Preocupados em garantir a segurança da população e em evitar a utilização de metodologias pouco confiáveis, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (ABRAMED), a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) uniram-se em um projeto inédito no mundo que avaliará os kits de diagnóstico para SARS-CoV-2 disponíveis no mercado brasileiro.
Utilizando a estrutura de grandes laboratórios que cotidianamente atendem a rede hospitalar nacional, esse grupo aproveitará as amostras de pacientes já diagnosticados para avaliar as diferentes tecnologias apresentadas como soluções de diagnóstico diante da pandemia.
“Todos os métodos que estão chegando ao Brasil precisam ser validados para que tenhamos segurança dos procedimentos. As indústrias fabricantes poderão submeter seus testes para nossas análises e, assim, tornaremos público o desempenho de cada uma delas”, explica Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.
Esta é a primeira vez que um projeto deste porte está sendo realizado no mundo e, com ele, o Brasil buscar evitar problemas já enfrentados por países como a Espanha que, segundo divulgado pelo El País, na última semana de março, recebeu um lote de 9 mil testes rápidos de um fabricante chinês, gerando uma grande expectativa para a nação e, na sequência, identificou que esses testes tinham sensibilidade muito baixa. Assim, não poderiam ser utilizados para detectar se as pessoas estavam ou não infectadas. Sem a confiabilidade necessária, os testes foram devolvidos à China.
A ABRAMED conta com associados, que, juntos, respondem cerca de 60% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no país. Muitos desses associados atendem a rede hospitalar brasileira. Esses laboratórios podem contribuir grandiosamente com a avaliação dos testes por terem acesso rápido às amostras de pacientes internados e com confirmação de infecção pelo novo coronavírus. Com a certeza de ter, em mãos, uma amostra de um paciente infectado, a validação segue com a segurança necessária
“Além disso temos como utilizar amostras retiradas durante todo o ciclo da infecção, ou seja, podemos validar os testes com amostras de pacientes que começaram a apresentar sintomas há cinco dias, há dez dias e em diferentes outras etapas da doença”, explica Shcolnik.
Paralelamente à contribuição para o controle da COVID-19 no Brasil, o projeto também gerará importantes dados para estudos internacionais, promovidos pelo International Diagnostic Centre (IDC) da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) e pela Aliança Latinoamericana para o Desenvolvimento do Diagnóstico in Vitro (ALADDIV) em cooperação com a União Europeia e a OMS, somarão esforços para o que é chamado de “preparedness”, ou seja, a necessidade dos países estarem preparados para lidar com pandemias tanto do ponto de vista regulatório quanto de acesso.
COMO SERÁ
Os laboratórios participantes seguirão um protocolo técnico de avaliação criado pelas sociedades científicas e baseado na análise de amostras laboratoriais conhecidas. Passarão pela avaliação todos os modelos de testes para COVID-19, ou seja, poderão ser checados testes de RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real), modelo mais utilizado para garantia de resultados confiáveis; testes rápidos imunocromatográficos; Point of Care, exames que não são realizados em laboratórios centrais como, por exemplo, os utilizados nos pronto-atendimentos; e ELISA e fluorimetria, métodos quantitativos que determinam o nível de anticorpos nas amostras e, portanto, são úteis para verificar quem está imunizado e pode circular sem risco.