Em entrevista direcionada a pacientes e ao público leigo, Dr. Ricardo Petraco MD PhD, cardiologista e pesquisador da Imperial College e da One Heart Clinic de Londres, responde a algumas perguntas sobre a COVID e o coração.
As pessoas com doenças cardíacas têm maior risco durante uma infecção por COVID-19?
Aprendemos muito cedo na pandemia que, infelizmente, sim, pessoas com problemas cardíacos anteriores podem apresentar maior risco durante uma infecção por COVID-19. Enquanto outras viroses, como a gripe e outros tipos de infecções respiratórias tendem a afetar mais agressivamente pessoas com doenças pulmonares, a COVID-19 é particularmente mais fatal entre pessoas com doenças cardíacas previas (como insuficiência cardíaca, angina ou historia de ataques cardíacos). Além disso, indivíduos com diabetes e aqueles que estão significativamente acima do peso, mesmo sem doenca cardíaca comprovada, tambem estao em maior risco de COVID grave, em comparação com pessoas com um perfil mais saudável, da mesma idade. Pessoas com doenças cardíacas anteriores são, portanto, consideradas um grupo vulnerável.
O coronavírus pode afetar diretamente o seu coração?
Infelizmente sim. Embora muitas outras infecções virais possam causar um tipo de inflamação no coração chamada miocardite ou pericardite, aprendemos que esse coronavírus específico (COVID-19) pode causar isso com mais frequência e de forma mais agressiva. Enquanto algumas pessoas afetadas pelo coronavírus apresentam apenas sintomas cardíacos leves (por exemplo, dores leves no peito e exames de sangue anormais), outras infelizmente desenvolvem um tipo mais agressivo de miocardite, que leva à insuficiência do músculo cardíaco, podendo ser fatal. No entanto, esse ainda é um fenômeno raro. Entre todos os individuos que que contraem o vírus, a miocardite mais agressiva atinge menos de 1% dos pacientes. Algumas pessoas também desenvolvem sintomas que podem sugerir um problema cardíaco durante a recuperação de COVID-19, como sensação de falta de ar, fadiga e dores no peito (todos os sintomas de doença cardíaca), mas na verdade o coração pode não estar envolvido. Somente por meio de uma avaliação clínica cuidadosa e de exames de imagem do coracao, nós podemos estabelecer se o coração foi ou não afetado.
Pragmaticamente, o que você pode fazer para proteger seu coração durante a pandemia?
– Seja vacinado! A vacinação é a forma mais eficaz de proteger o seu coração da COVID-19, já que a chance de doença grave praticamente desaparece com a vacinacao.
– Siga as regras gerais de higiene das mãos, distanciamento social e coberturas faciais enquanto estiver em locais públicos fechados ou em espaços externos movimentados e lotados.
– Se desenvolver sintomas de COVID-19, esteja ciente do desenvolvimento de dores no peito significativa ou falta de ar e consulte o seu médico se estiver preocupado.
-Se você já teve uma doença cardíaca prévia e seus sintomas estão estáveis, é melhor ficar em casa e protegido. No entanto, se seus sintomas estão mudando rapidamente, especialmente se você desenvolver dores no peito, em repouso e pensar que pode estar tendo um ataque cardíaco, não tenha medo de chamar uma ambulância para o tratamento de emergência. As chances de contrair COVID-19 em um ambiente hospitalar são muito menores do que os possíveis danos causados por um ataque cardíaco nao tratado. Centros de ataque cardíaco e serviços de cardiologia de emergência em todo o país estão prontos para atender os pacientes que precisam!
– Se voce já contraiu a COVID-19 (ou suspeita que sim) e continua a sentir falta de ar, dores no peito e fadiga, consulte com o seu médico. Uma avaliação mais especializada de sua função cardíaca pode ser necessária.
Palpitações: quando se preocupar?
A palpitação é um sintoma muito comum descrito por pacientes, que também usam os termos “vibração”, “ausência de batimentos cardíacos” ou até como “batedeira no peito”. A definição mais técnica de uma palpitação é a sensação do coração batendo irregularmente, fora de sincronia com os batimentos normais, ou de forma inesperadamente acelerada. Por ultimo, recentemente, o uso de dispositivos inteligentes como relógios da Apple e fitbits está aumentando a consciência das pessoas sobre seus batimentos cardíacos, mesmo na ausência de sintomas significativos.
A grande maioria das palpitações são benignas e você não precisa ver um médico para investigá-las. É comum para um coração normal bater ocasionalmente de forma irregular e isso pode acontecer centenas ou ate milhares de vezes durante o dia, e a maioria de nós nem nos damos conta disso. Estresse, falta de sono e a ingestão excessiva de álcool e bebidas com cafeína pode contribuir para o aumento das sensações de palpitações. Recentemente, muitos pacientes estão experimentando um aumento de palpitações pós-infecção COVID-19, o que não necessariamente significa um dano cardíaco causado pelo vírus.
Então, quando uma sensação de palpitação pode ser um sinal preocupante? Em primeiro lugar, se você tem problemas cardíacos prévios, como insuficiência cardíaca ou angina, palpitações persistentes podem ser um sinal de ritmos cardíacos mais perigosos e deveriam ser investigadas. Além disso, se palpitações estiverem associadas com outros sintomas, como dores no peito ou sensação de quase colapso (síncope), elas também devem ser discutidas com seu médico, principalmente se houver uma sensação de um ritmo persistentemente acelerado (taquicardia) na ausência de esforço físico (quando você não está se exercitando).
Finalmente, se houver uma sensação de batimentos cardíacos persistentemente rápidos e irregulares, especialmente se você tiver mais de 65 anos e sofrer de pressão alta, isso pode ser um sinal de fibrilação atrial, um tipo comum de arritmia no idoso que pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral (derrame). O diagnóstico de fibrilação atrial requer um teste chamado de ECG (eletrocardiograma) e você deve falar com seu médico sobre isso.
Independentemente do tipo de palpitações, se elas são persistentes (por muitos meses) e perturbam sua qualidade de vida, você deve discutir opções diagnosticas e de tratamento com seu cardiologista.