A intenção de reindustrializar o Brasil, como planeja o novo governo federal, tem longo caminho pela frente a depender de indicadores e do humor de gestores do setor. Enquanto o PIB nacional cresceu 2,9% no ano passado, a indústria em geral avançou apenas 1,6% e a indústria de transformação – que está mais presente no Grande ABC – teve retração de 0,3%, mostra o Sistema de Contas Nacionais do IBGE.
Um indicador de que a recuperação da indústria será difícil é a combinação entre elevação dos estoques e redução-estabilidade na utilização da capacidade instalada desde setembro 2022. Segundo a Sondagem Industrial do sistema CNI-FIESP, a média do uso da capacidade instalada no ABC no ano passado foi de 67,8% e não passou de 68% em fevereiro de 2023, enquanto no Brasil baixou de 69,8% para 67% no respectivo período. Já os estoques, a partir do segundo semestre de 2022, subiram acima de 50 pontos no Brasil e para 57,1 pontos no Grande ABC, no mesmo período. Uma combinação que denota retração na atividade fabril.
“O elevado custo das matérias-primas devido a pandemia e a demanda interna insuficiente, tendo em vista a lenta recuperação da renda e do salário médio no mercado interno, estão na base da dificuldade em melhorar o ritmo”, analisa professor Sandro Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo. A Umesp realiza a cada trimestre o Boletim IndústriABC, um recorte regional da pesquisa CNI-FIESP (Confederação Nacional da Indústria-Federação das Indústrias de São Paulo).
Perspectivas em baixa
No escore CNI-FIESP, avaliação de 50 a 100 pontos significa melhora nas expectativas e na confiança da indústria, 50 representa indiferença e menos que 50 reflete piora no humor empresarial. Por esse escore, a evolução da produção no Brasil retraiu para 45,2 pontos em fevereiro de 2023 (era 54,4 pontos em agosto de 2022) e no ABC baixou para 36,4 pontos em janeiro último, contra 45,8 em agosto do ano passado.
Ainda na comparação entre setembro-2022 e janeiro-2023, entre os industriais do Grande ABC as perspectivas sobre a evolução da demanda baixaram de 64 para 55 pontos, sobre o número de empregados de 57 para 50 pontos, sobre a compra de matéria-prima de 64 para 58 pontos e sobre a evolução da exportação, de 70 para 55 pontos. A percepção sobre a saúde financeira das empresas estava na faixa de apenas 30 pontos em dezembro passado, resultado do difícil acesso ao crédito devido às altas taxas de juros.
“A produção industrial do País e paulista não retomou o nível pré-2016. O PIB da indústria do Grande ABC e a sondagem sugerem que o setor não apresentou ganhos de produção real pós-2015”, aponta o economista Sandro Maskio. Esta é a 19a edição do IndústriABC.
A íntegra da análise pode ser acessada aqui.