Foram divulgados na última semana os resultados dos testes nacionais de educação dos Estados Unidos, que mostraram que a pandemia teve efeitos de retrocesso no aprendizado das crianças americanas. No Brasil, a realidade não deve ser muito distante. De acordo com a Mestre em Educação, Georgya Correa, o ensino remoto também pode ter regredido bastante o processo de aprendizagem das crianças brasileiras, o que deve ser comprovado em breve.
De acordo com o levantamento realizado nos Estados Unidos, o desempenho em matemática e leitura de crianças de 9 anos caiu para os níveis de duas décadas atrás. Pela primeira vez desde o início da Avaliação Nacional do Progresso Educacional na década de 1970, as crianças de 9 anos perderam terreno em matemática e as pontuações em leitura caíram pela maior margem em mais de 30 anos.
Os declínios nos resultados dos testes significam que, embora muitas crianças de 9 anos possam demonstrar compreensão parcial do que estão lendo, menos podem interpretar os sentimentos de um personagem a partir do que leram. Em matemática, os alunos podem conhecer fatos aritméticos simples, mas menos podem somar frações com denominadores comuns.
Segundo Georgya, as pesquisas que “medem” a aprendizagem no Brasil ainda não foram divulgadas, mas no dia a dia de contato com os alunos é possível perceber os danos que a pandemia causou no processo de aprendizagem.
“Venho falando sobre isso há algum tempo: tivemos muitas perdas dentro do processo de aprendizagem. Muitos estudantes não conseguiram acompanhar o desenvolvimento necessário diante de cada conteúdo dente de casa, diante da pandemia”, disse.
A educadora também pontuou que “de acordo com os estudos recentes, acredita-se que para que haja a retomada do ritmo da aprendizagem de antes da pandemia, vamos precisar de, pelo menos, 10 anos. Isso é bastante preocupante. Sobretudo, no caso do Brasil, onde temos não só no ensino público uma defasagem em relação às escolas particulares, mas também de uma região para outra, já que estamos em um país com dimensões continentais”, comentou.
Para além dos problemas de aprendizagem, a profissional da educação também pontuou um outro fator importante: como está a saúde mental dos estudantes pós-pandemia?
“Um aspecto que agrava todo esse processo é que além da defasagem cognitiva em relação aos conteúdos, ainda temos a questão da saúde mental dos estudantes, que, de diversas formas e de diferentes segmentos, também desestabiliza o processo de aprendizagem.”
Georgya também disse que “se o processo de aprendizagem pós-pandemia, com pessoas habilitadas, que conhecem a fundo como as pessoas aprendem já é difícil, mas com um agravante: esses estudantes podem estar em um desequilíbrio que ainda não foi resolvido. É preciso ser cuidadoso enquanto educador dentro do ambiente escolar para que se tenha trato com os estudantes que ainda não estão bem”, finalizou.