A privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tem sido um assunto recorrente nos últimos meses. Em maio, o projeto de lei que viabiliza a ação foi aprovado na Câmara Municipal de São Paulo. A notícia trouxe preocupação, sobretudo, aos investidores. Isso porque, quando uma empresa estatal é privatizada, há uma mudança de gestão, o que interfere diretamente no desempenho das ações.
Segundo a Fundação Instituto de Administração (FIA), a privatização significa a transferência de uma instituição do setor público para o privado. Sendo assim, após ser privatizada, a Sabesp deixará de pertencer ao governo para ser propriedade de empresários, sendo gerenciada por eles.
Quem defende a privatização acredita numa melhor gestão por parte da iniciativa privada. Já os que se mostram contrários temem a precarização do trabalho, além de argumentar que o setor público é capaz de gerir o serviço.
Para os investidores, a possibilidade de privatização traz incertezas e, por isso, há a necessidade de compreender os impactos que o processo pode trazer a fim de entender quais investimentos ainda valem a pena serem realizados.
Impactos na bolsa de valores
Até o momento, a Sabesp é uma empresa mista, pois o controle é do estado, tendo 50,3% do capital social, e outra parte é negociada em ações nas bolsas de valores de São Paulo (B3) e Nova York, nos Estados Unidos.
Com a privatização, a companhia passa a ter uma oferta pública de ações em que a participação do estado será diluída. Em janeiro, o governo de São Paulo anunciou que vai manter 18% das ações da Sabesp após a finalização do processo, abrindo mão do controle absoluto.
Conforme informações divulgadas pela empresa de saneamento básico, inicialmente, será criado um cadastro para as empresas interessadas em comprar ações. Depois será aberto um prazo para o envio das propostas, não podendo ser abaixo do valor de mercado.
No ano de 2022, quando começou o processo de desestatização, a empresa registrou lucro de R$ 3,1 bilhões, sendo revertido 25% em dividendos aos acionistas, o equivalente a R$ 741,3 milhões. O restante foi destinado aos investimentos.
Os ativos da Sabesp (SBSP3) apresentaram valorização de mais de 53% desde janeiro de 2022. O preço da ação passou de R$ 53,45, no primeiro pregão de 2023, para R$ 81,83 em maio deste ano.
Como ficam as ações da Sabesp após privatização
Qualquer investidor pode ser acionista da Sabesp, já que a empresa está presente na B3. Com a privatização, o cenário muda, pois a organização passará a ter mais um grupo de acionistas, formado por controladores de gestão, que terão parcelas maiores dos ativos.
Em entrevista para a imprensa, o advogado Eduardo Schiefler destacou que, nos termos da lei, basta adquirir uma ação para se tornar um acionista e ter direito aos dividendos da empresa. Ele explicou que a negociação dos papéis da Sabesp, que atualmente é feita na B3, permanecerá da mesma forma após o processo de privatização.
O projeto prevê uma golden share (ação especial) ao governo estadual, que ainda terá o poder de veto sobre determinadas decisões, portanto, quem comprar as ações da Sabesp poderá não ter tanta autonomia.
Aos interessados em entrar nesse tipo de negócio, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) reforça que antes de incluir qualquer ativo na carteira de investimentos, é importante estudar o produto, o mercado financeiro e o cenário econômico.
No caso das ações, a Anbima aponta a necessidade de avaliar a rentabilidade, a segurança e a liquidez dos ativos, além de uma avaliação detalhada sobre a companhia, o que inclui a gestão, o setor de atuação e a projeção para os próximos anos.