14 de novembro, Dia Mundial do Diabetes, é voltado para a conscientização sobre a importância do cuidado com a saúde. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a estimativa é de que, ao redor do mundo, sejam 415 milhões2 de pessoas afetadas pela doença e, dentre eles, 16 milhões se encontram no Brasil3. Ainda não se conhece a causa da doença4, contudo, o envelhecimento populacional e a baixa prática de hábitos saudáveis são conhecidos como fatores de risco.
O diabetes está associado a diversas complicações como a disfunção e falência dos rins, do sistema nervoso, do coração e dos vasos sanguíneos. Mas, além desses, a visão é uma das principais impactadas pela doença. Dentre as comorbidades oculares, a retinopatia diabética (RD) é a complicação microvascular mais comum do diabetes, sendo a principal causa de cegueira em adultos de 20 a 74 anos de idade5,6.
90% e 60% dos pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2, respectivamente, chegam a desenvolver a retinopatia diabética (RD) após 20 anos com a doença7. A RD é uma doença que afeta os pequenos vasos da retina e pode surgir quando o diabetes não é controlado, além de ser a principal causa de cegueira em adultos de 20 a 74 anos de idade8. Além disso, cerca de 30% de pacientes com RD desenvolvem o edema macular diabético (EMD)9, que ocorre quando existe um extravasamento de líquido para a retina.
O EMD pode trazer alteração na visão de cores, mudança da visão do contraste e até manchas ou pontos pretos na visão10.
Segundo o Dr. Arnaldo Furman Bordon, Chefe do Setor de Retina e Vítreo do Hospital Oftalmológico de Sorocaba e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo, “O aparecimento da retinopatia diabética está relacionado principalmente ao tempo de duração do diabetes e ao descontrole da glicemia. A hiperglicemia desencadeia várias alterações no organismo que, entre outros danos, levam à disfunção dos vasos da retina e, quando não tratada corretamente, leva à cegueira com diversos outros impactos na vida do paciente”. Vale a pena frisar que a prevenção também é peça chave na diminuição do impacto que a retinopatia traz. Nas fases iniciais da doença, não há praticamente sintomas e essa é a melhor hora de se fazer o diagnóstico por meio de exames precoces e regulares.
No Brasil, isso é particularmente relevante por causa do processo acelerado de envelhecimento populacional observado nos últimos anos5. Os distúrbios da retina, além da catarata, foram as principais causas de deficiência visual e cegueira em idosos participantes de estudos conduzidos no final da primeira década dos anos 2000 11,12.
Um estudo13, que contou com 146 pacientes de 17 estados do Brasil, revelou que a cegueira afetou negativamente a qualidade de vida relacionada à saúde geral e específica à visão. Metade dos pacientes apresentou algum nível de ansiedade e depressão; destes, cerca de 50% com sintomas moderados ou graves. Um terço dos indivíduos (34,2%) relatou pelo menos uma queda nos 12 meses anteriores devido aos problemas de visão; destes pacientes, 14% relataram fraturas. Visitas de emergência e hospitalização foram relatadas por cerca de 25% e 5% dos participantes, respectivamente.
Isso porque ainda não há um Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o tratamento de Retinopatia Diabética publicado, mesmo após aprovação pelo órgão competente em maio deste ano. Este cenário impede a melhora da prevenção, dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos de pessoas com diabetes e retinopatia diabética. De acordo com publicação do Ministério da Saúde em 202014,15, o tratamento do diabetes se consolida com a insulina e o monitoramento da glicemia a partir de um acompanhamento médico e nutricional. O manual reforça também a importância da ida ao oftalmologista, preferencialmente especialista em retina, ao menos uma vez por ano16.
De acordo com Bordon, o acesso ao tratamento e um PCDT estabelecido são imprescindíveis para diminuir o impacto da retinopatia diabética na qualidade de vida dos pacientes e nos cofres públicos. Além disso, ele destaca que “existe uma falsa economia em não se tratar adequadamente esses pacientes, pois os custos diretos e indiretos da perda da visão são maiores. Já é hora do diabetes ser reconhecido como um causador de comorbidades em potencial para, então, podermos proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes.
Referências
[1] Sociedade Brasileira de Diabetes. O Que é Diabetes? Disponível em: https://www.diabetes.org.br/publico/diabetes/oque-e-diabetes. Acesso em setembro de 2019.
2 SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes – 2017-2018. Editora Clannad, 2017.
3 Sociedade Brasileira de Diabetes. O Que é Diabetes? Disponível em: https://www.diabetes.org.br/publico/diabetes/oque-e-diabetes. Acesso em setembro de 2019.
4 Diabetes (diabetes mellitus): Sintomas, Causas e Tratamentos: Disponível em: http://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/diabetes. Acesso em 18 out. 2021.
5 World Journal of Diabetes. Ocular complications of diabetes mellitus. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4317321/.
6 NIH- National Eye Institute. Diabetic retinopathy – what should I know. Disponível em: https://nei.nih.gov/sites/default/files/health-pdfs/diabeticretino.pdf.
7 Diretrizes Brasileiras de Diabetes (SBD) de 2014 e 2015. Retinopatia diabética. Disponível em: http://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/diabetes-tipo-1/012-Diretrizes-SBD-Retinopatia-Diabetica-pg149.pdf. Acesso em Setembro 2019.
8 O que é retinopatia diabética? Disponível em: https://saude.novartis.com.br/doencas-da-visao/o-que-e-retinopatia-diabetica/. Acesso em 18 out. 2021.
9 Arieta CEL, Fornazari de Oliveira D, de Carvalho Lupinacci AP, et al. Cataract remains an important cause of blindness in Campinas, Brazil. Ophthalmic Epidemiol. 2009;16(1):58–63.
10 Retinopatia diabética. Disponível em: https://www.institutoderetina.com.br/home/retinopatia-diabetica2/. Acesso em 18 out. 2021.
1[1] Humanistic and Economic Burden of Blindness Associated with Retinal Disorders in a Brazilian Sample: A Cross-Sectional Study. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs12325-021-01672-3.
12 Ministério da Saúde publica atualização do PCDT para diabete. Disponível em: http://conitec.gov.br/ultimas-noticias-3/ministerio-da-saude-publica-atualizacao-do-pcdt-para-diabete. Acesso em 18 out. 2021.
13 Protocolo de Diabete Melito tipo 2 é publicado. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/11/protocolo-de-diabete-melito-tipo-2-e-publicado. Acesso em 18 out. 2021.
14 Ministério da Saúde publica atualização do PCDT para diabete. Disponível em: http://conitec.gov.br/ultimas-noticias-3/ministerio-da-saude-publica-atualizacao-do-pcdt-para-diabete. Acesso em 18 out. 2021.
15 Protocolo de Diabete Melito tipo 2 é publicado. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/11/protocolo-de-diabete-melito-tipo-2-e-publicado. Acesso em 18 out. 2021.
16 Diabetes sob controle é essencial na prevenção da retinopatia diabética (RD). Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2018/03/06/diabetes-sob-controle-e-essencial-na-prevencao-da-retinopatia-diabetica-rd/. Acesso em 18 out. 2021.