Você já deve ter conhecido alguém que parece viver com a cabeça em outro planeta, sempre distraído e com dificuldade de realizar alguma tarefa que exija muita concentração, não é mesmo? Quando se trata de uma criança, logo pensamos em hiperatividade e, quando a situação é com um adulto, imaginamos que seja apenas falta de paciência. Mas, quando ser distraído deixa de ser apenas uma peculiaridade do indivíduo para se tornar uma doença?
Segundo a médica neurologista e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, Dra. Inara Taís de Almeida, existem duas formas de manifestação de distúrbios relacionados à falta de atenção que podem atingir tanto adultos como crianças, causando graves consequências.
“Os quadros podem ser acompanhados de hiperatividade como acontece no caso do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), ou sem, como é o caso do Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA). Em ambas as manifestações o que acontece é uma disfunção neurológica capaz de afetar o córtex pré-frontal, área responsável pela capacidade de manter a atenção e a organização, de controlar a impulsividade e de demonstrar os sentimentos. Por isso, o paciente tem dificuldades em permanecer atento em situações específicas enquanto outras pessoas não”, explica.
Esses quadros são acusados pela deficiência de Dopamina, um importante neurotransmissor. Por isso, quanto antes for diagnosticado, melhor será o prognóstico para o paciente. Nas crianças, por exemplo, a doença pode prejudicar significativamente o processo de aprendizagem e o desenvolvimento das relações interpessoais.
“As famílias precisam saber que as pessoas com esses tipos de distúrbios nascem assim, desse modo é essencial estarem atentas ao comportamento de suas crianças. É muito comum que nelas a hiperatividade acompanhe o déficit de atenção, por isso a importância do conhecimento. A escola ou os pais não devem concluir sozinhos que a criança é apenas bagunceira ou já pode ser considerada hiperativa. Um diagnóstico correto sempre requer consulta e/ou acompanhamento de um neurologista ou psiquiatra”, alertou.
Já nos adultos, o transtorno não é tão aparente porque a hiperatividade comum da fase infantil tende a diminuir ou até desaparecer ao longo dos anos. Mesmo assim, os sintomas da doença relacionados à dificuldade de concentração podem prejudicar em vários aspectos a vida adulta. Isso porque, afetam os relacionamentos profissionais e pessoais, apresentando comportamentos tais como: dificuldade em expressar sentimentos e em ouvir os outros, dificuldade de se manter parado ou sentado por longos períodos, impaciência para aguardar sua vez de falar ou ser chamado em uma fila, incapacidade de concluir tarefas e cumprir prazos, além da falta de objetivos e planos futuros.
Apesar de não existir cura, a Dra. Inara Taís de Almeida garante que é possível ter boa qualidade de vida convivendo com Distúrbio de Déficit de Atenção.
“O tratamento mais promissor é a união da terapia medicamentosa, com fórmulas que irão regular as funções do córtex pré-frontal, e da terapia psicológica, que irão trabalhar o equilíbrio das emoções. Assim, o paciente tem a ação do remédio no organismo e uma percepção melhor dos seus sentimentos. O resultado é uma mudança de comportamento e um melhor convívio interpessoal”, finalizou a especialista.