Quando o assunto é queimaduras, a primeira imagem costuma ser a de um acidente doméstico: uma panela quente, uma fogueira, um fio desencapado. Mas e quando a queimadura é intencional? Quando ela é usada como arma, como forma de punição, controle ou ódio?
É sobre essa violência silenciosa que a campanha Junho Laranja 2025 quer falar. Todos os anos, no mês de junho, a Sociedade Brasileira de Queimaduras promove ações de conscientização sobre os riscos, os cuidados e a prevenção de queimaduras.
Em 2025, o foco é mais urgente do que nunca: as mulheres vítimas de agressões com fogo, substâncias corrosivas e outros agentes térmicos.
“Esses casos existem, mas muitos chegam aos hospitais como acidentes e não como o que realmente são: tentativas de desfigurar, machucar, calar uma mulher”, explica Andrezza Silvano Barreto, enfermeira da Vuelo Pharma. Segundo ela, o problema vai muito além das estatísticas: “O silêncio é uma parte cruel dessa violência. Em muitos casos, as crianças também são vítimas. A gente só consegue combater aquilo que consegue ver”.
O trauma causado por uma queimadura não é só físico. Envolve dor, vergonha, medo, e um longo processo de recuperação, especialmente para quem é vítima de violência.
“É por isso que o cuidado com a pele queimada precisa ser, também, acolhimento”, explica Andrezza. “E essa recuperação deve começar desde o primeiro atendimento, com os produtos e condutas corretas, mas também com escuta e sensibilidade”.
Como especialista da Vuelo Pharma, empresa brasileira que desenvolve tecnologias para o tratamento de feridas, Andrezza destaca o papel da saúde no enfrentamento desse tipo de violência.
“A gente não pode tratar só o ferimento. Tem que olhar para o contexto, perguntar o que aconteceu, encaminhar. A saúde é uma das primeiras portas que essas mulheres atravessam. Não podemos deixá-las passar em silêncio”.
Durante o mês de junho, a campanha Junho Laranja promoverá ações em escolas, hospitais, universidades e nas redes sociais. A ideia é ampliar a conversa, quebrar o silêncio e chamar atenção para um tipo de violência que ainda é pouco discutida, mas que deixa marcas profundas.