Em iniciativa inédita no Grande ABC, a Universidade Metodista de São Paulo abraçou há 10 anos o desafio de estudar o comportamento do consumidor das sete cidades da região. Essa movimentação foi batizada de PIC (Pesquisa de Intenção de Compras) e envolve as cinco principais datas comemorativas da economia: os Dias das Mães, dos Pais, dos Namorados e das Crianças, além do Natal.
São levantados fatores como pretensão de gastos por presente, pessoa a ser presenteada, forma de pagamentos, aquisições presenciais ou digitais, locais onde a compra será realizada, faixa de renda, tipo de lembrança etc. Além de oferecerem ao comércio regional referências sobre os passos do consumidor, as PICs se tornaram retrato da efervescência do ABC paulista, que nos últimos anos sofreu com os constantes abalos econômicos do Brasil sobretudo por sediar grande polo industrial.
Com a fuga das fábricas para outras regiões e as políticas econômicas geralmente desfavoráveis às indústrias, a ponta do consumidor (e consequentemente do comércio) sofreu rupturas.
Emprego dita o consumo
Professor Sandro Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico da Metodista responsável pelos levantamentos, toma como referência o Natal, principal data do comércio. Na comparação entre 2012 e 2021, a movimentação financeira de R$ 305 milhões estimada com compra de presentes retraiu cerca de 40% no ABC em dezembro do ano passado. Uma pesquisa já completa de 10 anos, a PIC do Dia das Mães deste mês de maio, aponta queda de 34% nos R$ 120 milhões de giro financeiro previsto para a data no comércio regional na comparação entre 2012 e 2022.
“O elo entre o baixo desempenho da economia e o comportamento do comércio está fortemente associado ao mercado de trabalho. Com a ampliação do desemprego, houve queda ou estagnação da massa de rendimentos e dos salários médios. Com isso, a capacidade de consumo das famílias diminuiu”, analisa professor Sandro.
Comparando os anos de 2020 com 2010 (últimos dados disponíveis), no Estado de São Paulo houve queda de 6,9% nos empregos formais, baixa de 10% na massa de salários pagos e de 4,8% no salário médio, deflacionados pelo IPCA. Na mesma comparação, no ABC, houve queda de 13% nos empregos formais, diminuição de 25% na massa de salários pagos e de 14% do salário médio.