O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador usado para medir a inflação oficial do Brasil, fechou 2022 com uma taxa de 5,79% acumulada no ano, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na última semana.
Tal resultado revela que, pelo quarto ano seguido, o País fechou o ano com a alta dos preços acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 3,5% e teto de 5%. Embora a inflação tenha superado o teto, ela ficou abaixo dos 10,06% acumulados em 2021.
Segundo o levantamento, entre os produtos e serviços consumidos regularmente pela população, os que mais pesaram no bolso dos brasileiros no último ano foram: os alimentos e bebidas, com alta de preços de 11,64% no ano (acima dos 7,94% de 2021); os gastos com saúde e cuidados pessoais, que ficaram 11,43% mais caros; e o vestuário, que chegou a 18,02%, sendo a maior variação no mês.
Diante desses dados surge a dúvida: por que a inflação oficial é menor que o aumento percebido nas despesas do dia a dia? O Adm. André Massaro, coordenador do Grupo de Excelência em Administração Financeira – GEAF, do Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP, explica que o IPCA é apenas uma representação da inflação, ou seja, ele dá uma ideia geral do que está acontecendo com os preços em 13 áreas urbanas do Brasil e aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos.
“A percepção da inflação é diferente na realidade de cada pessoa, ou seja, os gastos comuns com alguns itens se distribuem de forma muito diferente, de acordo com a faixa de renda. Por exemplo, uma pessoa de alto poder aquisitivo acaba comprometendo relativamente pouco do seu orçamento com alimentação, que é uma despesa básica. Já alguém que ganha pouco vai ter uma despesa de alimentação gigantesca, talvez a maior categoria de despesa, porque a alimentação é item básico para a sua sobrevivência. Logo, essa pessoa vai priorizar isso e depois os demais gastos”, esclarece Massaro.
Áreas consideradas pelo IPCA como despesas
O IBGE definiu nove grupos que são considerados como despesas relacionadas ao custo de vida dos brasileiros, são eles: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação (celular, internet, etc). “Basicamente, 100% do que compõe o IPCA é relacionado ao custo de vida dos brasileiros. Ele é o índice que, por definição, tenta espelhar a realidade financeira de um indivíduo”, elucida Massaro.
Questionado sobre os produtos e serviços que tiveram variação positiva no ano passado, o administrador aponta que, nos últimos meses de 2022, o combustível foi um exemplo de variação positiva, pois o preço caiu em vez de subir, ou seja, houve uma deflação.
“Os combustíveis ajudaram, inclusive, a frear a evolução do IPCA por conta da desoneração de tributos federais sobre eles. Então houve um componente, até um pouco artificial, que fez com que a inflação de 2022 fosse menor do que a de 2021, mas ainda é uma inflação alta. E não é nem culpa do Brasil, é um processo que tá acontecendo no mundo todo”, afirma Massaro.
Inflação global
Desencadeado pela pandemia da covid-19, grande parte dos países vem sentindo os efeitos de um processo inflacionário mundial. Os EUA e a Europa, por exemplo, subiram suas taxas de juros para tentar conter a inflação. Em alguns países com economias desenvolvidas, a inflação chegou a dois dígitos. “A pandemia gerou um caos mundial, que envolveu a disrupção de cadeias produtivas. Fábricas fecharam, navios não puderam entregar as mercadorias, entre outros fatores do gênero. De modo geral, a inflação saiu de controle. E por mais que se faça esforços no sentido de aumentar a taxa de juros, que é o que vem acontecendo no mundo todo, a inflação ainda é muito forte”, comenta Massaro.
Como se não bastasse a crise ocasionada pelo coronavírus, outro fator que agrava a inflação global é a guerra na Ucrânia, que põe ainda mais pressão no aumento dos preços de produtos e serviços, que vão além da energia. “A Ucrânia é um dos grandes produtores de grãos e outros alimentos e, por estar praticamente fora do mercado, há uma pressão inflacionária gigantesca vindo de fora”, revela o administrador.
Perspectivas para 2023
Na opinião do coordenador do GEAF, em 2023 a questão da inflação global continua. No entanto, agora, há o receio de uma recessão global. “Caso a recessão global aconteça, ela pode levar ao fim esse processo inflacionário, porque inflação e recessão são duas coisas que não combinam, porém, quando isso acontece ocorre um fenômeno econômico muito raro chamado estagflação, que é a recessão mais a inflação, algo muito incomum. Se tivermos de fato uma recessão global a partir deste ano, a tendência é que mundialmente a inflação comece a enfraquecer”, sugere.