Diferentemente do que ocorre no Brasil, em que os caixas eletrônicos são operados basicamente pelos bancos e uma única operadora privada, nos Estados Unidos o mercado de ATMs é bastante competitivo e tem até empresas como a Brinks, transportadora de valores, entre os principais players.
Com a chegada da pandemia aos Estados Unidos, nos primeiros 60 dias alguns estados decretaram lockdown total, com abertura permitida apenas para negócios essenciais, como postos de gasolina, supermercados e farmácias. Como o dinheiro ainda é o principal meio de pagamento, embora os meios eletrônicos tenham crescido substancialmente nos últimos anos, os ATMs também passaram a ser considerados negócio essencial durante a pandemia.
Francisco Moura Junior, Chief Marketing Officer, Chief Commercial Officer e um dos fundadores da ATM Club, empresa especializada no gerenciamento de caixas eletrônicos nos Estados Unidos, informa que os ATMs mantidos em locais que ficaram fechados foram recolhidos e posteriormente realocados para outros estabelecimentos considerados essenciais. “Embora, durante o lockdown, as máquinas dos nossos investidores que estavam em locais com funcionamento restrito tivessem deixado de faturar, por outro lado eles não tiveram de arcar com outras despesas, já que a nossa rede não tem custo fixo mensal para quem investe”, frisa.
O executivo informa que somente em 2020 circularam mais de US$ 3 trilhões nos Estados Unidos em volume de transações. “O americano costuma usar uma frase para justificar o uso do dinheiro em espécie: ‘cash is the king’, porque saques de valores até US$ 100 são feitos principalmente nos caixas eletrônicos”, ressalta Francisco.
Ele aponta como fator preponderante para essa movimentação de dinheiro em espécie a ajuda financeira que o governo americano concedeu aos cidadãos durante a pandemia, fazendo com que os saques em ATM se tornassem a quarta opção mais utilizada para movimentar dinheiro. “Durante o ano de 2020 houve um impacto no mercado de caixas eletrônicos, mas foi pequeno em relação ao que imaginávamos frente outros negócios. Apenas 15% de nossas máquinas ficaram paradas”, relata Francisco.
Segundo o CMO da ATM Club, com a quebra de uma série de negócios por causa da pandemia e o alto endividamento da população, muitas pessoas acumularam dívidas no cartão de crédito, muitas contas bancárias foram fechadas e cresceu o uso dos chamados gift cards ou cartões de presente, cartões pré-pagos das bandeiras Visa e Mastercard que podem ser creditados com um valor que a pessoa pode usar. “Esse mercado de pré-pago acabou fomentando o volume de transações porque para ter acesso ao dinheiro, o portador precisa ir ao ATM para sacar. Isso aumentou o volume de transações principalmente dos cidadãos não bancarizados”, atesta Francisco.
O executivo ressalta que os Estados Unidos é um país essencialmente de classe média, com uma grande quantidade de imigrantes não regularizados, o que faz com que muitos deles não tenham sequer conta em banco e tenham que pagar suas despesas basicamente com dinheiro vivo.
Ele ainda aponta um hábito das pessoas que vão muito às casas de jogos de azar, “como aquelas maquininhas caça-níquel e para jogar é preciso dinheiro e geralmente dentro do local há um ATM onde a pessoa pode sacar para poder apostar”.
Segundo Francisco, no começo da pandemia havia um receio de que o vírus se transmitia nas superfícies, fazendo com que a ATM Club instalasse em suas nossas máquinas — com anuência dos investidores — uma proteção no teclado para evitar o contágio por meio do contato. Pouco tempo depois, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos emitiu um artigo informando que o vírus não se transmitia pela superfície, mas somente de pessoa para pessoa, fazendo com que o mercado em geral e especialmente o de ATM ficasse menos incomodado.