A chamada “transformação do cuidado” vem mudando a rotina de médicos e pacientes no Brasil. Trata-se do fornecimento dos serviços de saúde online, um novo padrão para a Medicina no país, que tem se consolidado nos últimos anos. Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) apontou um aumento significativo relacionado ao setor. Conforme o estudo, entre 2022 e 2023, no sistema público, o agendamento de consultas online subiu de 13% para 24%, a marcação de exames passou de 11% para 19% e a visualização de prontuários eletrônicos saltou de 8% para 18%.
A pesquisa também destacou o aumento no uso da telemedicina, com um crescimento no percentual de estabelecimentos públicos que ofereceram orientação à distância (de 24% para 31%) e teleconsulta (de 15% para 21%), entre 2022 e 2023. Os sistemas eletrônicos para o registro de informações dos pacientes também mostraram aumento. Segundo os números, em 2016 era de 74% e passou para 87% em 2023. Esse progresso revelou-se especialmente marcante nas unidades públicas, onde o indicador foi de 56% para 85%, no mesmo período. No que diz respeito à inteligência artificial (IA), cerca de 3.200 estabelecimentos de saúde utilizaram a ferramenta ano passado e a maior parte foi a rede privada.
Quando falamos em telessaúde, saúde digital ou telemedicina, muitas vezes o que nos vem à cabeça é algo que substitui o atendimento presencial, porém, como explicou o professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador na área de inovação tecnológica aplicada à saúde, Dr. Paulo Henrique de Souza Bermejo, o conceito vai além, é bem mais amplo. “Na verdade, são inovações que atingem variados processos, percorrendo desde a assistência, como a educação e a promoção de saúde. A saúde digital contempla, assim, uma melhoria na cadeia desse setor como um todo, otimizando o cuidado prestado, não só para aumentar a questão do acesso, mas para agilizar a logística, quando necessário”, afirmou o professor.
Paulo acrescentou que na atualidade a transformação digital na saúde nos permite um grande avanço e que isso é excelente sobretudo no Brasil, um país de dimensões gigantescas que precisa levar também para o interior as mais diversas especialidades da medicina, encurtando distâncias, favorecendo o atendimento de qualidade e salvando vidas.
Vale ressaltar que a lei que regulamentou de forma definitiva a telessaúde – que contempla a telemedicina – foi sancionada há quase dois anos. Ela define a modalidade como a prestação de serviços de saúde a distância por meio de tecnologias da informação e comunicação, a exemplo do celular, de modo que a confidencialidade seja garantida. Além da medicina, também está previsto atendimento remoto em enfermagem, fisioterapia e psicologia, por exemplo, abarcando 14 profissões da saúde – ou seja, a telessaúde é multiprofissional.
“Quando colocamos o futuro em perspectiva, o esperado é que os cuidados sejam cada vez mais conectados e convenientes, ocorram nos mais diversos ambientes e contextos, sendo impulsionados pela tecnologia digital”, enfatizou o professor Bermejo. Contudo, há diversas barreiras ainda a serem observadas para um maior progresso do setor, conforme explanou o especialista. Algumas delas dizem respeito à melhorias na infraestrutura, conectividade e assistência especializada, assim como na formação profissional focada na ampliação das habilidades digitais.
“É necessário investir em soluções que não apenas atendam às demandas que vêm surgindo no setor, mas também antecipem os problemas do porvir, proporcionando mais educação e consequentemente mais conhecimento, assim como um cuidado de alta qualidade. Nosso desafio é oportunizar uma saúde mais inteligente e mais humana”, finalizou o professor.
Mais sobre a telessaúde no Brasil
Em 2007, o Brasil passou a fazer parte dos países que seguiram a resolução da OMS de usar a telessaúde, quando foi criado um programa para melhorar a qualidade do atendimento e da atenção básica no SUS. Mas somente com a pandemia a modalidade ganhou força, de fato. Frente a todas as restrições daquele período, o Congresso Nacional liberou temporariamente a teleconsulta e outros serviços foram digitalizados de maneira emergencial – como receitas e atestados médicos. A partir dali houve consenso de que era possível usar a iniciativa com segurança, o que abriu caminho para a proposta sancionada em dezembro de 2022. Durante a discussão no Senado, foi apontada, entre outros assuntos, a importância dela principalmente no caso de especialidades que são tradicionalmente mais difíceis de marcar uma consulta e em cidades distantes.