O mundo está em constante mudança. E o embate entre aceitar o novo ou se agarrar aos antigos paradigmas foi o ponto de partida para a atriz Lúcia Romano idealizar o Tríptico A Morte da Estrela. Trata-se de uma experiência cênica formada por três espetáculos de diferentes linguagens com duração de 45 a 55 minutos cada. A obra ganha uma temporada gratuita na Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro) entre os dias 28 de setembro e 4 de novembro de 2023, com sessões às quintas e sextas, das 19h às 22h e, aos sábados, das 18h às 21h.
O público tem autonomia para assistir ao trabalho da forma que preferir. Estão programados intervalos entre os espetáculos, prevendo a entrada e a saída dos espectadores. Ou seja, é possível assistir tanto os três no mesmo dia quanto em dias diferentes. Basta retirar os ingressos que desejar na bilheteria com uma hora de antecedência.
Esta vivência pode ser ainda mais profunda, pois, às quartas-feiras, entre 4 de outubro e 1º de novembro, acontecem rodas de conversa e oficinas, sempre das 18h30 às 21h. A ideia é dar visibilidade a temas como criação autoral e artivismo de mulheres, dramaturgia e engajamentos identitários e formação de espectadorxs. Além da equipe do espetáculo, estarão presentes nos encontros Janaína Leite, Luciana Lyra, Vana Medeiros, Maria Fernanda Vomero, Poliana Pitteri e Vanessa Biffon Lopes. (veja a programação completa abaixo).
Experiência inovadora
Primeira parte
Em cena estão as atrizes criadoras Lúcia Romano, Fernanda Haucke e Thais Dias, com acompanhamento musical de Bel Borges e Natalia Mallo, que dirige a primeira parte do tríptico, Lembre-se de Mim, uma dramaturgia inédita de Vana Medeiros. Na trama, três atrizes brasileiras dedicadas à pesquisa têm a missão de salvar uma estrela de teatro de sua morte por esquecimento. Enquanto se esforçam para cumprir o objetivo, percebem o quanto esta figura-espectro ainda exerce influência sobre elas.
Com um cenário que remete a uma sala de ensaio, este espetáculo metalinguístico segue a estrutura dramática. “Nos inspiramos no esqueleto de Hamlet, uma narrativa deflagrada pela aparição de um fantasma. O personagem shakespeariano está diante de um impasse, porque essa fantasmagoria exige dele vingança: algo tão difícil de representar na cena teatral, de repente, quer fazer o mundo girar. Da mesma maneira, na nossa versão, uma estrela já morta pede para ser lembrada. Como agir? O que vale a pena preservar? Como nos comportamos quando estamos diante de uma mudança iminente, é sobre isso que queremos falar”, conta Lúcia.
Segunda parte
Mais voltada à participação sensível, a segunda parte, Devir o que?, foi concebida e dirigida por Lu Favoreto. É uma mistura entre teatro, performance e dança improvisacional, com o apoio de imagens em vídeo projetadas no ambiente. Lúcia Romano define este trabalho como “uma experimentação radical do corpo no espaço, em que são acionados fluxos, estados e movimentos, em tentativas individuais e coletivas de transmutação da figura humana e de suas estratégias de interação”.
A estrela da primeira parte ganha outra dimensão neste espetáculo. “Queremos refletir sobre a nossa existência como humanidade. O corpo, aqui, extrapola os contornos individuais e se liga com o inumano e com o cosmos”, comenta Romano.
Cena de Devir o que?, segunda parte do Tríptico A Morte da Estrela | Crédito: Ligia Jardim
Terceira parte
A terceira parte, batizada de Emborar, é inspirada no mito das Yamuricumã, narrado por Mapulu Kamayurá. Com direção de Cibele Forjaz e dramaturgia inédita de Claudia Schapira, o trabalho aborda a história de três mulheres que escutam um chamado e decidem partir, abandonando tudo, para construir um mundo diferente daquele em que vivem.
O público é convidado a percorrer diversos espaços da Oficina Cultural Oswald de Andrade, acompanhando a marcha infinda das personagens. Após ouvir um trecho de um mito, narrado em Kamaiurá, a plateia se divide em três, aprofundando-se nas histórias das intérpretes, que compartilham seus chamados pessoais. Novamente num só coletivo, a plateia se junta a uma marcha, onde as lutas das mulheres, do passado e do presente, se entrelaçam.
“Experimentamos desconstruir a própria noção de espetáculo, alargando os limites da cena teatral. Desde o início, em volta de uma espécie de fogueira e bem junto ao público, nos convertemos em facilitadoras da experiência de escuta, apenas comentando aspectos que achamos significativos. Menos atuação e mais partilha.”, detalha Romano.
Em 2022, o Tríptico A Morte da Estrela fez uma temporada no Sesc Ipiranga. A criação é assinada pela Barca de Dionisos, com produção da Corpo Rastreado.
