Muitas pessoas que têm uma rotina normal no aspecto social, estudos e trabalho podem se deparar com algumas dificuldades ao realizar uma atividade nova, como aprender um instrumento musical ou cantar no coral, apresentando os chamados distúrbios de aprendizagem. Na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, que oferece cursos livres e técnicos de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, os alunos contam com um olhar atento do corpo docente para identificar e apoiar aqueles que necessitam de condições diferenciadas de ensino. O Programa de Apoio Pedagógico e Inclusão (PAPI) existe há 14 anos na instituição, que é uma das mais antigas do País no ensino das artes.
A professora da Fundação e uma das responsáveis pelo PAPI, Lisbeth Soares, conta que o Programa leva em consideração as necessidades dos alunos para a busca de soluções no aprendizado, que podem ser desde uma nova abordagem do professor até a atuação em parceria com entidades especializadas.
“Temos a adaptação do conteúdo, objetivos, avaliação, repertório, estratégias no âmbito pedagógico. Fazemos também uma ação conjunta com as famílias, coletamos informações junto à escola e aos profissionais da saúde que atendem esse indivíduo”, explica.
Rosalina Francisco do Nascimento, aposentada e moradora de São Caetano há 45 anos, iniciou as aulas de canto na Fundação em 2015. “Desde o princípio, senti dificuldade no aprendizado, principalmente em rítmica e percepção, pois ouvia de uma forma, mas quando escrevia, eu invertia as notas. Foi quando a professora percebeu o que estava acontecendo e pediu para fazer um exame, daí me encaminhou para o Programa”, disse.
Com apoio do programa e acompanhamento com uma fonoaudióloga externa, Rosalina treinou seu ouvido para compreender melhor as aulas. “Os professores me ajudaram com muita calma a entender o que estava sendo ensinado”, contou. “O PAPI é uma oportunidade de ajudar aqueles que só precisam de alguém disposto a ensinar com mais detalhes e paciência. Hoje tenho mais segurança no que faço e incentivo outras pessoas a não desistir dos seus sonhos”, finaliza.
Aluno de violão na Fundação, Vanderlei Antonio Odor afirma que o suporte recebido por meio do PAPI trouxe melhorias no aprendizado do instrumento. Devido a uma perda auditiva no ouvido esquerdo, ele tinha dificuldades para perceber o som nesse lado do corpo. “Fiz exercícios para o ouvido e aprendi com os professores um posicionamento técnico no qual o meu lado direito capta o som e reforça a perda do lado esquerdo”, conta.
Mais confiante no aprendizado da música, Vanderlei conta que o apoio e paciência dos professores também o incentivaram em seu dia a dia no trabalho, em uma empresa de segurança privada. “Com a pandemia, tivemos que gravar palestras em vídeo e o PAPI me ajudou a ter melhor postura, tranquilidade, melhorou minha dicção. Também passei a trabalhar com Libras e a ler partituras, o que era algo impossível para mim antes. O Programa coloca as pessoas com dificuldades de aprendizado no circuito”, destaca.
Lisbeth aponta que, em muitos casos, ao conversar com esses alunos, eles relatam que tiveram alguma dificuldade no percurso escolar, ou seja, essa condição já o acompanhava. O apoio dado durante as aulas na Fundação das Artes acaba se refletindo em outros aspectos, como a autoestima dos alunos. “A pessoa que antes achava que não conseguiria, que não dava certo na música, de repente consegue perceber esse avanço”, pontua a professora da instituição.
“O PAPI é um programa inovador, porque garante o acesso de todos às práticas pedagógicas exercidas na instituição, contando sempre com o apoio dos professores, altamente especializados em suas áreas, para que os estudantes possam desenvolver suas habilidades dentro das linguagens artísticas”, destaca a diretora da Fundação das Artes, Ana Paula Demambro.