Classificada desde 1º de janeiro deste ano como doença ocupacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a síndrome de Burnout abre caminhos para outras doenças, como a depressão e o transtorno de ansiedade, e, no ambiente corporativo, acabam perdendo não apenas as empresas, mas também seus colaboradores.
Em recente pesquisa da OMS, foi comprovado que o Brasil é o país com mais pessoas ansiosas da América Latina, o que é muito preocupante, porque a ansiedade impacta negativamente todos os aspectos da vida. Como bem sabemos, o termo workaholic, ou seja, aquele que trabalha em excesso, tem caído em desuso cada vez mais. Hoje, ao contrário, o equilíbrio em todas as esferas da vida é muito valorizado e feito é melhor que perfeito.
“Se o trabalho é sinônimo de estresse, talvez seja a hora de rever a rotina. Afinal, além das adaptações que fizemos nos últimos dois anos devido à pandemia – atuando nos modelos híbrido, presencial ou home office -, novas competências e habilidades necessitaram ser aprimoradas. Não foram apenas os líderes que precisaram aperfeiçoar a gestão à distância, mas também colaboradores, com mais autonomia, menos controle e mais autogerenciamento. Fato é que o mundo não parou – houve empresas que, inclusive, dobraram o faturamento. Há quem venda lenços e quem chore – a decisão de qual lado estar é de responsabilidade de cada um”, diz o CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search, David Braga.
Para o headhunter, que é conselheiro de administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral (FDC), além de conselheiro de administração da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais (ABRH-MG) e ChildFund Brasil, é fundamental estar atento a não criar ou manter a cultura do “tudo para ontem”, do emergencial o tempo inteiro, uma vez que esse tipo de ambiente gera estresse, fica tóxico, adoece as pessoas, e acaba criando o sentimento de incompetência ou de incapacidade.
“Vários são os motivos para você ter um burnout: lideranças abusivas, longas horas de trabalho, metas intangíveis, falta de clareza sobre os objetivos de sua posição e do plano estratégico, e até mesmo isolamento e falta de integração entre os membros da equipe. O que temos vivenciado devido à Covid-19 coloca ainda mais luz sobre os reflexos da estafa mental”, alerta Braga, lembrando que perda de entusiasmo e brilho nos olhos, apatia, baixo sentimento de realização, sonolência, irritabilidade, dificuldades de concentração e até dores musculares são alguns dos inúmeros reflexos ocasionados pelo burnout: Um adoecimento completo.
Diante desse cenário, o especialista sugere uma reflexão aos líderes e gestores: “Até que ponto as cobranças excessivas são saudáveis ou, de fato, promovem resultados? Recebemos a todo momento, uma enxurrada de informações, de inúmeras fontes, e estamos sempre conectados, por meio de smartphones, computadores ou tablets, nos sendo cobradas respostas ágeis a todo momento. É essencial e prudente pararmos e analisarmos em que ritmo estamos, para não adoecermos mental e fisicamente e, com isso, impactar nossa produtividade”, alerta.
ESG no trabalho – As organizações que querem ter um diferencial estratégico precisam refletir sobre as boas práticas de gestão de pessoas e políticas de qualidade de vida; da mesma forma nunca foi tão exigido o protagonismo dos colaboradores. Cabe a cada um buscar o autoconhecimento, fortalecer suas competências e habilidades, assumir seu protagonismo e promover as mudanças necessárias.
Ao tratar de questões de ESG – sigla do inglês que faz alusão às temáticas de governança, social e meio ambiente que permeiam a organização e seus diversos stakeholders –, temáticas como felicidade no trabalho, equilíbrio, propósito, legado e saúde mental têm ganhado cada vez mais relevância, por estarem totalmente atreladas à perenidade da companhia e sua lucratividade, com prosperidade e bem-estar dos colaboradores. Não à toa tem sido uma preocupação dos Conselhos de Administração na prática de governança corporativa.
No contexto do Burnout perdem as duas partes: as empresas que terão maior absenteísmo e péssimo clima organizacional, além de menor engajamento. Já por parte do colaborador, irá adoecer mais e consequentemente perderá performance. A que preço vale isso tudo?
“Na tentativa de aprender a controlar a ansiedade e o nervosismo, tudo parece valer a pena: leitura, meditação, técnicas de respiração e até remédio para essa finalidade, com a devida orientação médica. Deve-se lembrar que a saúde mental é tão importante quanto a física e mudanças no estilo de vida podem ser a melhor forma de prevenir e tratar a Síndrome de Burnout, bem como garantir a perenidade não apenas das organizações, mas também um ambiente de trabalho conectado com propósito para todos”, complementa.