O Brasil sediará pesquisa científica que promete disponibilizar, mundialmente, tecnologia inédita para tratamento de pacientes com câncer melanoma metastático. O acordo de cooperação e desenvolvimento entre a empresa brasileira Techlife e a Universidade do Chile, representada por sua spin-off Oncobiomed, prevê transferir inovações na área de imunoterapia contra o câncer desenvolvidas na instituição acadêmica chilena.

O presidente do São Lucas Cell Therapy Group – Techlife, o médico Adelson Alves, recebeu em São Paulo Flavio Andres Salazar-Onfray, ex-ministro da Ciência e Tecnologia do Chile e atual vice-reitor da universidade, para atualizar a nova fase da parceria iniciada em 2018 e que agora avança para a etapa brasileira da pesquisa em pacientes.

“A equipe de pesquisadores da Universidade do Chile deu início aos estudos da tecnologia, batizada de TAPCells® (Tumor Antigen-Presenting Cells), há cerca de 15 anos. Desde 2018, estamos apoiando os estudos em torno da nova terapia que agora poderá ser testada na fase 3 no Brasil, após autorização da Anvisa”, informa Alves.

A TAP-Cell é aplicada de acordo com a legislação e regulamentação em vigor desde 2001 e já tratou mais de 300 pacientes no Chile. Os resultados clínicos registraram cerca de 60% de respostas imunológicas positivas, com progressão mais lenta da doença. “Em alguns casos, foi observada regressão do tumor. Algo impensável sem o uso da TAP-Cell, que tem sido vislumbrada como uma luz aos pacientes metastáticos de melanoma”, afirma o presidente do Grupo São Lucas.

Tratamento autólogo

O grande avanço no tratamento do melanoma metastático pela TAP-Cell está na descoberta de processo científico que permite o uso das células do próprio paciente para combater a doença. De acordo com o diretor Científico e Técnico do laboratório celular Techlife, Dr. Elíseo Sekiya, a partir do isolamento dos monócitos (células encontradas no sangue coletado do paciente), manipulação em laboratório permitirá a criação de imunoterapêutica.

De acordo com a equipe de pesquisadores da Techlife, a inovação da TAP-Cell está tanto na possibilidade de permitir o reconhecimento das células tumorais por parte do organismo doente, para que possam ser atacadas pelo sistema imune, quanto no uso de células do próprio paciente, evitando efeitos adversos associados à rejeição ao tratamento. O avanço tecnológico também permitiu ampliar a sobrevida dos pacientes com melanoma metastático em estágio avançado, com sobrevida acima de cinco anos em mais de 30% dos casos.

Flavio Salazar-Onfray (à esq.) e Adelson Alves (à dir) / Foto: Nário Barbosa

A parceria com a Techlife vai desenvolver no Brasil a nova tecnologia para tratamento de pacientes com melanoma metastático conforme o marco regulatório nacional para terapias avançadas. O acordo firmado com a chilena Oncobiomed trará vantagens operacionais para o estudo, que será apoiado pelo IEP Hemomed, braço de pesquisa clínica do São Lucas Cell Therapy Group, conforme informa o presidente da empresa.

“A partir da formalização do acordo de transferência tecnológica, iniciaremos o chamado estudo de reprodutibilidade que seguirá ao longo desse ano. Em seguida, sob supervisão e aprovação regulatória da Anvisa, serão realizados os testes em pacientes, o que representa a fase 3 das pesquisas clínicas para novos tratamentos”, anuncia o médico Adelson Alves.

 Epidemiologia

Dados do Global Center Observatory (Globocan) de 2018 indicavam 7,4 mil novos casos ao ano de melanoma no Brasil. Desses, 2,1 mil evoluíram ao óbito e, segundo Dr. Elíseo Sekiya, da Techlife, é natural associar as mortes a pacientes do estadio IV do tumor, quando há quadro metastático.

“Temos toda infraestrutura e capilaridade para disponibilizar aos pacientes a oportunidade de testar o novo tratamento”, informa o diretor Científico da Techlife. Ainda de acordo com o estudo da Globocan, em números absolutos, os Estados Unidos lideram a incidência da doença com mais de 71,4 mil novos casos previstos (ou 24% do total), seguidos pela Alemanha, com 31,4 mil casos (10,9% do total) e do Reino Unido, com 17,8 mil novos casos (6,2% do total).

O Brasil, com 7,4 mil citados na pesquisa, representa 2,87% da incidência global da neoplasia, estimada em quase 300 mil novos casos ao ano em todo o mundo. “Após a aprovação final da pesquisa no Brasil e o registro na Anvisa, investiremos em nova planta produtiva para atender a demanda por tratamento dos pacientes metastáticos de melanoma. Quando criamos a Techlife, vislumbramos atuar na medicina celular com foco nas pesquisas voltadas ao combate do câncer. Chegou o momento de colocarmos em prática a missão à qual nos destinamos”, diz o presidente do São Lucas Cell Therapy Group, dr. Adelson Alves.