A Odontologia exerce um papel importante na atenção ao câncer de cabeça e pescoço. A Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço, marcada pelo Julho Verde, foi criada com intuito de reforçar a prevenção e promover o aumento de diagnósticos precoces, com foco na redução de óbitos e mutilações comprometedoras aos pacientes.
O Brasil registra cerca de 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço por ano, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Normalmente, sua incidência está relacionada ao tabagismo e etilismo. Contudo, o aumento de casos entre jovens tem ocorrido devido à exposição ao vírus HPV, fator de risco que se manifesta em relações sexuais sem proteção.
De acordo com o Cirurgião-Dentista Dr. Fabio Alves, especialista em estomatologia, muitos tipos de cânceres podem ter origem nos tecidos da boca. Ele informa que ocorrem por ano, aproximadamente 15 mil novos casos de câncer de boca. O mais frequente, o carcinoma de células escamosas ou carcinoma epidermóide, representa quase 90% dos tumores da boca. Esse tumor se desenvolve do epitélio de revestimento da boca e os locais mais acometidos são a borda da língua e lábio inferior. Outros locais, como assoalho bucal (tecidos moles, sendo totalmente recoberto por uma mucosa delgada, vermelha, translúcida e apresentando-se frouxamente fixada aos planos profundos), gengiva, palato e bochechas também podem ser envolvidos.
Outro tipo de câncer menos frequente é o adenocarcinoma, que pode se originar nas glândulas salivares, tanto nas glândulas maiores como parótida, submandibular e sublingual quanto nas glândulas salivares menores. Já os sarcomas podem também acometer a boca e são ainda mais raros, segundo o especialista.
Diante dessas manifestações, vale o alerta: as consultas ao Cirurgião-Dentista são importantes também neste contexto, pois é o profissional que descobre este tipo de doença nos pacientes que acompanha. “Sem dúvida, todo Cirurgião-Dentista tem obrigação de examinar completamente a boca de seus pacientes. Verificar todas as regiões da boca e, se encontrar algo impróprio, orientar o paciente e indicar um estomatologista, profissional especializado no diagnóstico das doenças da boca, caso seja necessário. Importante ressaltar que a parte lateral da língua é a principal região acometida pelo câncer de boca”.
A importância da informação
Dr. Fabio destaca que é relevante apontar, também, quais os sintomas desses cânceres de boca e a importância do acompanhamento odontológico para evitar quadros agravados.
De acordo com o Cirurgião-Dentista, ainda hoje, aqui no Brasil, mais de 70% dos pacientes com câncer de boca têm seu diagnóstico realizado em estágio clínico avançado. “O diagnóstico do câncer de boca na fase inicial tem sido uma tarefa árdua. Os profissionais devem avaliar cuidadosamente todas as regiões na procura de placas brancas e vermelhas. Devem estar atentos também para feridas que não cicatrizam em 15 dias”.
Na fase inicial, o câncer pode ter sintomas leves, ou até mesmo não apresentar sintomas (dor), como frisa Dr. Fabio.
Acompanhamento
Além de participar do diagnóstico do câncer da boca, o Cirurgião-Dentista também acompanha o paciente durante todo o tratamento. As infecções, como dentes estragados, raízes residuais e doença na gengiva, devem ser tratadas antes da terapia oncológica.
Durante o tratamento do câncer, seja por quimioterapia ou radioterapia, o paciente pode desenvolver feridas doloridas na boca, conhecidas como mucosite. O Cirurgião-Dentista pode amenizar ou até mesmo prevenir este quadro. “O paciente com boca saudável, livre de infecções, pode suportar melhor a terapia oncológica”.
Pacientes que receberam radioterapia na região da boca podem apresentar xerostomia (boca seca). A diminuição da saliva, segundo Dr. Fabio, torna o paciente mais suscetível a desenvolver doenças gengivais e cáries. Desta forma, o acompanhamento frequente com o Cirurgião-Dentista (a cada 3 ou 4 meses), além de cremes dentais com alta concentração de flúor, podem ajudar a evitar esses problemas.
Atuação preventiva
O Cirurgião-Dentista, portanto, pode e deve atuar também de forma preventiva nesses tipos de câncer, como reforça Dr. Fabio. “Ele deve orientar seus pacientes sobre o câncer de boca e alertá-los sobre o tabaco e o álcool como os principais fatores relacionados ao desenvolvimento da doença. Da mesma forma, deve orientar o paciente a usar protetor labial, considerando que o sol é o principal causador do câncer de lábio”.
Orientações sobre o papilomavírus humano (HPV) como um dos agentes causadores do câncer da região posterior da boca também compõem os cuidados preventivos indicados pelo especialista.