No Mês da Consciência Negra, ator e fundador da Cia dos Comuns encena peça que discute racismo e eugenia, em curta temporada presencial no CCSP; montagem ainda celebra os 140 anos de nascimento e lembra o centenário da morte do escritor Lima Barreto
Os atores Lázaro Ramos, Caco Monteiro, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade têm voz em off em cena da peça
O espetáculo “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”, com interpretação de Hilton Cobra, dramaturgia de Luiz Marfuz e direção de Onisajé (Fernanda Júlia), está de volta aos palcos em formato presencial. De 04 a 14 de novembro, o ator e fundador da Cia dos Comuns realiza curta temporada de apresentações no Centro Cultural São Paulo (CCSP), Sala Ademar Guerra (Porão), com sessões de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Na quarta-feira, dia 10, tem uma sessão extra aberta ao público, às 21h, e dia 11, às 17h, será realizada ainda a roda de conversa “Duas ou três coisas que sei sobre Lima Barreto”, com a participação do escritor e dramaturgo Allan da Rosa; do escritor, artista-educador e produtor cultural Michel Yakini-Iman; e da artista e pensadora em dança, atriz, arte-educadora, gestora cultural e cientista social Gal Martins.
Livremente inspirada na obra de Lima Barreto (1881-1922) – especialmente nos títulos “Diário íntimo” e “Cemitério dos vivos”-, “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!” reúne trechos de memórias impressas nas obras do escritor, que são entrecruzados com livre imaginação. O texto fictício tem início logo após a morte de Lima Barreto, quando eugenistas exigem a exumação de seu cadáver para uma autópsia a fim de esclarecer a seguinte questão: “como um cérebro inferior poderia ter produzido tantas obras literárias se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é das raças superiores? “. A partir desse embate, a peça mostra as v&aac ute;rias facetas da personalidade e genialidade de Lima Barreto, sua vida, família, a loucura, o alcoolismo, sua convivência com a pobreza, sua obra não reconhecida, racismo, suas lembranças e tristezas.
Escrito para comemorar os 40 anos de carreira de Hilton Cobra, o monólogo conta com trechos dos filmes “Homo sapiens 1900” e “Arquitetura da destruição”, ambos cedidos pelo cineasta sueco Peter Cohen – que mostram fortes imagens da eugenia racial e da arte censurada pelo regime hitlerista. Lázaro Ramos, Caco Monteiro, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade emprestam a voz para a leitura em off de textos de apoio à cena.
“Ora, o contexto é o contexto. O contexto só existe na cabeça de vossas indolências. O único contexto que tem aqui é o seguinte: sou preto, pobre e escritor e estou sendo julgado não pelo mérito de minhas obras, mas sim pelo fato de assim eu ter nascido” – Trecho da dramaturgia de Traga-me a Cabeça de Lima Barreto
A atualidade da obra de Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) foi jornalista, escritor e crítico agudo na época da República Velha no Brasil. Nascido na cidade do Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881, sete anos antes da abolição da escravatura, teve a vida recheada de acontecimentos polêmicos, controversos e trágicos. Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres e os arruinados. Foi criticado por escritores contemporâneos por seu estilo despojado e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas. Traduziu o Brasil por meio de obras com grande consciência crítica, pautadas na temática social, expressando injustiças como o preconceito e o racismo.
“É importante e providencial discutir eugenia e racismo a partir de Lima Barreto nestes tempos de pandemia, em que a população negra e pobre é a mais atingida”, fala Hilton Cobra. “A covid-19 nos convida a dilatar as lentes do racismo, da injustiça, do não reconhecimento, das desigualdades e da violência.”
Sobre Hilton Cobra e a Cia dos Comuns
Criada em 2001, no Rio de Janeiro, pelo ator, diretor, produtor e gestor cultural Hilton Cobra, a Cia dos Comuns é um grupo de teatro formado por atrizes e atores negros com a missão artística e política de desenvolver uma pesquisa teatral negra que possibilite um maior conhecimento da nossa cultura, além de estimular o apuro técnico e a ampliação do espaço de atuação profissional de artistas e técnicos negros no mundo das artes cênicas. Na companhia, Hilton Cobra produziu os espetáculos “A roda do mundo”, “Candaces – a reconstrução do fogo” e “Bakulo – os bem lembrados”, além de produzir e dirigir “Silêncio”. Idealizou e realizou a mostra “Olonadé – a cena n egra brasileira” e o Fórum Nacional de Performance Negra.
“Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”, que estreou em 2017 no Rio de Janeiro, teve a temporada de apresentações presenciais interrompida no início de 2020, quando a pandemia se instalou no país.
FICHA TÉCNICA | Temporada CCSP
Atuação: Hilton Cobra
Produção executiva: Corpo Rastreado | Lud Picosque
Design gráfico: Ga e Bob Siqueira
Operação de Luz: Lucas Barbalho
Operação de som e vídeo: Duda Fonseca
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto
SERVIÇO
Espetáculo “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”
De 04 a 14 de novembro de 2021
Estreia: 04 de novembro, quinta-feira, às 21h
Temporada: quinta a sábado, às 21h | domingos, às 20h
Sessão extra dia 10 de novembro, quarta, às 21h
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada para estudantes e professores)
Duração: 60 minutos | Recomendação: 14 anos | Capacidade: 50 lugares
Local: CCSP – Sala Ademar Guerra – Rua Vergueiro, n° 1000, Paraíso, São Paulo/SP
Compra na bilheteria e na página da Corpo Rastreado no Sympla
Roda de conversa “Duas ou três coisas que sei sobre Lima Barreto”
Dia 11 de novembro, quinta-feira, às 17h | Duração: 2h
Convidados: Allan da Rosa, Michel Yakini-Iman e Gal Martins
Ingressos: gratuitos | Retirada uma hora antes na bilheteria do CCSP
Allan da Rosa é angoleiro, escritor de ficção e teatro; autor dos livros “Pedagoginga, autonomia e mocambagem”, “Águas de homens pretos” e “Zumbi assombra quem?”, entre outros; e historiador, mestre e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Michel Yakini-Iman é escritor, artista-educador e produtor cultural; autor dos livros “Acorde um verso”, “Crônicas de um peladeiro” e “Amanhã quero ser vento”; e colunista da revista Ruído Manifesto e do portal Na Galera F.C.
Gal Martins é artista e pensadora em dança, atriz, arte-educadora, gestora cultural e cientista social. Em 2002 criou a Cia Sansacroma, grupo paulistano de dança contemporânea preta, e em 2016 a Zona Agbara, grupo de dança formado por mulheres negras e gordas. Criou e sistematizou a metodologia de formação em dança denominada A Dança da Indignação. Foi uma das curadoras e assessoras artísticas do programa “Dança Contemporânea”, do Sesc TV. Também atua como supervisora artístico-pedagógica do Programa Fábricas de Cultura.
Local: CCSP – Sala Ademar Guerra – Rua Vergueiro, n° 1000, Paraíso, São Paulo/SP
Capacidade: 50 lugares