A trombose é uma doença considerada bastante comum, porém grave. Trata-se da formação de coágulos do sangue nas veias ou artérias. Estes coágulos são também conhecidos como trombos. Normalmente, a trombose venosa ocorre pela formação de coágulos nas veias internas das pernas, o que chamamos de trombose venosa profunda (TVP). Mas as complicações podem se espalhar para o restante do corpo, podendo ser fatal, como na situação em que o trombo vai parar no pulmão e causa uma embolia pulmonar (EP). O termo “tromboembolismo venoso”, referido pela sigla “TEV”, é usado para definir a presença de uma trombose venosa profunda (TVP) e/ou embolia pulmonar (EP), já que ambas decorrem da formação de um trombo nas veias. Por sua vez, as tromboses arteriais em geral se formam nos próprios órgãos, e têm consequências ainda mais dramáticas, como os infartos e os acidentes vasculares isquêmicos cerebrais (AVC), popularmente conhecidos como “derrames”. Por isso, para preservar a vida da pessoa com trombose, seja homem ou mulher, o tratamento precisa ser iniciado o quanto antes.
Para explicar o que é a trombose, os seus tipos, prevenção, diagnóstico e tratamento, em especial para indivíduos do sexo masculino, notadamente mais resistentes às visitas e exames médicos, Erich de Paula, médico hematologista, professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e membro da Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH), responde a dez questões sobre a doença.
Trombose pode ser definida como uma obstrução de um vaso sanguíneo por um coágulo. Ela pode ser arterial, quando acontece nas artérias que levam o sangue do coração aos tecidos e órgãos, ou venosa, quando ocorre nas veias que trazem o sangue dos tecidos para o coração. Na arterial, há uma maior gravidade, pois interrompe a oxigenação para o tecido, como no caso de um infarto ou derrame (AVC). Já na venosa, a obstrução está mais relacionada à obstrução do retorno venoso, ao inchaço que fica nesse local e à possibilidade de que um pedaço desse coágulo se desprenda da veia e possa causar embolia pulmonar. Isso porque antes de retornar ao coração, o sangue passa por um filtro muito importante que é o pulmão. A chegada de um trombo à circulação pulmonar pode comprometer a função de oxigenação do sangue, podendo ser fatal ao paciente. O termo tromboembolismo venoso (TEV) engloba a trombose venosa localizada na perna, que chamamos de trombose venosa profunda (TVP), e/ou a embolia pulmonar (EP).
As especialidades médicas que normalmente fazem o diagnóstico do TEV são a medicina de emergência, feita pelos profissionais emergencistas que estão nos prontos socorros, o cirurgião vascular, o cardiologista, o hematologista ou qualquer médico que atua em UTIs. De fato, a suspeita do diagnóstico de trombose é uma competência que todo médico que atende paciente deve possuir. Uma vez feita a suspeita diagnóstica de TEV, quem vai conduzir uma avaliação mais detalhada é, em geral, o cirurgião vascular ou o hematologista.
Primeiramente, faz-se a suspeita diagnóstica pela apresentação clínica, isto é, um inchaço, dor ou vermelhidão. Após, é pedido um exame de imagem, pois há necessidade de averiguar onde está o trombo, isto é, o coágulo de sangue. Se for na perna, um ultrassom; se for no pulmão (embolia pulmonar), tomografia; e se for no fígado, em geral, ultrassom ou tomografia. O diagnóstico do tromboembolismo venoso – doença que é o foco de nossa campanha do Dia Mundial da Trombose, lembrado em 13 de outubro –, pode ser geralmente feito por ultrassom no caso da TVP, ou por tomografia no caso da EP.
A trombose acomete homens e mulheres. Há, porém, uma diferença relacionada à faixa etária. Nas faixas mais jovens, as tromboses venosas são mais comuns nas mulheres, principalmente porque elas estão expostas a fatores de risco importantes que os homens não estão: o uso de hormônios estrógenos em pílulas anticoncepcionais e o ciclo de gestação e puerpério (período de seis semanas após o parto) que aumentam o risco de tromboembolismo venoso (TEV). A partir da menopausa, as mulheres deixam de ter essa exposição, motivo pelo qual acima de 50 anos de idade a frequência de tromboses venosa passa a ser mais altas em homens. Por sua vez, a incidência de trombose arterial é maior em homens durante toda a vida, com uma tendência à redução da diferença acima de 70 anos.
