Integridade Garantida é uma montagem da NPC-Artes que apresenta uma tragédia brasileira sobre a dura realidade das chacinas em nosso País, propondo reflexão e debate sobre a violência urbana e sobre a questão das pessoas em situação de rua, principalmente da população infantil e adolescente em situação de risco. Em cena, os atores Arnaldo D’Ávila, Claudiane Carvalho, Jonnata Doll, João Angello, Marcelo Andrade, Marcelo Cozza, Silvia Pecegueiro, Thauana Renardi e Zé Carlos Freyria.
No enredo, o adolescente Jair, de 16 anos, enfrenta a fúria do pai Vicente, após ter sido obrigado a esconder drogas para um traficante, livrando-o de ser preso em uma batida policial na escola. O pai, além de não acreditar no filho, queima a droga e sente-se capaz de enfrentar os marginais com sua arma de fogo. O jovem então precisa enfrentar o trauma de ver o pai e a mãe mortos, restando-lhe somente a vida nas ruas. Vivendo na rua, ele escapa de uma chacina articulada para expulsar um grupo de pessoas que dormia na calçada de um restaurante, mas é perseguido pelo policial Antônio, contratado para a missão. Na fuga ele faz uma refém, Carmen, que é obrigada a escondê-lo em sua residência, levando a um trágico desfecho onde a vítima é sempre o mais fraco.
A dramaturgia rege-se pelo princípio da ação, da decisão de um personagem que desencadeia uma tragédia em torno dele próprio. A proposta de montagem traz em seu bojo o diálogo entre a arte do teatro e os problemas sociais contemporâneos, dando continuidade a uma linha de pesquisa artística, desenvolvida nos últimos anos pela companhia, sobre discriminação racial, violência urbana, pessoas em situação de rua e chacina de menores infratores. Para abordar as questões, o diretor propõe um caminho estético dialético e provocador, tanto do ponto de vista da encenação quanto do trabalho do ator.
Na encenação – fragmentada e não realista – o diretor Alberto Santoz lança mão de músicas e dos arquétipos da vida, da morte e do burlesco para comunicar o efetivo e esclarecedor, diante do jogo contraditório dos atos individuais, nos quais a dramaturgia incide, e para enfatizar a opressão, a dominação e a luta de classes. Esses arquétipos aparecem como figuras lúdicas em breves cenas que interligam os fatos, trazendo suavidade e leitura estética em contraponto ao peso da trama. “É comum ignorarmos a realidade dos jovens que vivem nas ruas, tornando-os criaturas invisíveis aos olhos da multidão e do poder público, ignorando o fato de que esta vulnerabilidade pode ser um sinal extremo de pedido de socorro. O propósito do espetáculo é desnudar o real por meio da fantasia”, comenta ao diretor.
A cenografia de Integridade Garantida é demarcada por portas e janelas, sem paredes, dividindo o palco em três espaços de tempo onde o enredo se desenvolve: a casa da refém, a casa dos pais do adolescente e os espaços públicos. O desenho de luz (de Arnaldo D’Ávila) colabora com a demarcação dos ambientes e elucida as transições de espaço-tempo, projetando sensações e criando climas, conforme a intensidade das cenas. Os figurinos são signos representativos de classes sem considerar a realidade cotidiana, acentuando nas cores, nos ornamentos e nos objetos cênicos para reforçar a dualidade opressor/oprimido. A trilha sonora foi pesquisada por Alberto Santoz, que criou letras para as versões das canções apresentadas.
Sobre o texto, o diretor argumenta que “os discursos sobre o armamento da população como forma de proteção vêm sendo difundidos com ênfase nos últimos anos, o que nos parece o caminho para uma tragédia anunciada. Mesmo com todas as informações contrárias, observamos que grande parte da sociedade apoia ações repressivas e elege políticos que têm como bandeira a violência para coibir crimes”. Integridade Garantida faz um alerta para a ausência de políticas públicas que protejam crianças e jovens em situação de risco, oferecendo educação e oportunidades para encontrar caminhos dignos de sobrevivência. E também alerta para a necessidade de reflexão sobre o crescimento da violência urbana e o extermínio de adolescentes. “Para a Cia. NPC-Artes é urgente expor a situação limite da prática repressiva em um Brasil que se opõe à legislação penal liberal e aos princípios constitucionais, impedindo a efetividade dos direitos humanos”, finaliza Alberto Santoz.
Esse espetáculo foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, do Ministério do Turismo do Governo Federal, por meio de Edital da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, Prêmio Maria Alice Vergueiro.
FICHA TÉCNICA – Texto e direção: Alberto Santoz. Elenco: Arnaldo D’Ávila (policial Antônio), Claudiane Carvalho (Mãe e cantora cabaré), Jonnata Doll (Jair), João Angello (Vicente), Marcelo Andrade (ajudante de Antônio), Marcelo Cozza (comerciante Marcelo Ilha), Silvia Pecegueiro (Carmen), Thauana Renardi (moradora de rua) e Zé Carlos Freyria (traficante Djalma). Desenho de luz: Arnaldo D’Ávila. Cenografia, figurinos, visagismo e trilha sonora: Alberto Santoz. Produção executiva: Thauana Renardi. Direção de produção: Alberto Santoz e Silvia Pecegueiro. Fotografia e vídeo: Tarsila Coury. Arte gráfica: Erlon Junior – Viver Comunicação. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Idealização e produção: Cia NPC-Artes. Realização: Governo Federal, Ministério do Turismo, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo – Lei Aldir Blanc.
Serviço
Espetáculo: Integridade Garantida
Temporada: até 28 de novembro. Sextas e sábados, às 21h | Domingos, às 19h.
Duração: 90 min. Classificação: 10 anos. Gênero: Drama.
Ingressos: Grátis – Retirar 1h antes das sessões, mediante apresentação do comprovante de vacinação contra covid-19.
Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295 – Lapa, São Paulo/SP – Tel: (11) 3864-4513. 198 lugares