as relações de poder e machismo, Paiol Velho aborda as dinâmicas sociais que entrelaçam os habitantes do interior e a elite urbana. Os diálogos refletem um linguajar coloquial, que diferencia os personagens citadinos dos que vivem no campo, enquanto as características dos personagens são mais evidentes nas ações do que em profundos desenvolvimentos psicológicos.
Nos três atos, momentos de tensão são gerados pela encenação dos atores, pela iluminação e trilha sonora, composta especialmente para o espetáculo. O figurino foi cuidadosamente selecionado em brechós e bazares, refletindo as características de cada personagem, conectando-se aos seus aspectos psicológicos e comportamentais, além das cores estarem alinhadas a temática da terra. “Nossa intenção foi preservar a ótica realista da montagem original, incorporando, no entanto, uma leitura contemporânea”, fala o diretor Ricardo Brighi sobre o trabalho, onde também integra o elenco.
Sinopse
Paiol Velho tem texto entrelaçado por situações dramáticas que buscam estabelecer uma conexão de empatia com o público. A história começa com o casal Tonico e Lina, que administram uma fazenda cafeeira em meio à um casamento conflituoso. A rotina do casal é quebrada com a chegada de Mariana e seu filho João Carlos, os proprietários da terra que vivem na capital. A visita se deve à desconfiança de que Tonico estaria desviando parte dos lucros com a venda das safras, o que, de fato, ocorre, já que o administrador acredita ter direitos de propriedade sobre a fazenda, já que a administrou por muitos anos, enquanto os verdadeiros donos apenas desfrutavam do dinheiro com uma vida luxuosa na cidade. A trama evolui para traições, vícios e ambições que culminam em um final surpreendente e impactante.
Serviço
Paiol Velho
Gênero: drama
Classificação: 14 anos
Duração: 90 minutos
Temporada: de 4 de outubro a 2 de novembro, sextas e sábados, 20h
Ingressos: R$ 60,00 | R$ 30,00
Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/98419/d/278925/s/190742
Teatro Maria Della Costa
R. Paim, 72 – Bela Vista, São Paulo – SP
Estacionamento ao lado
Teatro possui acessibilidade
Ficha Técnica
Texto: Abílio Pereira de Almeida
Direção: Ricardo Brighi
Elenco: Davi Bosio, Guilherme Vendramim, Jéssica Fioramonte, Jorge Pitta, Júlio Sbarrais, Jussara Nascimento, Kliferson Ressurreição, Leobina Bezerra, Leo Nogueira, Ricardo Brighi.
Iluminação: Agnaldo Nicoleti
Trilha sonora original: Vinicius Alves
Cenografia: a equipe
Produção: Ricardo Brighi
Figurino: Léo Nogueira
Projeto Gráfico: Ricardo Brighi
Mídias Sociais: Jéssica Fioramonte e Jussara Nascimento
Assessoria de Imprensa: Flavia Fusco Comunicação
Realização: Carriola Cultural Produções Artísticas e Culturais
Sobre Abílio Pereira de Almeida (1906-1977)
Autor, produtor, ator e diretor teatral brasileiro, Abílio Pererira de Almeida teve um papel fundamental nas artes cênicas, mas que acabou esquecido. Destacou-se pela qualidade de sua obra e pela relevância que teve para o teatro e o cinema brasileiro, especialmente em São Paulo, entre as décadas de 1940 e 1960. Foi o autor nacional mais encenado pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Suas peças eram vistas pelo público como “espelhos dos descaminhos éticos da sociedade”, repletas de realidade e atualidade. PAIOL VELHO foi encenada pela primeira vez em 1951 no TBC, sob a direção de Ziembinski, com aclamada atuação de Cacilda Becker.
O dramaturgo morreu em meio à mágoa de ver seu nome omitido das reportagens sobre teatro e cinema. Um mês antes de seu suicídio, ele lamentou o silêncio em relação a si e suas obras. Em um de seus depoimentos, afirmou: “Senti-me superado e velho. Acabaram-se todas as minhas veleidades. Resumindo minha vida: sou um escritor superado, velho e pobre, a quem a gente nova chama de mestre, o que já é um consolo.” Abilio foi uma figura central no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, onde atuou como autor e diretor. Abílio se destacava por capturar a realidade e retratá-la em suas obras de maneira a agradar o público, apesar das críticas negativas. A interação e empatia que ele estabelecia com os espectadores, além da leveza de seus textos, contribuíam para seu sucesso nas salas de teatro. Seu processo de escrita foi sempre intuitivo e fundamentado na escuta e interação com outros. Abílio relata que algumas de suas obras, como “Paiol Velho”, foram bem recebidas pela crítica e pelo público. Ele também menciona “Moral em Concordata”, que salvou a companhia de Maria Della Costa da falência, embora se sinta magoado por essa peça não ser reconhecida em retrospectivas de sua carreira. Abílio destaca que suas primeiras peças, como “Paiol Velho”, tinham uma objetividade que abordava questões sociais sem um claro viés político. Com o tempo, sua obra tornou-se mais crítica e direta, defendendo uma postura mais incisiva sobre costumes e sociedade. Embora as críticas o tenham rotulado injustamente como um autor de teatro menor, seus escritos apresentavam uma crítica social contundente, especialmente sobre a elite paulistana. O ator Paulo Autran defende Abílio, ressaltando que suas obras são bem escritas e merecem reconhecimento, argumentando que a crítica da época era excessivamente purista e elitista.