O Brasil tem até o próximo ano para incluir nas creches cerca de 2,2 milhões de crianças da primeiríssima infância, de 0 a 3 anos de idade. A meta, prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), é de que metade dessa população, estimada em 11,8 milhões de brasileiros pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esteja estudando até 2024. De acordo com o Censo Escolar de 2020 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, apenas 31% dos bebês de até 3 anos de idade estavam matriculados em creches no país, o que representa 3,7 milhões de pequenos cidadãos, enquanto 8,1 milhões de crianças, 69% dessa população, permaneciam fora das escolas.
A meta do PNL é de que metade dos bebês brasileiros dos 11,8 milhões de bebês brasileiros estejam matriculados em creches até 2024. Levando em conta as estatísticas recentes dessa população no país, 5,9 milhões precisam estar estudando no próximo ano. O Censo Escolar mostra que apenas 3,7 milhões delas estavam frequentando a escola em 2020, portanto, para atingir a meta, aproximadamente 2,2 milhões de crianças precisam ser incluídas no ensino infantil no próximo ano, desafio difícil de ser alcançado.
A educação dos bebês não é apenas uma questão de conveniência familiar. Estudos apontam que a evolução do cérebro acontece a uma velocidade extremamente alta nos três primeiros anos de vida, com 1 milhão de novas conexões entre neurônios por segundo, a partir de estímulos da família e também externos, inclusive interação com outras crianças.
Até os 6 anos, as crianças vão desenvolver 90% das conexões cerebrais, as chamadas sinapses, que serão utilizadas ao longo de toda a vida, conforme aponta a Unicef. Depois dessa idade, a grande maioria das conexões cerebrais já está definida e o restante delas é formado em pequena quantidade ou não é mais formado.
O documento da Unicef aponta que o vocabulário é determinado por palavras filtradas antes dos 3 anos e que, até os 4 anos, a criança desenvolve as bases neurológicas da matemática, da lógica e metade do potencial mental que terá na fase adulta. Pesquisadores chamam esse processo da primeiríssima infância de “janelas de oportunidades”, o período no qual, neurologicamente, os bebês estão mais propensos a desenvolver várias habilidades.
Afeto, estímulo e boa alimentação
Todo o aprendizado para construir o cérebro da criança é baseado em afeto, estímulo e boa alimentação. “A primeiríssima infância é a idade de ouro da pessoa, a fase mais importante do desenvolvimento humano e precisa ser estimulada”, afirma a pedagoga e diretora da Petit Kids Cultural Center, Fernanda King, com pós-graduação em Desenvolvimento Infantil. Ela comenta que a meta do PNE, embora dificilmente seja alcançada no próximo ano, ainda é tímida para garantir o pleno desenvolvimento infantil dos brasileirinhos.
“Tem gente que acha que as crianças de menos de 3 anos são muito pequenas para frequentar a escola, mas os pais precisam ser orientados de que é justamente nessa fase que elas estão mais propensas a aprender”, explica a pedagoga. Segundo ela, além de todo o potencial de desenvolvimento cerebral e cognitivo, nessa idade os bebês também começam a aprender a ser independentes, dividir, interagir e socializar. “Uma boa escola contribui para o desenvolvimento da criança e da família, é qualidade de vida para todo mundo. Expostas aos estímulos certos, a criança se desenvolve muito mais”, diz.
Fernanda elenca seis marcos da primeiríssima infância: olhar, falar, interagir, movimentar, ler e alimentar. Segundo ela, o bebê olha no olho para estabelecer contato, acompanha tudo com o olhar e precisa sorrir. A pedagoga comenta que as crianças começam a formar palavras com 1 ano e frases com 2 anos. Desde pequena, precisa interagir, brincar, buscar outras crianças, dividir e até disputar brinquedos, e também socializar.
Os movimentos de engatinhar e andar se desenvolvem nessa fase e os bebês devem estar andando até 1 ano e meio. O aprendizado da leitura começa desde muito cedo, através de sinapses, as conexões cerebrais, que se iniciam por volta de 1 ano de idade, diz Fernanda. A alimentação é outra descoberta importante dos bebês, que são introduzidos a novos alimentos a partir dos 6 meses. “A introdução alimentar deve ser baseada em hábitos saudáveis. É preciso insistir e não trocar alimentos para que a criança aprenda a comer bem, com ganhos cognitivos. Seletividade alimentar em excesso indica problema de saúde ou maus hábitos alimentares”, alega.