Cena de Emborar, terceira parte do Tríptico A Morte da Estrela | Crédito: Ligia Jardim
Sinopse
O Tríptico A Morte da Estrela é uma experiência cênica composta por três espetáculos, de formatos diversos, que compõem um quadro multifacetado do tema da morte da estrela, desde a explosão dos corpos celestes e a falência do star system, até a revolta das mulheres.
As três peças, uma espécie de espetáculo-festival, provocam uma imersão em aspectos múltiplos da falência dos grandes sistemas de mundo, traduzindo no questionamento da persona social da “estrela” os desejos de transformação dos modos de convivência atuais.
Ficha Técnica
Atrizes-criadoras: Lúcia Romano, Fernanda Haucke e Thais Dias
Composição de trilha original, direção musical e arranjos: Natalia Malo
Direção de Arte, cenografia e figurinos: Carla Caffé
Fundamentação corporal: Lu Favoreto
Desenho de luz: Cibele Forjaz
Assistência de direção (Natalia Malo e Lu Favoreto): Luciana Azevedo
Assistência de direção (Cibele Forjaz): Zia Basbaum
Assistência de iluminação: Carolina Paes Coelho Gracindo
Assistência de figurinos: Thais Dias
Assistência de cenografia: Lívia Loureiro
Estagiárias de arte: Carol Godefroid e Gabriela Sanovicz
Estagiárias de iluminação: Larissa Siqueira e Letícia Nanni Froes
Costureiras: Paula Mares e Thais Dias
Dramaturgia: LEMBRE-SE DE MIM – Vana Medeiros; DEVIR O QUE? – Lúcia Romano, Fernanda Haucke, Thaís Dias e Lu Favoreto; EMBORAR – Cláudia Schapira
Narrativa das Yamaricumã: Mapulú Kamayurá
Imagens projetadas: Manoela Rabinovitch (Manu)
Videografia (edição ao vivo e operação de imagens): Julia Ro e Lui
Música ao vivo e operação de áudio: Bel Borges
Operação de luz: Larissa Siqueira e Letícia Nanni Froes
Programação gráfica \ Danusa
Design da plataforma digital: Clara Morgenroth
Divulgação: Canal Aberto
Fotos de divulgação: Ligia Jardim e Manu Rabinovitch
Produção executiva: Corpo Rastreado – Jack dos Santos e Keila Maschio
Encenação: Estação LEMBRE-SE DE MIM – Natalia Mallo; Estação DEVIR O QUE? – Lu Favoreto; Estação EMBORAR – Cibele Forjaz
Concepção : Lúcia Romano – Barca de Dionisos
Produção: CENTRO DE EMPREENDIMENTOS ARTÍSTICOS BARCA LTDA
Parceria criativa: Cia Livre
Realização: Secretaria Municipal da Cultura – Prêmio Zé Renato
SERVIÇO
Tríptico A Morte da Estrela
De 28 de setembro a 4 de novembro, com sessões às quintas e sextas, das 19h às 22h e, aos sábados, das 18h às 21h | Tem intervalos entre cada espetáculo para entrada e saída de público | Cada narrativa dura entre 45 e 55 minutos
Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro/SP
Ingressos: gratuitos | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
Classificação indicativa: 12 anos
AÇÕES FORMATIVO-AFETIVAS
Dia 04/10, das 18h30 às 21h
Roda de conversa 1 – Criação autoral e artivismo de mulheres: políticas de produção, gestão e difusão do processo criativo
Com Janaína Leite e Luciana Lyra | Mediação de Lúcia Romano
Dia 11/10, das 18h30 às 21h
Roda de conversa 2 – Escrita da cena, dramaturgia e engajamentos identitários e pós-identitários
Com Vana Medeiros e Maria Fernanda Vomero | Mediação de Lúcia Romano
Dia 18/10, das 18h30 às 21h
Conexão crítica: formação de espectadoras-participantes no Tríptico A Morte da Estrela – quem faz é quem assiste
Encontro com espectadorxs, voltado para a análise coletiva e para a problematização crítica de aspectos temáticos, poéticos e formais do espetáculo Tríptico A Morte da Estrela, à maneira de uma “escola de espectadoras”, destacando as questões da expectação participativa, em relação ao gênero feminino.
com Poliana Pitteri e Vanessa Biffon Lopes
Dia 25/10, das 18h30 às 21h
Costura prática: modos de atuação no Tríptico A Morte da Estrela.
Experimentação dos pressupostos criativos e das poéticas do espetáculo Tríptico A Morte da Estrela, a partir dos enfoques no corpo-voz e na produção da presença.
com Thais Dias, Bel Borges e equipe do espetáculo
Dia 1º/11, das 18h30 às 21h
Costura prática: desmontagem em processo do Tríptico A Morte da Estrela.
Experimentação dos procedimentos de trabalho, com foco na constituição do coletivo e nas “tecnologias” do espetáculo Tríptico A Morte da Estrela (das textualidades, da luz, sonoplastia, dos figurinos, da cenografia etc).
com Thais Dias e equipe do espetáculo
Mais sobre o processo e as atividades do TRÍPTICO A MORTE DA ESTRELA em: https://www.amortedaestrela.com e no Instagram @amortedaestrela