Dos 50 anos aos 69 anos, a trombose venosa, ou tromboembolismo venoso, passa a ser mais frequente em homens, e ainda não se sabe o porquê de acometer mais pessoas do sexo masculino nesta faixa etária. E depois dos 70 anos, os registros de trombose são parecidos entre homens e mulheres. Outro fato importante é que se uma pessoa que já teve um tromboembolismo venoso (TEV) for do sexo masculino, sua chance de recorrência (isto é, de uma nova trombose) é mais alta, e isso ocorre em todas as faixas etárias. Como já mencionado, as tromboses arteriais são mais frequentes e mais precoces em homens, como em casos de infarto e AVC. Os motivos por que o TEV é mais frequente em homens a partir dos 50 anos, bem como a maior tendência a apresentar uma nova trombose observada em homens, é desconhecido, havendo várias hipóteses ainda não confirmadas.
Os fatores de risco para homens terem tromboembolismo venoso (TEV) são o mesmo para as mulheres: imobilização prolongada em internações e viagens com mais de 4 a 6 horas, o câncer, doenças inflamatórias, cirurgias e algumas alterações genéticas. O tabagismo e a obesidade também são outros fatores que aumentam o risco de TEV. Ainda há o uso de hormônios estrógenos em geral pelas mulheres por meio de anticoncepcionais. No entanto, em mulheres trans (identificadas no nascimento como do sexo masculino e que fazem a transição para o feminino), o uso de estrógenos leva a um aumento no risco de trombose venosa. Importante destacar que, de longe, a principal causa de TEV são as internações hospitalares, em particular devido à imobilização. Nestes casos, o uso de medidas de prevenção pode reduzir muito a ocorrência destas tromboses.
Assim como mulheres, há homens que têm predisposição a ter trombose venosa. No entanto, isto ocorre de forma semelhante entre os sexos, já que as alterações genéticas que aumentam a probabilidade de ter a doença não estão relacionadas, em sua maioria, a genes localizados nos cromossomos X (mulher) ou Y (homem).
Os sintomas da trombose venosa em homens são os mesmos que nas mulheres. Se for na perna, há inchaço unilateral e assimétrico, isto é, uma das pernas fica mais volumosa que a outra. A perna também pode ficar mais quente e vermelha, podendo surgir varizes. Estes são sintomas, portanto, de trombose venosa profunda (TVP) de perna. Já os sintomas de embolia pulmonar são dor no peito, falta de ar e, em raros casos, é preciso frisar, tosse e expectoração de sangue.
Para quem nunca teve trombose venosa, e isso é válido para homens e mulheres, antes de mais nada é preciso conhecer os fatores de risco. Saber que quando se é internado em um hospital ou após longas viagens há um aumento da chance de ter a doença. Isto também ocorre em indivíduos com câncer. Conhecer estes fatores é importante, pois permite que seja estabelecido um diálogo com o seu médico sobre as melhores estratégias de prevenção, que podem incluir, por exemplo, o uso de meias elásticas durante uma viagem ou medicamentos específicos durante uma internação. O paciente pode e deve conversar com seu médico sobre este tema.
Já para quem teve trombose venosa, há diferenças importantes quanto à prevenção. Para esses indivíduos, o tratamento usual de uma trombose venosa logo após seu diagnóstico inclui em geral medicamentos anticoagulantes por três a seis meses. Após esse período, o médico avalia se deve-se seguir ou parar o tratamento. Na maioria dos casos, ele é parado, em particular quando a causa da trombose não mais existe (por exemplo, uma TVP após uma internação). Porém, essa avaliação envolve muitos fatores e alguns poucos exames laboratoriais. Importante destacar que se a pessoa for do sexo masculino, o risco de uma nova trombose venosa é maior. Então, isso também é levado em conta quando da decisão médica sobre uma eventual continuidade do tratamento com anticoagulantes.
Os tratamentos são iguais para homens e mulheres. O que muda apenas é que quando estratificamos o risco para definir a duração do tratamento, o fato de paciente ser do sexo masculino é considerado um fator de risco para uma segunda trombose. Isto não quer dizer que todo homem que apresentou um TEV deve usar anticoagulante por mais tempo, mas com certeza este é um fator de risco que levamos em conta.
Sobre o Dia Mundial da Trombose
No dia 13 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Trombose, que tem como objetivo aumentar a consciência sobre a trombose entre profissionais da saúde, pacientes e entidades do governo e do terceiro setor. No entanto, devemos estar em alerta para essa afecção todos os dias. Em âmbito global, a campanha desta efeméride é liderada pela Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia (SITH) e, no Brasil, por entidades médicas, entre as quais se destaca a Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH). Para saber mais, acesse https://www.worldthrombosisday.org/ e também o site da SBTH: https://www.sbth.org.br/.