O tema sustentabilidade ganha manchetes na mídia tradicional e a cada dia mais espaço nas redes sociais. Hoje todos sabem (ou deveriam saber) da importância da recuperação e da conservação dos recursos naturais, mas ainda existem muitas dúvidas e debates abstratos sobre como fazer isso. No ponto em que estamos, não bastam ações pontuais, temporárias ou superficiais, ainda que bem-intencionadas, tampouco discursos vazios. A hora é de ir a fundo na questão, e o conceito de economia regenerativa tem muito a oferecer nesse sentido.
A ideia da economia regenerativa é simples: criar condições reais para que os ecossistemas dos quais a humanidade depende se recuperem depois de terem sido alvo de algum tipo de exploração. Seria o oposto da exploração predatória, que exaure os recursos de uma maneira permanente. Tendo a admirável resiliência da natureza como espelho, a economia regenerativa tenta encontrar maneiras de criar um círculo virtuoso de exploração-conservação-recuperação que consiga manter a roda econômica girando.
Difícil discordar desse conceito, racionalmente impecável. A questão é encontrar ferramentas eficientes para colocar em prática a economia regenerativa. Em primeiro lugar, não é possível tapar o sol com a peneira e fingir que as comunidades que vivem em áreas-chave para a exploração dos recursos naturais não existem. Pois, foi a relação positiva dessas comunidades com estes recursos que garantiu a conservação deles.
As comunidades precisam ser acolhidas, integradas ao processo, de modo a participarem tanto da exploração econômica da biodiversidade quanto do empenho para a conservação e a perenidade dos recursos.
Tome-se o caso da Amazônia, exemplo simbólico nesse contexto. Os investimentos realizados nesta região historicamente foram feitos sem considerar a realidade dos povos que nela habitam com a lógica equivocada do progresso a qualquer custo. O exemplo mais emblemático disso foi o Programa de Integração Nacional que o Brasil bancou na década de 1970. O programa focou em distribuir terras em detrimento a regulação das mesmas, o que gerou graves conflitos agrários e danos ambientais que ainda perduram.
Cabe a quem milita nessa agenda — governos, empresas, ativistas, ONGs e climatechs — estudar o problema a fundo e aproveitar o que a tecnologia já oferece para encontrar soluções dentro do conceito de economia regenerativa. Uma delas passa pelo desenvolvimento do mercado de créditos de carbono. Trata-se de uma saída eficiente que permite às empresas compensar suas emissões, garantir a conservação dos recursos naturais e gerar impacto real e positivo na vida das comunidades que tiram seu sustento da floresta e são os maiores parceiros dos projetos.
O mercado de carbono é um instrumento de implementação da economia regenerativa. Ainda no exemplo amazônico, quando uma empresa adquire créditos originados na floresta para compensar as emissões de gases de efeito estufa de sua operação — ou de parte de sua cadeia produtiva, incluindo fornecedores —, na prática ela deve estar destinando recursos essenciais para ajudar as populações locais a manter a floresta em pé. Assim fica evidente a beleza da dinâmica da economia regenerativa: ao mesmo tempo em que garante renda para as pessoas, quebra uma cultura perversa de exploração predatória e de exaustão da biodiversidade — cultura essa que, no caso da Amazônia brasileira, foi incentivada pela ideia de progresso e pela consequente onda migratória desordenada vista há cerca de 50 anos na região.
Adotar a sustentabilidade, disseminar e democratizar suas práticas não é mais uma opção, é o básico que toda empresa deve fazer. Dito isso, é dar mais um passo rumo a uma economia que além de conservar promova a regeneração de nossos ecossistemas e emita menos carbono.
* Luis Felipe Adaime é CEO e fundador da MOSS.Earth