A infância e a idade escolar já são por si uma fase cheia de surpresas, novidades e aprendizados, tanto para os pais, como para as crianças. E, de repente, uma ida ao oftalmologista diagnostica a necessidade dos óculos. Nesse momento, muitos pais entram no dilema de como convencer os pequenos a aderirem ao tratamento da forma como ele deve ser, lidando ainda com as questões do psicológico. Todas as estratégias são válidas nesse momento e o mais importante é garantir que os óculos não fique esquecido na gaveta.
“É muito complicado todo esse processo, pois a criança não vê a importância do uso dos óculos quando pequeno. Pelo contrário, enxerga, na maioria das vezes, como algo que mais atrapalha do que ajuda. É muito comum as crianças deixarem de usar tampão de oclusão ou óculos porque não gostam. Sem falar do medo do ‘bullying’ entre os colegas.”, ressalta a Dra. Anelise Nomura, oftalmologista e diretora médica da Alpha Diagnose.
Do ponto de vista clínico, quanto antes cedo a criança tiver problemas de visão identificados e iniciar o tratamento, principalmente os óculos e o tampão, menos risco de danos visuais definitivos irão acontecer. Quando essas providências não são tomadas na idade certa, durante a infância, a criança corre o risco de não enxergar desse olho, pois o cérebro, depois dos sete anos, perde a capacidade de aprender a enxergar e se adaptar às novas condições (plasticidade cerebral).
Segundo a Dra. Anelise, criar um sentimento positivo sobre os óculos e falar dos benefícios e esclarecer todas as dúvidas é um passo bastante importante. Como as crianças são muito impressionáveis, mostrar amigos, celebridades ou personagens que também usam óculos também pode dar mais confiança e fazê-las sentirem-se mais confortáveis para usar. “Essa é uma forma de mostrar que óculos são legais. Além disso, ver pessoas que admiramos fazerem as mesmas coisas que nós aumenta o incentivo. Também não podemos esquecer de elogiar com frequência os óculos e todos os avanços no que diz respeito à adesão ao tratamento”, complementa.
Envolver a criança no processo de decisão é outra dica interessante. Os pais podem e devem oferecer conselhos e orientações sobre quais armações ficam melhor, mas no final das contas é importante deixar que eles façam as suas próprias escolhas, conforme os gostos e preferências de cores, formatos, por exemplo. Isso, de acordo com especialistas, ajuda na construção de um senso de propriedade e encoraja a criança a sentir-se orgulhosa ao vestir novos óculos. No entanto, é crucial certificar-se de que a armação encaixa-se corretamente no rosto da criança, que seja fácil e confortável de usar. E, principalmente, como as crianças crescem rápido, é necessário o acompanhamento com o oftalmologista para ajustes na prescrição, tanto dos óculos como dos tampões.
“Nós ajudamos também nesse processo, explicando que ela enxergará melhor e no futuro terá um benefício. E, quando conseguimos engajar a criança no consultório, explicar a importância, fica mais fácil depois para os pais darem continuidade em casa. Por isso que procurar às vezes um apoio de um oftalmo pediatra pode ser interessante. Ele tem mais traquejo com a criança, é mais didático e também tem uma percepção de problemas mais graves”, explica.
A médica lembra que os pais devem não só ter consciência de que é atuar de maneira firme quando o assunto for o uso dos óculos, não podendo ficar à criança a decisão de usar ou não. Além disso, relembra a importância de criar o hábito e iniciar o acompanhamento oftalmológico logo nos primeiros anos de vida. O tratamento precoce evita agravamentos de diversas doenças oculares.
“É muito comum os pais pensarem que a primeira ida de uma criança ao oftalmologista deve ocorrer na fase escolar ou quando algum sintoma manifesta-se. Ou seja, por volta dos quatro ou cinco anos. O que muitos não sabem é que aí já pode ser um pouco tarde, pois muito tempo de tratamento foi perdido”, finaliza Dra. Anelise.